Israel adicionou nesta terça-feira (17) o “retorno seguro” de seus cidadãos aos colonatos perto da fronteira com o Líbano a sua lista oficial de objetivos de guerra, enquanto relatos apontam para tentativas do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de demitir e substituir seu ministro da Defesa, Yoav Gallant.
As informações são da agência de notícias Reuters.
Conforme o gabinete de Netanyahu, o premiê determinou seu novo objetivo de guerra em um encontro de segurança realizado durante a madrugada.
Dezenas de milhares de pessoas foram deslocadas de suas cidades e aldeias em ambos os lados da fronteira devido às trocas de disparos entre o exército da ocupação israelense e o grupo libanês Hezbollah, desde outubro.
O Hezbollah — ligado a Teerã — abriu um segundo front contra Israel um dia após o início da agressão na Faixa de Gaza. As tensões escalaram desde então, alimentando receios de um conflito aberto em âmbito regional.
“O gabinete de segurança atualizou os objetivos de guerra para incluir o seguinte: Retorno dos residentes do norte, em segurança, a suas casas. Israel continuará a agir em nome da implementação deste objetivo”, destacou o comunicado.
Israel e Hezbollah afirmam preferir uma solução diplomática. O lado israelense, contudo, mantém disparos a zonas civis e ameaça invadir e ocupar terras, além de lançar bombas de fósforo branco — substância proibida que causa queimaduras graves e danos ao meio ambiente.
Israel reivindica também que o Hezbollah se afaste de sua fronteira, ao mover suas bases mais ao norte no território libanês.
O Hezbollah reconhece, entretanto, que apenas um cessar-fogo em Gaza pode evitar uma guerra aberta, à medida que Israel busca obstruir negociações — incluindo uma troca de prisioneiros — com novas demandas de controle militar.
O impasse prevalece há meses, apesar da mediação de Estados Unidos, Egito e Catar.
Logo após terminar a reunião do gabinete de segurança, analistas israelenses reportaram que Netanyahu e Gideon Saar, ex-ministro da Justiça, estariam prestes a firmar um acordo para que este substitua Gallant como ministro da Defesa.
Saar tem sido crítico às políticas de guerra do governo nos últimos meses, entretanto, no sentido de reivindicar maiores hostilidades, ao pedir “ações decisivas contra os inimigos de Israel” — incluindo o Irã.
Saar também critica um eventual acordo com o movimento palestino Hamas para cessar a ofensiva em Gaza, enquanto Gallant sugere uma trégua que inclua o retorno de colonos e soldados capturados em 7 de outubro.
Netanyahu pode ainda robustecer sua posição política ao somar a sua coalizão os quatro assentos do bloco de Saar e se tornar menos dependente de outros parceiros.
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Netanyahu busca também aprovar assim um novo orçamento estatal e uma nova lei para recrutar judeus ultraortodoxos às Forças Armadas, cujo contingente demonstra queda em meio à campanha genocida em Gaza e à crise regional.
A eventual troca de ministros, porém, expõe divergências e arrisca protestos.
Para o ex-ministro do gabinete de guerra, Benny Gantz, a medida seria uma “imprudência de segurança”: “O que Netanyahu está fazendo põe em risco nossa segurança da maneira mais clara de que posso me lembrar, sobretudo em um momento de guerra”.
Para Gantz, “vidas humanas e o futuro da nação estão em jogo”.
Ehud Barak, ex-premiê, também objetou, ao denunciar esforços de Netanyahu de manter a guerra em Gaza em benefício próprio, sob receio do colapso do governo.
“Aquele responsável pelo fracasso não poderá resolvê-lo e manter o timão em suas mãos é uma receita para um desastre nacional sem precedentes”, comentou Barak em artigo ao website do Canal 12, da televisão israelense.
Em seu papel como ministro da Defesa, Gallant tem mantido uma linha independente de Netanyahu, por exemplo, ao pedir um plano pós-guerra e descartar afirmações de “vitória total” em Gaza como “absurdas”.
Netanyahu chegou a exonerar Gallant no último ano, após este criticar o plano do governo para uma controversa reforma judicial que retiraria poderes da Suprema Corte. Protestos de massa, no entanto, forçaram o premiê a voltar atrás”.
Ambos, no entanto, compartilham declarações de ódio contra os palestinos, assim como uma solicitação do Tribunal Penal Internacional (TPI), com sede em Haia, para mandados de prisão devido ao genocídio em Gaza, com 41 mil mortos e 95 mil feridos.
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