Após 32 anos de serviço, Craig Mokhiber, então diretor do escritório de Nova York do Alto-Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos, renunciou de seu cargo ainda em novembro de 2023, pela maneira como o órgão internacional respondeu à atual crise na Palestina história. Em sua carta de demissão, Mokhiber descreve a situação em Gaza como “um caso clássico de genocídio”, ao condenar o fracasso de governos e instituições internacionais em reagir. Um ano depois, defende cada uma de suas palavras.
“Eu deixei as Nações Unidas precisamente por causa das atrocidades sistematicamente perpetradas na Palestina — na Cisjordânia e em Gaza — e por conta daquilo que vi como fracasso das instituições internacionais em tratar com a seriedade que exige este tipo de horror histórico”, disse Mokhiber em conversa com o MEMO.
Sua renúncia trouxe à luz preocupações crescentes sobre a capacidade do establishment global pós-Segunda Guerra Mundial, incluindo a ONU, supostamente criada para impedir atrocidades, em responder efetivamente a crises geopolíticas, como na Palestina. Como observa Mokhiber, tais instituições falharam em tomar as medidas necessárias para parar a violência em curso. Mokhiber argumenta ainda que a comunidade internacional — com destaque para países como Estados Unidos, Grã-Bretanha e Alemanha — proporcionou a Israel uma anuência tácita em seguir com sua campanha de extermínio e devastação. O veterano da ONU reafirma ainda que a violência sem limites de Israel busca abertamente destruir a sociedade palestina.
Mokhibar lista os crimes cometidos por Israel ao longo do último ano: “O expurgo de civis palestinos, o assassinato de dezenas de milhares, a tortura e as execuções sumárias … o assassinato de crianças, jornalistas, trabalhadores humanitários e profissionais de saúde … Israel certamente não tem limites em suas atrocidades”.
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Apesar de encarar denúncias de genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), além de requerimentos de prisão pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) contra o seu primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, Tel Aviv continua a conduzir agressões contra toda a região. Mokhiber enfatiza que a inação global danificou gravemente os próprios alicerces do direito internacional e a credibilidade de instituições como a ONU. “As pessoas estão perdendo as esperanças e essas instituições, portanto, estão perdendo seu verniz de legitimidade”, comentou o advogado em nossa conversa, ao apontar que tais órgãos não podem sobreviver sem a confiança do público.
Para além dos fracassos globais, aqueles que ousam denunciar as injustiças são sujeitos a uma campanha de intimidação, assédio e calúnia. Mokhiber, de sua parte, descreve os desafios enfrentados por todos que criticam as ações de Israel, sem poupar nem mesmo instituições consagradas como as Nações Unidas e as cortes em Haia. “Se você criticar Israel, certamente sofrerá perseguição. É essa a realidade”, destacou Mokhiber, ao indicar um clima generalizado de medo nessas organizações.
Diante de tamanha repressão, Mokhiber, no entanto, enxerga um vislumbre de esperança, em particular nos movimentos de base da sociedade civil. Para o advogado, aposentado de seu cargo nas Nações Unidas, a ascensão de vozes corajosas, em protesto — seja nos campi universitários ou nas principais capitais do mundo —, desafia os esforços longevos de difamação e perseguição política, além de brutalidade policial e prisão contra aqueles que denunciam a ocupação, o genocídio e o apartheid. “O mais notável de tudo, contudo, é precisamente a coragem das pessoas na sociedade civil, que se mobilizam contra isso apesar da repressão”.
Entretanto, um ano depois de Israel deflagrar sua mais recente e mais violenta guerra de extermínio contra a Faixa de Gaza sitiada, persevera a pergunta: As Nações Unidas de fato fracassaram com o povo palestino ou será este o início de um longo e árduo caminho por verdade, memória e justiça?
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