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Eleições municipais de 2024: o desempenho de políticos com origem árabe

Publicidade do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para as eleições municipais no Brasil de 2024 [TSE/Divulgação]

Após o primeiro turno de 6 de outubro nas eleições municipais no Brasil, o país mais uma vez constatou duas realidades contrastantes. Uma é a grande presença de políticos profissionais com ascendência árabe, ou de aliados de líderes patrícios, em todos os campos do espectro ideológico. Outra — que é uma constante em toda América Latina — é a triste situação de que o fato de termos operadores partidários de famílias “brimas” não garante a lealdade para com a causa palestina. Tampouco é raro uma aliança absurda destas lideranças no campo fisiológico — que aplicam medidas neoliberais, como a terceirização de contratos municipais — com apoiadores explícitos do sionismo.

Vejamos um balanço inicial do que aconteceu e o que está em jogo no país.

Gilberto Kassab, o maior articulador político do Brasil: Rio e São Paulo 

O atual secretário de relações institucionais do governo neofascista de Tarcísio de Freitas — filiado ao Republicanos, partido comandado pelo sionista empresarial Edir Macedo — comanda o chamado Partido Social Democrático (PSD). O PSD tem a mesma sigla da legenda das raposas de Juscelino Kubitschek — ex-presidente de 1955 a 1960 e um envergonhado apoiador do golpe de 1º de abril de 1964 — e opera neste mesmo sentido. Kassab foi ministro de Ciência e Tecnologia de Michel Temer — outro árabe-libanês que jamais se comprometeu com as causas dos povos árabes — e criou sua legenda para operar como um partido tampão entre o antigo Partido da Frente Liberal (PFL) — então DEM e hoje União Brasil, devido a fusão com o Partido Social Liberal (PSL) — e a base dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

De fato, atualmente, Gilberto Kassab é o político mais poderoso do Brasil.

No Rio de Janeiro, o prefeito Eduardo Paes emplacou uma vitória contundente no primeiro turno, indo para seu quarto mandato. A derrota do bolsonarismo, cujo candidato, Delegado Ramagem — deputado federal, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) e comandante de um esquema de espionagem com apoio dos sistemas israelenses —, foi certamente importante. Ao mesmo tempo, no perfil do PSD, Paes trouxe consigo o pastor e deputado federal extrema-direita Otoni de Paula, do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) — contumaz apoiador dos genocidas de Tel Aviv.

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Em janeiro passado, numa lembrança do crime da Shoah — o Holocausto dos judeus europeus na Segunda Guerra Mundial —, o pastor e ex-bolsonarista afirmou que: “Israel sempre fez parte da minha vida. Tanto nas minhas orações, como solicita a Bíblia, quanto dentro da minha casa: meu filho leva o nome da nação santa [sic]. Que todos nós oremos pela paz em Israel!”.

O PSD é um partido com várias possibilidades. Em Belo Horizonte, na capital mineira, o atual prefeito (patrício) e economista, Fuad Noman, disputará o segundo turno contra Bruno Engler — deputado estadual pelo Partido Liberal (PL) de Minas. O candidato bolsonarista é aliado do deputado federal neofascista Nikolas Ferreira e ferrenho apoiador do genocídio contra o povo palestino, alegando o “direito de defesa do Estado sionista”. Contraditoriamente, seu líder político (antes no PSD) era Alexandre Kalil, ex-prefeito de BH e dirigente do Atlético Mineiro, que apoiou o apresentador de televisão Mauro Tramonte, ambos concorrendo pelos Republicanos, legenda vinculada à Igreja Universal. Vale sempre reforçar que esta empresa é também comandada por Edir Macedo, o pioneiro na imitação dos ritos judaicos em sua liturgia baseada no Velho Testamento. No segundo turno de Belo Horizonte, o PSD vai ser a opção do governo Lula e, caso derrote os bolsonaristas, em última análise, será a derrota sobre os aliados estratégicos do sionismo.

Segundo turno em São Paulo 

O maior destaque no Brasil é a disputa pelo terceiro maior orçamento nacional, a prefeitura de São Paulo. Ainda que o apoio de Lula esteja tímido, teremos o embate entre extrema-direita e direita contra a centro-esquerda. O candidato do presidente Lula, Guilherme Boulos — deputado federal de origem árabe-libanesa, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), com apoio do Partido dos Trabalhadores (PT) — enfrentará o atual prefeito Ricardo Nunes, da coligação MDB/Republicanos, que conta com a simpatia e o suporte da liderança sionista na cidade mais rica da América Latina.

Boulos, mesmo se pronunciando timidamente nesta campanha em relação à libertação da Palestina, chegou a declarar, em 2018, enquanto candidato a presidente, que: “O antissemitismo é uma aberração. O apoio a luta do povo palestino por liberdade, contra a ocupação militar israelense, em nenhum momento pode se associar a essa ideologia do atraso”. Ainda assim, o impacto do lobby sionista o fez perder apoiadores e o posiciona no campo árabe mesmo que o candidato não fale abertamente.

Grandes cidades com prefeitos de origem árabe

Dos 103 municípios que têm previsão segundo turno, por contarem com mais de 200 mil eleitores, 50 decidiram seu pleito no primeiro turno. Deste total, observamos três reeleições de operadores políticos com origem árabe.

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Dário Saadi (Republicanos) ganhou no primeiro turno em Campinas, reeleito mesmo estando sub judice. Infelizmente, o “brimo” campineiro, à frente do maior polo de produção científica do país, não tem compromisso com a causa árabe-palestina e é filiado ao partido do fariseu Macedo.

Em contrapartida, a ex-reitora e ex-deputada federal pelo PT de Minas Gerais, Margarida Salomão, foi reeleita para a prefeitura do importante município de Juiz de Fora, na chamada zona da mata mineira. A professora tem origem patrícia por parte de pai e pode ser uma aliada no tema que nos agrega.

O poder de Kassab aumentou também no Nordeste. Eduardo Salim Braide, advogado filiado ao PSD, saiu vitorioso no primeiro turno da capital maranhense, São Luís.

Segundo turno nas garras do sionismo

Em algumas capitais, apesar de não termos candidatos de origem árabe, os aliados do inimigo estratégico têm chances concretas de vitória. Por exemplo: em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, onde o atual prefeito Sebastião Melo (MDB), apoiado pelos sionistas, vai ao segundo turno contra Maria do Rosário (PT); em Fortaleza, o segundo turno será entre André Fernandes (PL), deputado federal de confiança de Bolsonaro, e Evandro Leitão (PT); em Belém do Pará, o candidato Igor Normando, apoiado pelo governador Helder Zahluth Barbalho (MDB), de origem patrícia por parte de mãe, enfrentará o delegado bolsonarista Éder Mauro (PL), deputado federal, apoiado pelos sionistas; já em Cuiabá, no Mato Grosso, o bolsonarista (e muito sionista) Abílio Brunini (PL), deputado federal, enfrentará o candidato Lúdio Cabral (PT).

É importante observar que a penetração e o poder político de operadores com origem árabe é um potencial em si. Quase sempre a posição na pirâmide social brasileira e o fato de sermos “brancos” influenciam mais do que a lealdade pela luta da libertação da Palestina. Não é um triste privilégio brasileiro, pois o mesmo se dá em todos os países da América Latina. Ainda assim, a potência pode se transformar em poder caso uma agenda política seja apresentada para essas pessoas. No campo “progressista”, o debate avançou um pouco mais — ou é menos tímido —, mas não se restringe à centro-esquerda.

A penetração sionista no Estado brasileiro e o bloqueio midiático obediente ao aparato de propaganda que vem do Departamento de Estado dos Estados Unidos — financiador do apartheid sionista — são evidentes. Contudo, em contrapartida, o potencial de mais de uma dezena e meia de árabes descendentes pode criar uma camada crítica e cada vez mais organizada para influenciar a frágil democracia brasileira no alinhamento pela libertação da Palestina assim como de todo o Bilad al-Sham.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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