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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Um ano depois: Israel explora luto e ignora fracassos, insiste na guerra

Israelenses pedem retorno dos prisioneiros de guerra mantidos em Gaza, após um ano de guerra, em frente à residência do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em Jerusalém ocupada, em 7 de outubro de 2024 [Mostafa Alkharouf/Agência Anadolu]
Israelenses pedem retorno dos prisioneiros de guerra mantidos em Gaza, após um ano de guerra, em frente à residência do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em Jerusalém ocupada, em 7 de outubro de 2024 [Mostafa Alkharouf/Agência Anadolu]

Israel está realizando nesta segunda-feira, 7 de outubro de 2024, uma série de eventos em memória do primeiro aniversário da operação do grupo Hamas que cruzou, pela primeira vez, a fronteira a seu território, capturando colonos e soldados.

Apesar das expressões de luto e dos protestos por um acordo de troca de prisioneiros, no intuito de reaver os reféns, o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu insiste em manter a guerra — sem resultados expressivos exceto a destruição do enclave e tensões sem precedentes na região.

O presidente Isaac Herzog abriu os serviços nesta segunda, com memoriais às supostas 1.139 vítimas fatais e os cerca de cem cativos ainda em Gaza.

Herzog começou o dia com um momento de silêncio às 6h29 do horário local — momento da operação — no colonato (kibutz) de Reim, que recebia o festival de música eletrônica Nova, onde 364 pessoas foram mortas — contudo, sob denúncias de “fogo amigo” após o jornal israelense Haaretz vazar gravações de comandantes de Israel.

Desde então, o festival — a pouquíssimos quilômetros da fronteira de Gaza, caracterizada como um gueto, sob 17 anos de cerco e bombardeios esporádicos — tornou-se uma das principais justificativas para o genocídio que se seguiu, com a desumanização contumaz da população civil do outro lado da fronteira.

Após tocar brevemente as notas da rave que marcaram o festival, familiares e amigos das vítimas respeitaram o silêncio, enquanto Herzog cumprimentava a multidão.

Herzog, em seguida, descreveu o incidente como uma “cicatriz na humanidade”, ao pedir, no entanto, que o mundo apoie Israel em suas ações.

“O mundo precisa perceber e entender que, para mudar o curso da história e atingir a paz [sic], tem de apoiar Israel em sua batalha contra seus inimigos”, comentou o presidente, em comunicado divulgado posteriormente.

Outros eventos e cerimônias devem tomar Israel e outros países nesta segunda — porém, em contraponto a vigílias e protestos contra o genocídio em Gaza, com ao menos 41.800 mortos e 97.100 feridos em apenas um ano, além de dois milhões de desabrigados.

Apesar de Herzog e outras líderes aderirem às manifestações de luto para fins políticos, o governo israelense vive uma crise interna sem precedentes. Dezenas — com bandeiras e retratos em mãos — voltaram a tomar a frente da residência de Netanyahu em Jerusalém ocupada, para reivindicar ações mais efetivas sobre os reféns.

“Estamos aqui para lembrá-lo de que não os esquecemos”, afirmou Shiri Albag, que exige um acordo pelo retorno da filha. “Não os deixaremos descansar até vermos todos eles de volta — cada um deles”.

Em um ano, dos cerca de 200 cativos, Israel recuperou apenas metade, sobretudo por um único acordo de troca de prisioneiros em novembro passado, além de matar dezenas em seus bombardeios indiscriminados a Gaza.

Familiares dos reféns e analistas políticos advertem que Netanyahu obstrui um acordo de troca de prisioneiros em causa própria, sob apreensão de que um cessar-fogo incorra no colapso de seu governo, fim de sua carreira política e eventual prisão por corrupção, sob seus três processos em curso no judiciário israelense.

Tel Aviv mantém também ataques e pogroms contra a Cisjordânia, além de uma escalada recente ao Líbano que deixou três mil mortos, sete mil feridos e 1.2 milhão de deslocados até então — na ampla maioria, em apenas quinze dias.

Imediatamente após 7 de outubro, protestos em massa contra o governo — então contra planos de Netanyahu para retirar poderes da justiça em favor do executivo — arrefeceram; todavia, com a procrastinação da guerra voltaram à tona.

Stefanie Dekker, correspondente da Al Jazeera radicada em Amã, reiterou que muitos em Israel sentem que Netanyahu não dá prioridade ao retorno dos reféns: “A indignação deve continuar a crescer para que o governo firme um cessar-fogo e reveja os prisioneiros — o que simplesmente não aparece sobre a mesa nas discussões”.

Neste contexto, Israel mantém bombardeios intensos a Líbano e Gaza, além de ameaças ao Irã e outros países da região.

Os excessos de Israel — assim como sua flagrante campanha de propaganda de guerra e desinformação — culminaram em uma crise sem precedentes para o Estado colonial, em termos de relações públicas e de diplomacia.

Em 26 de janeiro, Israel se tornou réu por genocídio em Gaza no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, sob denúncia sul-africana deferida pelo painel de juízes, com apoio de outros países.

Em maio, a promotoria do Tribunal Penal Internacional (TPI), também em Haia, requereu um mandado de prisão contra Netanyahu e seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, além de três lideranças do Hamas — duas delas executadas sumariamente, sem julgamento.

Há meses, parte considerável da comunidade internacional alerta que apenas um cessar-fogo em Gaza — e agora no Líbano — pode impedir a propagação da guerra a uma escala regional e, porventura, mundial.

Após toneladas de bombas serem lançadas a Gaza, a resistência mantém sua guerrilha dentre os escombros e não parece recuar. Algo similar — embora ainda organizado, com mais recursos — ocorre com o Hezbollah, no Líbano, que conseguiu limitar os avanços de Israel a seu território desde a última semana.

Nesta segunda, a um ano do genocídio, as Brigadas al-Qassam, braço armado do Hamas, lançaram uma bateria de foguetes à cidade de Tel Aviv — a primeira desde agosto —, ao indicar que Israel não obteve êxito em aniquilar o grupo.

Para Dekker, da Al Jazeera, os disparos no aniversário de 7 de outubro têm simbologia: “É claro que os foguetes foram interceptados, mas a capacidade do grupo de manter ações um ano depois reforça dúvidas sobre a estratégia de Israel. Além disso, reitera que não há solução apenas pelas vias militares — uma solução política é fundamental”.

“Israel, no entanto, ainda se recusa a negociar um cessar-fogo”, concluiu a analista.

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