O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, encara pressão crescente por sua renúncia após um relatório desta semana revelar que o chanceler americano mentiu ao Congresso sobre a obstrução israelense de ajuda humanitária a Gaza.
Blinken é acusado de crime de responsabilidade em benefício do fluxo de armas a Israel, apesar das evidências de genocídio contra os palestinos sitiados.
O relatório detalha como Blinken contradisse descobertas de seu próprio departamento e da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), ao prestar depoimento ao Congresso em maio, no qual insistiu que Israel “não proíbe ou restringe o transporte e a entrega de assistência humanitária”.
Segundo críticos, Blinken ludibriou o público em seu pronunciamento, ao infringir as leis domésticas dos Estados Unidos que proíbem o envio de armas a países que impedem ou embargam, de algum modo, assistência humanitária de origem americana.
Como um país pequeno, sem meios para fabricar armas e munições no ritmo requerido a suas guerras regulares, a capacidade de Israel de manter o genocídio em Gaza por quase um ano seria frustrada caso Blinken reconhecesse a contravenção da lei.
Apesar de propaganda de guerra voltada a atribuir alta tecnologia às campanhas militares de Israel, o exército ocupante permanece dependente de ajuda estrangeira, em particular, dos Estados Unidos, que sustentam suas operações a longo prazo.
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Nihad Awad — diretor executivo do Conselho de Relações Islâmico-Americanas (CAIR) — somou-se aos apelos pela renúncia de Blinken: “Quando um oficial mente ao Congresso no meio de um genocídio, para que seu governo continue a financiá-lo, está violando a lei e prorrogando o sofrimento de milhões de inocentes”.
Outros indicam ainda que Blinken deve passar por um processo de impeachment, dadas as prerrogativas constitucionais.
Sam Perlo-Freeman — acadêmico vinculado ao Instituto de Pesquisa de Paz Internacional de Estocolmo — reiterou que Blinken “deve renunciar ou ser sofrer impeachment”.
Stacy Gilbert, então oficial do Departamento de Estado, pediu renúncia após a entrega do relatório final ao Congresso, ao citar “evidências abundantes que comprovam que Israel é responsável por impedir ajuda”.
Segundo Gilbert, as negativas de seu ex-chefe são “absurdas e vergonhosas”.
Outras dezenas pediram renúncia do Departamento de Estado e outras agências ligadas à Casa Branca desde outubro último, ao denunciar o genocídio israelense e a cumplicidade do governo democrata do presidente Joe Biden.
Organizações de direitos humanos, ativistas e pesquisadores se juntaram aos apelos pela renúncia ou impeachment de Blinken.
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Biden e Blinken mantiveram seu “apoio incondicional” a Israel apesar de uma crise global de relações públicas sem precedentes para o Estado ocupante. Ambos são denunciados por disseminar desinformação e propaganda de guerra, apesar de oposição crescente da opinião pública, incluindo protestos que tomaram as universidades do país.
Ainda em outubro de 2023, dias após Israel deflagrar sua ofensiva em Gaza, Biden alegou ter visto um vídeo de “bebês decapitados” por militantes do movimento palestino Hamas. O vídeo, no entanto, jamais existiu.
Desde então, são 41 mil mortos, 95 mil feridos e dois milhões de desabrigados no estreito enclave palestino, sob cerco absoluto — sem comida, água ou medicamentos.
Israel age em desacato de uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas por cessar-fogo, além de medidas cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), em Haia, onde é réu por genocídio sob denúncia sul-africana deferida em janeiro.