O jornal israelense The Jerusalem Post recebeu denúncias após publicar e deletar logo em seguida um artigo que sugeria a anexação ilegal do Líbano e de outros Estados do Oriente Médio a Israel, como parte de uma chamada “terra prometida”.
“O Líbano é parte do território prometido de Israel?”, apontou o texto publicado em 25 de setembro, coincidindo com a escalada aérea ao país árabe e antecipando a subsequente invasão por terra, na manhã desta terça-feira (1º).
O momento da publicação, assim como seu conteúdo explícito, levaram críticos a indicar o material como prova das ambições expansionistas de Israel.
Segundo o cineasta e autor canadense Omar Mouallem: “Este editorial do Jerusalem Post que defende anexar partes de Líbano, Síria, Jordânia e Iraque, como parte de um ‘Grande Israel’ foi discretamente deletado, porém, por sorte, está arquivado. Vejam os objetivos de longo prazo dos poderosos extremistas de Israel”.
O texto, escrito pelo ideólogo colonial Mark Fish, insiste que a terra “prometida por Deus” aos “filhos de Israel” inclui, para além do território designado Israel — ocupada na Nakba ou “catástrofe”, de 1948, mediante limpeza étnica planejada —, partes da Faixa de Gaza e Cisjordânia, assim como Líbano, Síria, Jordânia, Iraque e mesmo Turquia.
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Como base, Fish reivindica numerosos textos religiosos. “O Torá dá diretrizes claras sobre as áreas que devemos conquistar ao tomar posse da terra”, argumentou, ao pormenorizar o conceito de “Grande Israel”, com fronteiras bíblicas, “desde o rio do Egito [Nilo ou Sinai] ao rio Eufrates”.
Após denúncias nas redes sociais, o Jerusalem Post removeu o artigo de suas páginas. No entanto, o texto continuou a circular online, ao incitar colonos extremistas.
“Deus nos disse que temos o direito sobre toda a terra que conquistarmos nas fronteiras mencionadas”, enfatizou Fish, ao propagar conceitos do sionismo religioso e sequestrar a escritura judaica para fins coloniais.
“Todo lugar onde tocar a sola de nosso pé será nosso — dos bosques e do Líbano até o rio Eufrates e mar a oeste, que será nossa fronteira”, reiterou. “A promessa do Criador coloca claramente as terras do Líbano dentro de nossas terras prometidas”.
A publicação sucede um ano de genocídio em Gaza, conforme denunciado pela África do Sul no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia. Entre as evidências, estão declarações similares de cunho fundamentalista e desumanizante contra comunidades e países árabes e palestinos, proferidos por jornalistas e políticos israelenses.
Em Gaza, são 41 mil mortos, 96 mil feridos e dois milhões de desabrigados desde outubro de 2023.
Há quinze dias, Israel intensificou ataques aéreos ao Líbano, após atentados terroristas — atribuídos ao Mossad — que explodiram pagers e walkie-talkies nas ruas do país. Desde então, são mil mortos, 2.600 feridos e um milhão de deslocados à força.
Nesta terça-feira (1º), Israel iniciou uma invasão por terra ao território libanês, seguida — horas depois — por uma resposta do Irã à escalada regional, com mísseis balísticos que chegaram a Tel Aviv e outras cidades e colonatos.
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Textos como o de Fish são condenados por disseminar não apenas propaganda de guerra, como incitar pogroms cometidos por colonos ilegais israelenses contra aldeias e cidades palestinas nas terras ocupadas da Cisjordânia e de Jerusalém.
A tese de “Grande Israel” foi proferida pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em seu discurso à Assembleia Geral das Nações Unidas em setembro de 2023, ainda antes de se deflagrar a crise em Gaza. Na sessão deste ano, Netanyahu repetiu seus mapas, desta vez com a legenda messiânica “Bênção” e “Maldição” — em alusão a Israel e seus inimigos, respectivamente.
O Jerusalem Post não comentou, tampouco se desculpou pela matéria.