O ministro de Relações Exteriores do Líbano, Abdallah Bou Habib, afirmou em entrevista à rede americana CNN que o secretário-geral do grupo Hezbollah, Hassan Nasrallah, havia consentido com uma trégua antes de ser morto por um bombardeio israelense a Beirute, na última sexta-feira (27).
Segundo Bou Habib, o acordo fora negociado, via mediadores, com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.
“Os Estados Unidos haviam consentido, por meio da declaração conjunta Biden–Macron, que pedia a implementação de um cessar-fogo de 21 dias”, reiterou. “Nos disseram que o sr. Netanyahu havia concordado. Tínhamos a aquiescência do Hezbollah. Mas sabemos o que aconteceu desde então”.
Bou Habib permaneceu em Nova York após discursar à 79ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro. Diante da escalada em seu país, concedeu entrevista exclusiva a Christine Amanpour, na qual denunciou as violações de Israel.
Na quarta-feira (25), os presidentes de Estados Unidos e França — Joe Biden e Emmanuel Macron, respectivamente — emitiram uma nota conjunta por uma trégua de três semanas entre Israel e Hezbollah, diante de apreensões de uma guerra regional.
Oficiais americanos confirmaram que ambos os lados mantiveram contato sobre o plano e alegaram “confiança” em um acordo. No dia seguinte, no entanto, Netanyahu rechaçou publicamente a proposta; dois dias depois, Nasrallah foi morto.
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Desde então, a situação se deteriorou. Na manhã de terça-feira (1º), Israel deflagrou uma invasão por terra ao Líbano; à noite, teve como resposta uma bateria de 200 mísseis do Irã que chegaram a bases militares em Tel Aviv e outras cidades israelenses.
Conforme analistas, a declaração de Bou Habib sugere como Israel alcançou Nasrallah — secretário-geral do Hezbollah havia três décadas, que sobrevivera a sucessivas tentativas de assassinato pelo Mossad e outras agências do regime ocupante.
Outro relato, publicado pela agência Reuters nesta quarta (2), notou que o Supremo Líder do Irã, aiatolá Ali Khamenei, enviou um mensageiro para alertar Nasrallah dos planos para assassiná-lo.
O arauto — Abbas Nilforoushan, da Guarda Revolucionária — foi morto no ataque.
Os comentários do ministro libanês reforçam ainda dúvidas sobre o intento israelense de sequer negociar a paz, desde que deflagrou seu genocídio em Gaza em outubro passado, com 41 mil mortos, 96 mil feridos e dois milhões de desabrigados em um ano.
Em 31 de julho, um ataque atribuído a Israel matou também Ismail Haniyeh, líder político do grupo Hamas e figura decisória nas negociações por um eventual cessar-fogo. Haniyeh estava em Teerã, capital do Irã, para a posse do presidente Masoud Pezeshkian.
Apesar de repetir reivindicações por diplomacia, a gestão Biden mantém envio de armas e recursos massivos a Israel. Diante das ameaças de uma tréplica israelense aos disparos de terça, Biden reforçou seu apoio.
Hezbollah e Tel Aviv trocam disparos transfronteiriços há quase um ano, paralelamente ao genocídio em Gaza.
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No Líbano, Israel matou ao menos 1.947 pessoas, além de 9.400 feridos neste período — destes, cerca de mil mortos e três mil feridos em apenas dez dias, desde 23 de setembro. Estima-se ainda 1.2 milhão de libaneses deslocados à força.
O exército israelense mantém ainda bombardeios esporádicos a Síria e Iêmen.
Especialistas alertam há meses que apenas um cessar-fogo em Gaza — e agora no Líbano — podem conter uma guerra regional.