Oday al-Fayoume, pai de Wadea al-Fayoume, menino palestino-americano assassinado a facadas no Meio Oeste dos Estados Unidos, continua a sonhar com seu filho às vésperas do primeiro aniversário de sua morte.
Oday lembra-se de detalhes do menino — “como dormia, como sorria” —, na tentativa de lidar com o sofrimento da perda do filho.
“Ele ainda vive em mim”, disse Oday à agência Anadolu, na casa da família nos subúrbios de Chicago, no estado de Illinois. “Eu falo com ele, ouço a voz dele, vejo ele por aí. Sei que ele está em um lugar melhor”.
Wadea, de seis anos, foi esfaqueado 26 vezes no apartamento de sua mãe, em Plainfield, em 14 de outubro de 2023, uma semana após Israel deflagrar seu genocídio em Gaza, em meio a uma campanha de desinformação e propaganda de guerra que tomou a imprensa corporativa no Ocidente.
Shahin, a mãe, de 32 anos, também foi gravemente ferida, esfaqueada mais de dez vezes.
Autoridades prenderam o agressor — o proprietário do apartamento alugado pela família, Joseph Czuba, de 71 anos, indiciado por homicídio doloso, tentativa de homicídio, lesão corporal e crime de ódio.
A defesa de Czuba alegou “inocência”. Seu julgamento deveria ocorrer em março de 2025, mas permanece incerto após o assassino ser diagnosticado com câncer de próstata. Para o pai da vítima, Czuba nega tratamento para evitar a cadeia.
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“Caso ele morra antes de ser julgado, o caso será fechado”, lamentou Oday. Na busca por justiça, no entanto, o pai registrou queixa de morte por negligência contra Czuba — como locador da família —, sua esposa, Mary, e a administradora imobiliária.
Oday, no entanto, reconhece que a culpa da morte de seu filho vai além destes nomes, ao citar a imprensa, as ações de Israel e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
O pai recorda bem os comentários de Joe Biden na semana após a ação do grupo Hamas que atravessou a fronteira e capturou colonos e soldados, na qual o presidente alegou ter visto um vídeo de “bebês decapitados” por militantes palestinos.
O suposto registro jamais veio a público e seus indícios foram provados falsos.
Conforme relatos, sob análise da justiça, Czuba assistia um noticiário quando deixou sua casa para conduzir o assassinato.
Outros crimes de ódio sucederam ainda o assassinato de Wadea, como um ataque a tiros contra três estudantes de origem palestina em Vermont, em novembro, e um atentado a faca contra um palestino-americano no Texas, em fevereiro.
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Para a família de Wadea, os comentários e as manchetes incitaram os crimes, em meio a de uma onda de racismo antiárabe e islamofobia nos Estados Unidos e além, comparada por analistas o período da chamada “Guerra ao Terror”.
Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza há um ano, com mais de 42 mil mortos, 98 mil feridos e dois milhões de desabrigados. Desde então, o Estado ocupante vive, porém, uma crise de relações públicas sem precedentes.
Nos Estados Unidos, protestos — incluindo judeus antissionistas — tomaram as ruas e as universidades do país, ao denunciar a cumplicidade da gestão democrata, em campanha para as eleições de 20 de novembro.
Em julho, Biden renunciou a sua candidatura, em favor de sua vice, Kamala Harris, contra o ex-presidente republicano, Donald Trump. Harris, contudo, ainda tem dificuldades com o eleitorado islâmico e progressista, que sugere abstenção pelas ações de Israel.
A ofensiva israelense seguem também em desacato de uma resolução por cessar-fogo do Conselho de Segurança das Nações Unidas — sob abstenção americana, após múltiplos vetos —, além de medidas cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia.
A corte deferiu em janeiro a denúncia sul-africana de genocídio, levando Tel Aviv ao banco dos réus pela primeira vez na história. Países que mantém negócios com Israel, incluindo envio de armas, são considerados cúmplices segundo a lei internacional.