O Papa Francisco condenou nesta segunda-feira, 7 de outubro de 2023, o que descreveu como a “incapacidade vergonhosa” da comunidade internacional de dar fim à guerra no Oriente Médio, após um ano de genocídio israelense em Gaza.
“Um ano atrás, o pavio do ódio se acendeu; desde então, não se apagou — mas explodiu em uma espiral de violência”, declarou o pontífice em carta aberta à comunidade católica do Oriente Médio.
“Pouquíssimas pessoas parecem se importar com o que mais precisamos e almejamos: o diálogo e a paz”, reiterou. “A violência não pode trazer paz, como a história demonstra. No entanto, anos e anos de conflito parecem não ter nos ensinado nada”.
Francisco — de 87 anos de idade — anunciou nesta segunda-feira jejuar por paz mundial, após semanas de críticas cada vez mais contumazes às agressões israelenses em Gaza e então no Líbano. Desde outubro passado, o pontífice adota uma postura antiguerra.
Em 29 de setembro, Francisco criticou os ataques aéreos israelenses contra Beirute, que resultaram na morte de Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, dois dias antes — junto de não-combatentes —, ao sugerir que as ações seriam “aquém à moralidade”.
No mesmo mês, caracterizou os avanços de Israel ao Líbano como “inaceitáveis” e pediu à comunidade internacional que fizesse todo o possível por um cessar-fogo.
Na carta desta segunda, o papa se dirigiu diretamente aos palestinos de Gaza: “Eu estou com vocês — povo de Gaza, há muito sob ataque e em grandes apuros. Vocês estão em todas as minhas preces e reflexões — diariamente”.
Estou com vocês — forçados a deixarem suas casas, a abandonar a escola e o trabalho para encontrar onde se abrigar dos bombardeios … Estou com vocês — que tanto temem olhar para o alto sob o temor das chamas que lhes chovem do céu.
Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza há um ano, como punição coletiva a uma operação do Hamas que atravessou a fronteira e capturou colonos e soldados — após 17 anos de cerco a Gaza e 75 anos de apartheid na Palestina histórica.
Israel alegou que a operação deixou 1.200 mortos — índices postos em dúvida mais tarde, com evidências de “fogo amigo” divulgadas pelo jornal israelense Haaretz e com o avanço de uma campanha de desinformação e propaganda de guerra no objetivo de justificar sua expansão militar contra toa a região.
Desde então, a campanha de Israel em Gaza deixou 41.800 mortos, 97.100 feridos e dois milhões de desabrigados, sob cerco absoluto — sem comida, água ou medicamentos —, em meio à destruição indiscriminada da infraestrutura civil.
As agressões israelenses, a partir de 23 de setembro, voltaram-se ao Líbano, com dois mil mortos e sete mil feridos até o momento — a maioria em somente uma quinzena —, além de 1.2 milhão de deslocados à força.
Após um ano, a campanha segue como ameaça regional, em desacato de uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas, por cessar-fogo em Gaza, além de ordens cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, onde Israel é réu por genocídio, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro.