Fadi al-Wahidi, cinegrafista da rede Al Jazeera, atingido por um franco-atirador israelense em Gaza, neste mês, permanece em coma no enclave sitiado, sem autorização de Tel Aviv para cruzar a fronteira em busca de tratamento médico.
O repórter palestino foi baleado no pescoço, enquanto cobria a recente incursão terrestre das forças da ocupação ao campo de refugiados de Jabaliya, no norte de Gaza, com claro colete e capacete com identificação de imprensa.
Apesar de apelos de organizações internacionais de imprensa, autoridades israelenses se negam a permitir a saída de al-Wahidi de Gaza, junto a seu colega cinegrafista Ali al-Attar, também da Al Jazeera.
Nesta quinta-feira (17), a Al Jazeera em árabe confirmou que as condições de al-Wahidi se deterioraram desde que chegou ao hospital, em 9 de outubro — dois dias após o primeiro aniversário do genocídio em Gaza, com 43 mil mortos e 99 mil feridos.
Médicos do Hospital Público Beneficente da Cidade de Gaza alertaram que faltam meios para tratá-lo em Gaza e que sua situação arrisca paralisia total, incluindo danos em veias, artérias e ossos. Os médicos reforçaram os apelos pela transferência ao exterior.
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O ataque a al-Wahidi ocorreu dias depois de al-Attar ser baleado, enquanto cobria a crise enfrentada pelos palestinos deslocados em Deir al-Balah, no centro de Gaza.
Exames identificaram um estilhaço alojado no crânio de al-Wahidi, além de sangramento no cérebro — ainda sem o devido tratamento.
Deixados para morrer
Israel insiste em ignorar múltiplos pedidos por organizações internacionais para evacuar jornalistas feridos gravemente por suas forças da ocupação.
O Comitê para Proteção aos Jornalistas (CPJ) se somou às reivindicações para que Tel Aviv garanta salvo-conduto a al-Wahidi e al-Attar, entre outros.
“Ambos os processos de evacuação estão paralisados, com as autorizações necessárias ainda pendentes”, destacou o CPJ em carta à Coordenaria do Governo para Atividades nos Territórios (Cogat), agência israelense para gestão da ocupação.
“Responsabilizamos o governo de Israel por qualquer deterioração de saúde causada por esta prolongada demora”, acrescentou.
O comunicado confirma que a agência israelense sequer respondeu aos apelos até então e que o CPJ buscou ajuda dos governos dos Estados Unidos, França e Alemanha, além da Organização das Nações Unidas (ONU) — sem resultado, até então.
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“Apesar desses esforços, a possibilidade de evacuar os jornalistas está obstruída por não haver autorização de sua travessia segura por parte de Israel”, alertou a carta. “Suas vidas jornalistas estão em risco iminente e é urgente agir para evitar maiores tragédias”.
Espera-se que os jornalistas possam chegar a Jordânia ou Catar, para tratamento.
Israel mantém sua campanha contra Gaza há um ano, que incluem ataques deliberados a profissionais de imprensa, com 175 fatalidades entre a categoria.
Agências internacionais denunciam esforços de Israel para encobrir os crimes de guerra e lesa-humanidade cometidos em Gaza, em meio a uma intensa campanha de propaganda de guerra, desinformação e desumanização para seguir com o genocídio.