614 páginas identificam 34 mil vítimas do genocídio nazisionista

Familiares lamentam crianças mortas por ataque israelense ao campo de refugiados de Nuseirat no Hospital dos Mártires de Al-Aqsa, em Deir al-Balah, Gaza, em 10 de agosto de 2024 [Ashraf Amra/Agência Anadolu]

Um esforço titânico de médicos, enfermeiros e trabalhadores do governo palestino em Gaza impediu que 34,344 palestinos mortos na Faixa de Gaza fossem apenas números em uma lista sangrenta que contabiliza o genocídio sionista. Nome por nome das vítimas mortas até o dia 31 de agosto foram listados em um documento, divulgado no dia 16 de setembro pelo Ministério da Saúde palestino em Gaza.

Há outras 6.908 pessoas mortas e que não foram identificadas e 10 mil desaparecidas, o que totaliza um número de 51.252. Os trabalhadores continuam, em meio aos escombros e bombardeios no estreito território palestino cercado, a identificar e organizar minuciosamente as outras vítimas.

Dos identificados, nome por nome e idade por idade foram listados em documentos, por fim organizados em um relatório de 614 páginas. As primeiras páginas listam nomes de crianças com menos de um ano. Bebês. São, ao todo, 14 páginas que reúnem a identificação de 712 crianças. “Não existe paralelo de um número tão alto de crianças mortas em conflito armado”, diz o pesquisador Caio Porto, doutorando na Universidade de Brasília (UnB) e integrante do Centro Internacional de Estudos Árabes e Islâmicos (CEAI-UFS).

“Essa matança de crianças em escala industrial mostra que há um plano de extermínio, combinado com a matança, também maior da história, de mulheres”, comenta Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal). “Há um plano sionista colonial de colapsar a capacidade reprodutiva do povo palestino. É um extermínio a prazo”.

O plano envolve também o assassinato de mulheres grávidas, a destruição de hospitais com capacidade para realizar parto e o bloqueio da entrada de medicamentos necessários para o procedimento.

O relatório do Ministério da Saúde palestino em Gaza detalha outros 11.983 menores de 18 anos e 2.955 idosos. As últimas onze páginas do relatório listam os nomes de vítimas entre 77 e 101 anos de idade, nascidas antes mesmo da decisão da ONU de fundar o Estado de Israel.

A quantidade absurda de mortes ultrapassa o assassinato em massa cometido pelas hordas hitlerianas na Segunda Guerra Mundial. Rabah explica que Israel já matou 22 mil crianças em Gaza, se levado em conta as cerca de 4 a 5 mil desaparecidas nos escombros. É uma proporção de 9.800 crianças mortas para cada milhão de habitantes em menos de um ano. Já na Segunda Guerra Mundial, em seis anos, a proporção de crianças mortas para milhão de habitantes era 2.813, cerca de 3,5 vezes a menos que a cifra de Israel.

Esforço heroico

O esforço de contabilizar e identificar os nomes é heroico, ainda mais em meio à guerra. A destruição da infraestrutura impacta diretamente a coleta de dados, que precisa ser feita às vezes no leito de morte de pacientes ou através dos socorristas que atravessam as cidades destruídas em busca das vítimas, segundo informações publicadas em um artigo na revista The Lancet em julho de 2024.

Israel tenta constantemente desacreditar os números do genocídio em Gaza ao acusar o Ministério da Saúde palestino em Gaza de exagerar ou mesmo inventar as cifras. Além disso, “Israel atinge deliberadamente órgãos de registro, que seriam equivalentes aos cartórios. O esforço do governo é também para isso, porque os arquivos estão sendo destruídos”, diz Porto.

A contabilização, portanto, é um combate às mentiras de Israel. “Identificar uma a uma das pessoas permite saber quem foi assassinado e o que era essa pessoa. Em Gaza, temos um genocídio gigantesco de professores, médicos e alunos”, comenta Rabah. “Além do mais, o povo palestino é um povo com nome, sobrenome, com vida”. “Por fim, a identificação fortalece as futuras demandas de compensações, tanto coletivas quanto individuais”.

“No início da guerra, tivemos aquela farsa dos 40 bebês decapitados. Agora temos prova de milhares de crianças mortas na Palestina, mas isso é silenciado, e é silenciado porque o lobby bilionário pró-Israel é muito forte”, diz a diplomata Claudia Assaf, cujas opiniões não refletem às do Itamaraty. “Será que nem essas provas vão gerar um movimento global, das instâncias oficiais, para barrar Israel?”.

Parar o genocídio

Tudo isso demanda medidas que parem o genocídio. “É necessário reconhecer que o que Israel comete é genocídio, e tomar medidas práticas tomadas contra Estados que cometem esse tipo de prática”, diz Porto. Para Assaf, a lista “acaba com todas as ‘desculpas’ dadas por Israel até agora”.

“Se o mundo parou a Alemanha nazista por meios bélicos, o mesmo precisa ser feito com Israel”, defende Rabah. “O problema é que esse é um genocídio estadunidense. E quem vai parar o EUA? Precisamos de uma grande mobilização internacional de paralisação de Israel, precisamos boicotar, desinvestir e sancionar”

Em Gaza, a Resistência Nacional Palestina garante que continua com “grande capacidade” de combater o genocídio por meio das armas. “Houve mártires e sacrifícios. Mas em troca, houve um acúmulo de experiências e o recrutamento de novas gerações na resistência”, disse em entrevista o dirigente do Hamas baseado em Istambul, Osama Hamdan.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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