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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

‘Eu tive de vê-lo queimar’, diz irmão de palestino morto por ataque de Israel

Shaaban Ahmed al-Dalu, de 19 anos de idade, morto por um incêndio em sua tenda causado por ataques israelenses aos arredores do Hospital dos Mártires de Al-Aqsa, no centro de Gaza, em 14 de outubro de 2023 [Reprodução/Rede social]

Um vídeo chocante de um jovem devorado pelas chamas, em sua tenda improvisada nos arredores do Hospital dos Mártires de Al-Aqsa, no centro de Gaza, após bombardeios de Israel, viralizou online no início da semana.

A vítima é Shaaban Ahmed al-Dalou, estudante de engenharia de softwares de apenas 19 anos de idade. Shaaban faria aniversário nesta quarta-feira. No total, foram quatro mortos — incluindo Shaaban e sua mãe, Ala’a Abdel Nasser al-Dalou —, além de 40 feridos.

Para seu irmão mais novo, Mohammed, de 17 anos, “Shaaban não era somente um irmão, era meu amigo e meu alicerce. Perdê-lo foi insuportável”.

Não consigo descrever o sentimento. Vi meu irmão queimando na minha frente. Minha mãe queimava também.

Em lágrimas, o irmão recorda daquela noite trágica: “Era 1h30 da madrugada quando sua tenda foi atingida. Eu estava dormindo na tenda ao lado e não pude salvá-lo. Eu tive de vê-los queimar”.

Shaaban e minha mãe queimaram até a morte diante dos meus próprios olhos. A nossa família está toda espalhada, cada um em um lugar. Minha irmã está ferida e foi hospitalizada. Meu pai também está internado, mas está em Khan Younis.

A família de Shaaban foi deslocada após sua residência ser destruída por aviões de guerra israelenses, forçando-os, em último caso, a se abrigar em uma tenda no pátio do Hospital dos Mártires de al-Aqsa, em Deir al-Balah, na esperança de alguma proteção.

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A tia de Shaaban, Karbahan Al-Dalou, também estava lá: “Acordei de repente com o fogo vindo em nossa direção”. Foi então que viu seu sobrinho e sua cunhada pedindo socorro: “Não posso descrever o quão perturbador foi aquilo”.

Karbahan e sua família foram levadas ao Hospital Nasser, em Khan Younis — também sob ataques —, após o incêndio.

Apesar do genocídio, desde outubro passado, Shaaban permaneceu comprometido com sua educação, na tentativa de estudar online. Dia após dia, era forçado a caminhar longas distâncias para encontrar algum sinal de internet e assistir suas aulas.

Seus esforços se motivavam pela esperança de um futuro melhor para toda a sua família, destacou seu irmão.

Contudo, naquela noite, quando Israel atacou o acampamento, Shaaban não teve sequer chance de fugir. As chamas consumiram Shaaban, sua mãe e sua tenda, extinguindo não apenas seus sonhos como sua vida.

Suas últimas palavras

Antes de sua morte, Shaaban compartilhou uma mensagem em sua página do Instagram, na qual buscou dar voz a seu sofrimento:

Eu costumava sonhar grande, mas a guerra destruiu meus sonhos. Estou sobrecarregado, física e mentalmente doente. Sofro de depressão e perda de cabelo devido a tudo que está acontecendo.

Ainda assim, Shaaban expressou esperanças de um futuro melhor e pediu solidariedade e apoio ao povo palestino, sobretudo os deslocados pela imensa violência.

Para seu irmão, “o momento mais doloroso foi justo aquela noite, quando o vi queimar na frente de todo o mundo, sem ninguém que pudesse ajudá-lo. As chamas tomaram tudo e ninguém conseguia chegar perto por conta delas”.

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Ao longo do último ano, para além dos estudos, Shaaban trabalhou sem parar para ajudar sua família a encarar as circunstâncias devastadoras em Gaza.

Uma semana antes de ser morto, Shaaban recitava o Alcorão na mesquita perto do hospital. As preces terminaram 1h00 da manhã. Uma hora e meia depois, aviões de guerra israelenses bombardearam a mesquita, mas, por algum milagre, ele sobreviveu.

Shaaban sofreu ferimentos leves. Então voltou para sua tenda, ao lado de sua família, no pátio do hospital. Jamais poderia saber que, dias depois, encontraria seus companheiros de orações assassinados na mesquita.

As imagens de Shaaban chocaram o mundo.

Shaaban é uma das 43 mil vítimas fatais dos ataques indiscriminados de Israel a Gaza — entre as quais, 16.700 crianças —, que seguem há um ano, apesar de uma resolução por cessar-fogo do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

São também 99 mil feridos e dois milhões de desabrigados.

Israel é réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, sob denúncia sul-africana deferida em janeira.

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