O exército israelense matou ao menos nove pessoas em um novo ataque aéreo ao centro de Beirute, após sofrer suas primeiras perdas em combate direto com o grupo Hezbollah no sul do Líbano.
O ataque à capital transcorreu na madrugada desta quarta-feira (3), ao atingir um edifício residencial no distrito de Bashoura, não distante do parlamento. Catorze pessoas ficaram feridas, reportaram oficiais de saúde; quatro foram levadas a hospitais.
A Autoridade Islâmica de Saúde informou que sete de seus membros, entre os quais, dois paramédicos, foram mortos pelo ataque.
Mísseis israelenses também caíram no subúrbio de Dahiyeh, região ao sul de Beirute vista como base de apoio do Hezbollah, contudo, densamente povoada por cidadãos comuns. Um ataque a Dahiyeh, na última sexta-feira (27), resultou na morte do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, levando a guerra a uma nova escala.
A Cruz Vermelha do Líbano confirmou que quatro de seus paramédicos foram feridos pelo ataque, à medida que conduziam operações de resgate e evacuação no sul do país, além de um soldado do exército libanês morto pelas ações de Israel.
Conforme o relato, um comboio que passava pela aldeia de Taybeh, sob escolta de tropas regulares libanesas, foi atingido, apesar de coordenar esforços com a missão de paz das Nações Unidas.
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O exército israelense não comentou as mortes de profissionais de saúde, mas insistiu ter matado 15 supostos combatentes do Hezbollah em um ataque aéreo contra um prédio da prefeitura em Bint Jbeil, cidade no sul do Líbano.
O comunicado sucedeu em um dia a confirmação de que oito soldados israelenses foram mortos em combate com forças do Hezbollah em apenas seu terceiro dia de invasão por terra, na tentativa de avançar ao norte.
Dezenas de soldados israelenses se feriram. As tropas ocupantes foram forçadas a recuar em mais de uma localidade ao longo da fronteira.
Mohammad Afif, chefe de imprensa do grupo libanês, reiterou que as batalhas constituem apenas a “primeira rodada” da resistência armada e que a organização tem combatentes, armas e munição suficiente para impor uma retirada israelense.
Segundo informações da rede Al Jazeera, Israel apelou a novos ataques aéreos devido ao fracasso de suas primeiras operações por terra. Contudo, enfrentou resposta também de foguetes na região de Nabatieh.
Neste entremeio, o Hezbollah reivindicou 200 disparos contra colonatos e bases militares no norte do território designado Israel — ocupado em 1948 durante a Nakba palestina, ou “catástrofe”, com a expulsão de 800 mil nativos para criação do Estado colonial.
Israel insistiu na tese de que sua invasão ao território libanês se deve a destruir “túneis” e infraestrutura na fronteira, ao afirmar não ter planos para incursões a Beirute ou cidades maiores mais ao norte do país.
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No entanto, emitiu novas ordens de evacuação a cerca de 25 cidades no sul do Líbano, ao impor aos residentes deslocamento à força para o norte do rio Awali, de modo similar aos esforços de transferência compulsória e ocupação conduzidos em Gaza.
Israel e Hezbollah mantiveram trocas de disparos transfronteiriços em meio ao genocídio israelense na Faixa de Gaza, à véspera de seu primeiro aniversário. A situação, entretanto, escalou há uma quinzena, com ataques terroristas atribuídos ao Mossad que explodiram pagers e walkie-talkies nas ruas libanesas.
A semana seguinte foi marcada por bombardeios ao Líbano, com em torno de mil mortos, três mil feridos e um milhão de deslocados à força.
Em Gaza, desde outubro último, são 41 mil mortos e 96 mil feridos, além de dois milhões de desabrigados. Entre as fatalidades, ao menos 16.400 são crianças.
A escalada envolveu ainda o Irã, que se viu forçado a responder a Israel com sua segunda bateria de disparos diretos ao Estado ocupante em sua história — a primeira em abril, em resposta a um bombardeio israelense ao consulado iraniano em Damasco.
Israel mantém ainda ataques a Síria e Iêmen, além de Líbano e Palestina. Grupos xiitas no Iraque, para além dos houthis iemenitas — que já realizam um embargo a navios ligados a Israel no Mar Vermelho —, alertam que podem se envolver nos combates caso persista a propagação do conflito.
As hostilidades de Israel seguem, porém, apesar de apelos globais por desescalada, e em desacato de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU por cessar-fogo em Gaza, além de medidas cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), em Haia, onde é réu por genocídio sob denúncia da África do Sul deferida em janeiro.
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