Gaza abriga hoje a maior proporção de crianças amputadas na história moderna, advertiu nesta quarta-feira (9) Lisa Doughten, diretora da Divisão de Parcerias e Financiamento do Escritório das Nações Unidas para Assuntos Humanitários (OCHA), a sessão do Conselho de Segurança.
Doughten reiterou o impacto do trauma e da guerra a mulheres e crianças, ao alertar que, em média, dez crianças perdem uma ou ambas as pernas todos os dias, sob a campanha genocida de Israel que já corre há um ano.
“Gaza é lar da maior proporção de crianças amputadas na era moderna”, reafirmou. “Não podemos alegar ignorância sobre o que está acontecendo — tampouco podemos nos dar ao luxo de lavar as mãos”.
Doughten relatou também que as mulheres de Gaza são três vezes mais sujeitas a aborto espontâneo ou falecimento durante o parto.
Seu relatório reforçou ainda apelos ao Conselho de Segurança e aos países-membros das Nações Unidas para que ajam contra a crise, ao preconizar: “Todas essas atrocidades têm de acabar”.
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Doughten advertiu que os ataques sistemáticos e permanentes de Israel às instalações e serviços de saúde privam dois milhões de pessoas de direitos básicos, incluindo mais de 50 mil mulheres grávidas sem cuidados obstetrícios.
Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza há um ano, com ao menos 42 mil mortos e 97 mil feridos, além de dois milhões de desabrigados sob cerco absoluto — sem comida, água, medicamentos ou combustível.
Entre as fatalidades, ao menos 16.700 são crianças. Segundo estimativas do Ministério da Saúde em Gaza, outras quatro mil crianças perderam ao menos um membro.
Estima-se que dois terços dos hospitais do enclave estejam inoperantes; o restante, com cuidados limitados devido a sucessivas incursões militares, incluindo destruição de alas de cirurgia, terapia intensiva, hemodiálise, tratamento de câncer e outras.
Neste contexto de crise extrema, muitas das cirurgias de amputação ocorrem no chão de hospitais, sem sequer anestesia.
As ações israelenses são crime de guerra, punição coletiva e genocídio, como investigado pelo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, sob denúncia da África do Sul deferida em janeiro.
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