Ao menos 175 profissionais de imprensa foram mortos na Faixa de Gaza sitiada no último ano — número descrito como “nível absolutamente chocante de perda em vidas” por Tim Dawson, secretário-geral adjunto da Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ).
“As perdas postas aos jornalistas de Gaza são algo que o mundo sequer vivenciou”, disse Dawson à rede Al Jazeera.
“Em Gaza, muito mais do que 10% dos jornalistas perderam suas vidas desde o início do conflito”, reiterou, ao notar que taxas de infantaria, em conflitos passados, orbitam 5% ou menos — incluindo entre os soldados americanos no Vietnã.
Segundo Dawson, as estimativas, assim como a forma com que os profissionais de mídia são mortos em Gaza, torna “bastante difícil não concluir” que tais ações, por parte de Tel Aviv, não sejam deliberadas.
“O que é mais importante agora é que o Tribunal Penal Internacional [TPI] avance em suas investigações”, destacou Dawson, em referência ao pedido da promotoria por mandados de prisão contra o premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, e seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, sob análise de uma câmara pré-julgamento desde maio.
No domingo, 6 de outubro, à véspera do primeiro aniversário do genocídio em Gaza, Israel matou o jornalista Hassan Hamad, de apenas 19 anos, em um ataque aéreo contra a sua residência no campo de refugiados de Jabaliya.
LEIA: O que seremos depois de um ano de genocídio palestino
Dias antes, o jovem repórter — que trabalhava como freelancer para Al Jazeera, Anadolu e outras redes — denunciou ameaças do exército israelense, via WhatsApp e telefonemas, para que deixasse de documentar o genocídio de seu povo.
O assassinato coincide com denúncias de que Israel ataca deliberadamente profissionais de imprensa a fim de encobrir seus crimes em Gaza.
A ong palestina Addameer, neste mesmo contexto, reportou ao menos 108 trabalhadores de imprensa detidos por Israel, no exercício de sua função, em Gaza e na Cisjordânia. Ao menos 58 continuam em custódia, incluindo seis mulheres e 22 jornalistas de Gaza, cuja identidade e paradeiro permanecem vagos.
Segundo o relato, dezesseis destes continuam encarcerados sob detenção administrativa — herança da colonização britânica sob a qual Israel aprisiona palestinos sem julgamento ou sequer acusação, por períodos indeterminados.
Estima-se que mais de nove mil ordens de detenção administrativa foram emitidas por Tel Aviv nos territórios ocupados desde outubro último, entre novos mandados e renovações, incluindo contra crianças e mulheres.
Em Gaza, os ataques indiscriminados de Israel deixaram aproximadamente 42 mil mortos e 97 mil feridos, além de dois milhões de desabrigados sob cerco absoluto — sem água, comida ou medicamentos.
LEIA: Palavras matam: por que Israel escapa impune de assassinato em Gaza e no Líbano
Na Cisjordânia ocupada, pogroms coloniais e incursões militares israelenses deixaram ao menos 700 mortos, 2.700 feridos e cerca de dez mil presos políticos, em uma campanha de prisões em massa que dobrou a população carcerária palestina.
As ações de Israel seguem em desacato a uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas e medidas cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, onde é réu por genocídio sob denúncia sul-africana deferida em janeiro.