No telefone com seus pais, que não vê há um ano devido à campanha militar de Israel, de sua tenda improvisada em uma praia de Gaza, os olhos de Maher Abu Sakran, de apenas 13 anos, brevemente se iluminam, reportou a agência Reuters.
Vivendo em um campo aos deslocados internos junto de seus avós e primos, Maher sente imensa saudade de sua mãe, seu pai, suas três irmãs e seu irmão caçula.
“Chega de guerra, chega de barreiras. Eu quero voltar”, diz o menino.
A apenas alguns quilômetros de distância, na Cidade de Gaza, a mãe, Asmaa Abu Sakran, passa o telefone entre os irmãos de Maher para que possam falar com ele.
A família se separou dias depois de Israel deflagrar o genocídio, quando os avós levaram Maher e alguns de seus primos ao sul, para retirá-lo da Cidade de Gaza, onde as bombas choviam na ocasião.
Nem Maher nem seus pais tinham ideia de que estariam separados após tanto tempo — sobretudo na tão estreita faixa costeira. Dias depois de se apartarem, tanques israelenses invadiram o enclave e o dividiram em dois.
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Israel mantém violento controle sobre o fluxo de pessoas e bens entre as áreas norte e sul de Gaza, ao obstruir e atacar rotas de fuga e mesmo comboios humanitários. É esta linha, arbitrária e sangrenta, que separa Maher de sua família.
Sua mãe reconhece o trauma imposto ao filho: “Quando um menino tão jovem fica longe de sua família — de sua mãe, seu pai e seus irmãos — tudo pode acontecer. Está sempre ansioso, assustado e doente”.
A família Abu Sakran, de fato, teve sua casa, na Cidade de Gaza, parcialmente destruída por um bombardeio de Israel. Desde então, sofreu sucessivos deslocamentos. Hoje, mãe, pai e irmãos voltaram à residência, vivendo, no entanto, em suas ruínas.
Maher e seus avós não foram poupados. Sua casa no centro de Gaza também foi atacada por aviões de guerra e a família teve de fugir. Sete parentes, incluindo dois tios do menino, foram mortos, que se somam aos 43 mil mortos e 99 mil feridos sob genocídio.
Dentre as fatalidades, 16.700 são crianças, além de 18 mil órfãos e ao menos três mil que perderam um ou mais membros.
Maher recorda a vida antes da guerra, a rotina de café da manhã, escola e casa, de brincar nas ruas com seus amigos ou visitar a praia com seu avô.
Então, faz um apelo: “Basta de morte, chega de matar as pessoas. Se Deus quiser, vamos voltar a nossas casas em segurança. Por favor, chega de foguetes caindo sobre nós. Não aguentamos mais viver em tendas”.
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