Relembrando a Revolução de 21 de Setembro no Iêmen

Dez anos atrás, neste dia, 21 de setembro de 2014, o movimento armado Ansar Allah — os houthis — capturou Sanaa, capital do Iêmen. Liderado por Abdul Malik al-Houthi, o grupo cercou a residência oficial do presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi e o forçou a renunciar. Desde então, os houthis controlam a capital e boa parte do país.

O quê: A Revolução de Setembro

Quando: 21 de setembro de 2014

Onde: Iêmen

O que aconteceu?

O grupo armado houthi, por anos e anos, contrapôs o governo central no Iêmen. Em 2011, seus correligionários tomaram as ruas em protesto junto de outros grupos de oposição, a fim de destituir o então presidente Ali Abdullah Saleh, no contexto da Primavera Árabe.

Três anos depois, depuseram seu sucessor, Hadi, com ajuda do próprio Saleh. Os houthis conclamaram então uma revolução popular, marcada por protestos que culminaram em esforços armados para capturar a capital. Manifestantes se juntaram às fileiras houthis ao entrar em Sanaa, assim como forças leais a Saleh.

Os houthis logo tomaram edifícios públicos e privados, dando início à criação de comitês revolucionários, constituídos pela inesperada aliança que engendrou a revolução daquele 21 de setembro. Hadi fugiu a Aden, no sul do país, e eventualmente à Arábia Saudita, onde recebeu refúgio.

O que aconteceu a seguir?

Em março de 2015, em apoio a Hadi, uma coalizão liderada pela Arábia Saudita interveio no Iêmen, com o intuito de impedir avanços militares dos houthis — ligados ao Irã, então adversário regional — e restituir o presidente aliado.

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Dois anos depois, os Emirados Árabes Unidos mudaram sua abordagem junto à coalizão no Iêmen, ao adotar um paradigma político em apoio ao chamado Conselho Transicional do Sul, composto por grupos separatistas encabeçados pelo general Aidarous al-Zubaidi — aliado da monarquia emiradense.

A guerra civil que subsequentemente tomou o Iêmen transformou o país em uma arena de disputa por procuração entre potências regionais que então disputavam espaço — isto é, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos; para além de agentes ocidentais, sobretudo Estados Unidos e Grã-Bretanha, em apoio operacional à coalizão saudita.

A guerra iemenita permaneceu durante anos sob impasse, com pouquíssimas mudanças no controle territorial das partes. Contudo, causou uma das piores crises humanitárias do mundo, com até 85 mil crianças mortas de fome entre 2015 e 2021, conforme a ong Save the Children. Estima-se até quatro milhões deslocados.

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Hadi permanece exilado desde então, à medida que os houthis consolidaram seu governo de facto. Os embates, contudo, mitigaram internamente, sobretudo após a retomada de relações diplomáticas entre Irã e Arábia Saudita, sob mediação da China. Desde então, a monarquia em Riad se aproximou do círculo de influência político-econômica de Pequim — contudo, sem deixar a sombra de Washington —, à medida que a República Islâmica se manteve próxima de Moscou.

Com a deflagração do genocídio em Gaza, os houthis ganharam as manchetes, ao impor um embargo na prática a embarcações ligadas a Israel e aliados no Mar Vermelho. Diante da solidariedade efetiva dos houthis ao povo palestino, muitas corporações de comércio naval se viram forçadas a recorrer ao percurso muito mais oneroso e extenso do Cabo da Boa Esperança, ao redor do continente africano, com impacto na economia ocupante.

Em favor do comércio e em detrimento das populações nativas, porém, Estados Unidos e Grã-Bretanha — além do próprio exército de Israel, em suas ações de deflagração regional —, voltaram-se contra o Iêmen, ao realizar novos bombardeios contra infraestrutura civil naquele que é considerado o país mais pobre do Oriente Médio.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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