O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, condenou, em coletiva de imprensa nesta quarta-feira (25), na Câmara Turca de Nova York, onde está para a 79ª Assembleia Geral das Nações Unidas, a presença no plenário do premiê israelense Benjamin Netanyahu, ao descrevê-la como “vergonha”.
“Realmente é uma vergonha que um criminoso [Netanyahu], que comete um genocídio na Palestina, possa ter lugar sob o teto da ONU”, afirmou Erdogan. “Trata-se de uma traição sobre a memória de bebês e crianças, mães e pais, agentes da ONU, jornalistas e muitos outros que foram brutalmente assassinados por Israel”.
Netanyahu partiu para Nova York nas primeiras horas de quinta-feira (26), depois de adiar sua viagem por conta da escalada no Líbano. Seu discurso à Assembleia deve ocorrer sob protestos, nesta sexta-feira (27).
“A Assembleia Geral tem duas opções: tratar um assassino como tal ou ver uma situação vergonhosa manchar a história das Nações Unidas”, acrescentou.
Segundo Erdogan, a ONU se apresenta hoje em uma posição na qual é incapaz de impedir guerras, responsabilizar criminosos e proteger suas próprias equipes. Para o líder turco, a ONU pode ter perdido sua funcionalidade e se tornado uma estrutura que consente com a “lei do mais forte”.
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Israel mantém ataques intensos ao Líbano desde segunda-feira (23), deixando ao menos 677 mortos e 2.500 feridos.
Israel e Hezbollah trocam disparos na fronteira desde outubro passado, quando o exército israelense deflagrou seu genocídio em Gaza, deixando 41 mil mortos, 95 mil feridos e dois milhões de desabrigados em pouco menos de um ano.
Tensões escalaram na semana passada, após atentados terroristas atribuídos ao Mossad atingirem o Líbano, com a detonação de aparelhos como pagers e walkie-talkies.
Há receios de que as violações israelenses em Gaza se repitam em solo libanês.
Conversas na ONU
Sobre seu pronunciamento à Assembleia Geral, Erdogan ressaltou compartilhar opiniões com outras lideranças, sobre questões cruciais à paz e segurança global.
“No caso de Gaza, expressei claramente, mais uma vez, que o atual sistema internacional e suas instituições falharam em cumprir seus deveres primários”, elucidou.
Erdogan confirmou se reunir com várias lideranças em Nova York, incluindo o chanceler alemão Olaf Scholz, o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy, o premiê grego Kyriakos Mitsotakis e o secretário-geral da ONU, António Guterres.
O mandatário reafirmou também a demanda por aumento assistencial à Palestina antes do inverno, ao instar os países a ampliar a pressão sobre Israel.
Em seguida, advertiu: “Israel recorre a todos os meios possíveis para espalhar o incêndio que causou em Gaza a toda a região — como avisamos há meses. Os ataques ao Líbano são o mais recente exemplo disso. E enquanto o mundo continuar em silêncio e os países ocidentais insistirem em seu apoio militar a Israel, os massacres seguirão”.
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Erdogan citou ainda a eventual crise de refugiados, com a partida de 13.500 sírios ao seu país de origem, segundo o Ministério do Interior libanês. “Nossa região vive um prospecto cruel e terrível. Falamos do Líbano, seis milhões de pessoas. Para onde elas vão?”
Vários países já instruíram a saída de seus cidadãos do Líbano.
O Ministério de Relações Exteriores do Brasil (Itamaraty) anunciou preparativos de planos e estratégias para a repatriação.
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