O exército da ocupação israelense intensificou seu cerco e seus ataques contra o campo de refugiados de Jabaliya, no norte de Gaza, nesta segunda-feira (14), deixando ao menos dez mortos e 40 feridos entre deslocados à espera de alimentos, reportaram paramédicos locais.
Israel mantém ordens de evacuação — isto é, transferência compulsória — das áreas ao norte, no contexto da escalada que incluiu, mais recentemente, o sul do Líbano.
Jabaliya tem sido foco da ofensiva israelense por dez dias, com tropas em volta do campo e tanques de guerra nas cidades próximas de Beit Lahiya e Beit Hanoun, sob alegações de impedir que o grupo palestino Hamas se reagrupe na região.
Aviões de guerra proveram cobertura aos avanços de infantaria.
Neste entremeio, contudo, a população de Jabaliya tem se negado a fugir ao sul, também alvejado por Israel.
“Somos atacados por terra e ar, sem parar, há mais de uma semana”, reportou Marwa, de 26 anos, que deixou a região a uma escola-abrigo na Cidade de Gaza. “Eles querem que a gente saia e querem nos castigar porque não queremos deixar nossas casas”.
A operação, porém, incitou temores de que os palestinos do norte sofram uma nova onda de limpeza étnica, conforme planos registrados de comandantes e políticos de Israel para “esvaziar” a área e anexar o território.
Residentes confirmam temer não poder voltar a suas propriedades.
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Ao corroborar os relatos, o Escritório das Nações para Direitos Humanos (OCHA) admitiu que o exército israelense parece “querer isolar o norte do restante de Gaza”.
“A separação do norte alimenta receios de que Israel não pretendem permitir que os civis voltem a suas casas e os reiterados apelos para que todos os palestinos deixem a região incita apreensões de uma transferência compulsória em larga escala”, reiterou a agência, em comunicado.
Israel nega as denúncias, mas a operação tem reforçado quão impossível se tornou a vida aos civis palestinos após um ano de genocídio, no qual seu deslocamento foi imposto em múltiplas ocasiões.
As Nações Unidas descreveram ainda as condições precárias daqueles que permanecem em Jabaliya, estimados em 50 mil deslocados cujos poços artesianos, padarias, clínicas e abrigos se tornaram inoperantes devido aos ataques.
O norte abrigava, originalmente, mais da metade dos 2.4 milhões de habitantes em Gaza; contudo, sofre bombardeios intensos há um ano, como alvo intenso da primeira fase dos ataques, sob uma doutrina de evacuações cujo intuito é esvaziar o território.
Ainda assim, cerca de 400 mil pessoas permaneceram na área, de acordo com números compilados pelas Nações Unidas.
Para o Hamas, o objetivo de Israel é deslocamento à força. “A comunidade internacional tem de agir contra esses crimes de guerra”, advertiu, neste sentido, Sami Abu Zuhri, oficial sênior do movimento palestino.
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Israel continua ainda a selar travessias vitais e impedir a passagem de socorro alimentar. Na segunda, o exército ocupante alegou permitir o acesso de 30 caminhões do Programa Alimentar Mundial (PAM) — refutado, porém, pelo governo local.
Em nota, o gabinete de comunicação do governo em Gaza reafirmou: “O cerco e completo lockdown imposto sobre a área segue há 170 dias”. Conforme o comunicado, nos dez dias da mais recente ofensiva, um total de 342 pessoas foram mortas na região.
“O que está acontecendo no norte de Gaza é genocídio”, prosseguiu o alerta. “Destruição de casas, bairros inteiros, infraestrutura, escola, hospitais e mesquitas, tudo parte de um plano para limpar a área de seus habitantes”.
A proposta dos generais
Generais reformados de Israel sugeriram publicamente o esvaziamento dos civis no norte de Gaza e escalada no cerco, ao apontar para planos oficiais. O exército ocupante nega o esquema — no entanto, desmentido por suas ações.
Giora Eiland, principal autor da proposta, insiste que a ideia é pressionar o grupo Hamas a libertar os prisioneiros de guerra israelenses capturados em outubro de 2023 — contudo, sem mencionar quaisquer negociações, apesar de pressões internas.
O regime israelense, não obstante, sofre uma crise sem precedentes de relações públicas e diplomacia, sem planos claros para o pós-guerra, ao insistir na eliminação do Hamas — objetivo impossível, segundo analistas.
Após um ano de ofensiva, cerca de metade dos 250 prisioneiros de guerra capturados em 7 de outubro permanecem no enclave, sem horizonte. A maioria daqueles que voltaram a Israel foram libertados por uma negociação em novembro último.
Estima-se dezenas de mortos pelos bombardeios indiscriminados.
Desde então, o Hamas reitera se comprometer com o diálogo em busca de cessar-fogo e troca de prisioneiros — todavia, sem a anuência de Israel.
Analistas advertem que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu rejeita negociações em causa própria, sob receios de que um acordo culmine no colapso de seu governo e prisão por corrupção por seus processos em curso.
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Em Gaza, em 12 meses, são 42 mil mortos, 98 mil feridos e dois milhões de desabrigados, sob cerco total — sem comida, água e medicamentos —, além de sucessivos massacres contra abrigos, rotas de fuga e comboios humanitários.
Israel segue em desacato de uma resolução por cessar-fogo do Conselho de Segurança das Nações Unidas, além de medidas cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), em Haia, onde é réu por genocídio sob denúncia sul-africana deferida em janeiro.