Relembrando o ‘crematório’ de Israel no Hospital Baptista al-Ahli

Em 17 de outubro de 2023, o exército de Israel realizou um ataque aéreo contra o Hospital Baptista al-Ahli, na Cidade de Gaza, deixando cerca de 500 mortos e 340 feridos. Algumas das vítimas deixaram o hospital e seus arredores em busca de abrigo, após Israel ordenar a evacuação do local.

Muitos pacientes e feridos, junto de seus médicos, não conseguiram, no entanto, deixar o hospital.

Veja a seguir os testemunhos e a sequência de fatos sobre os bombardeios israelenses ao Hospital Baptista al-Ahli — um dos primeiros incidentes do tipo, naquilo que se tornou um avanço comum contra o setor de saúde da Faixa de Gaza.

17 de outubro de 2023

Às 6h59 da manhã, uma espécie de munição de grande impacto atingiu a área interna do complexo hospitalar, entre o estacionamento e um jardim onde civis deslocados estavam aglomerados após ataques destruírem suas casas.

Os detalhes foram corroborados pela ong Human Rights Watch (HRW).

Pouco após ataque, um repórter da agência de notícias Anadolu documentou as cenas na praça do hospital, com sangue e membros carbonizados espalhados pelo chão e pessoas desesperados buscando corpos ou parte dos corpos de seus parentes.

“Estávamos no patio e vimos balões incendiários caindo do céu, seguidos por foguetes”, recordou Karim al-Baltaji, de 20 anos de idade, em conversa com a Anadolu. “O que eu vi foi um crematório — pessoas queimando e árvores queimando, caindo sobre elas”.

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Azam Hamdan, de 71 anos, comentou: “O que aconteceu conosco foi um ato bárbaro de dar inveja a todos os massacres — até mesmo os nazistas”.

Sobre os instantes antes do ataque, Hamdan destacou que estava sentado, em aparente segurança, quando um míssil subitamente bateu: “De repente, as pessoas estavam todas em pedaços, corpos viraram carvão”.

18 de outubro de 2023

Na manhã seguinte, o Ministério da Saúde de Gaza conduziu uma coletiva de imprensa no Hospital Baptista al-Ahli, entre os escombros e as vítimas dos ataques de Israel.

“Estávamos fazendo uma cirurgia quando ocorreu uma enorme explosão e o teto desabou sobre nossas cabeças. Foi um massacre”, declarou Ghassan Abu Sitta, médico associado à ong Médicos Sem Fronteiras (MSF), durante a coletiva.

Em entrevista à Anadolu, Mohammad Ashraf, médico palestino especializado em traumas de emergência, a serviço no Hospital al-Shifa, observou:

“Durante o bombardeio a al-Ahli, recebemos 500 baixas em apenas 25 minutos”.

Antes de eclodir o genocídio israelense em Gaza, Ashraf atendeu a um curso de gestão de baixas em massa da Organização Mundial da Saúde (OMS), o qual previa não mais que 90 baixas no período de uma hora.

Após mais de um ano do atentado israelense contra o centro médico, os trabalhadores do Hospital Baptista al-Ahli continuam a sofrer com a situação catastrófica.

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“Em um ano de guerra, passamos por muitas dificuldades, como a falta de comida e itens de saúde”, reiterou Mohammed al-Sheikh, enfermeiro no local. “Durante todo este tempo, vivemos sob cerco e testemunhamos o exército israelense agredindo nossos colegas, ao não apenas detê-los e interrogá-los, como torturá-los”.

Desde 7 de outubro de 2023, Israel destruiu 23 dos 38 hospitais de Gaza — tanto públicos como privados. Restam apenas 15 hospitais que operam em baixa capacidade, sob cerco e ameaças de invasões armadas.

Apesar da resiliência, os hospitais restantes lutam contra escassez crítica de suprimentos médicos e medicamentos.

Neste entremeio, Israel atacou sistematicamente instalações civis, não apenas hospitais como mesquitas, igrejas, escolas e abrigos. Sob o direito internacional, trata-se de crime de guerra — independente das justificativas.

A campanha de Israel segue em desacato de uma resolução por cessar-fogo do Conselho de Segurança das Nações Unidas, além de medidas cautelares por desescalada e acesso humanitário do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), em Haia, onde o Estado ocupante é réu por genocídio sob denúncia sul-africana deferida em janeiro.

Em 12 meses, o exército israelense deixou mais de 43 mil mortos em Gaza, entre os quais 16.700 crianças, além de 99 mil feridos e dois milhões de desabrigados.

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