O grupo palestino confirmou nesta sexta-feira (18) a morte de seu líder, Yahya Sinwar, em combate “até seu último suspiro”, na Faixa de Gaza.
Em pronunciamento televisionado, Khalil al-Hayya, oficial sênior do movimento palestino, falou da “memória do mártir, Yahya Sinwar […] resiliente, bravo e intrépido [que] sacrificou sua vida pela causa da libertação”.
“[Sinwar] encontrou seu fim resistindo bravamente, com a cabeça erguida, sua arma em mãos, lutando até seu último suspiro, até o último momento de sua vida”, disse al-Hayya. “Viveu sua vida toda como combatente. Desde cedo, engajou-se resistência”.
“[Sinwar] permaneceu resiliente atrás das grades de Israel”, sumarizou o colega, sobre a sua biografia. “Após sua soltura, por meio de um acordo de troca de prisioneiros, manteve sua luta e sua dedicação à causa”.
Hayya ressaltou que o Hamas manterá esforços até se estabelecer um Estado palestino, com Jerusalém como sua capital. Para o oficial, o “martírio” de Sinwar e dos líderes que o precederam “somente aumenta a força e resiliência de nosso movimento”.
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Ainda antes de confirmado o óbito, Basem Naim, membro do gabinete político do Hamas, indicou à AFP: “O Hamas é um movimento de libertação liderado por seu povo, que busca liberdade e dignidade, e, portanto, não pode ser eliminado”.
Naim listou membros do grupo mortos no passado e a longevidade da causa.
“Parece que Israel crê que assassinar nossos líderes quer dizer o fim de nosso movimento e da luta do povo palestino. A cada instância, no entanto, nos tornamos mais fortes e esses líderes se tornaram ícones a gerações futuras que seguem na jornada pela Palestina livre”.
Israel anunciou na quinta-feira (17) a morte de Sinwar em uma troca de tiros com agentes da ocupação, na província de Rafah, no sul de Gaza, no dia anterior.
Mais tarde, divulgou imagens de drone de seus últimos instantes: em um apartamento em ruínas, Sinwar está ferido, com um lenço palestino (keffieyh) sobre a cabeça; com apenas um braço, atira um pedaço de escombro contra o aparato controlado remotamente.
As Brigadas Izz ad-Din al-Qassam, braço militar do Hamas, enfatizaram ainda que Sinwar morreu “encarando o inimigo, sem recuar”. As imagens desmentem as alegações de Israel de que Sinwar se escondia em túneis, supostamente cercado por reféns.
“Sinwar morreu avançando entre posições de combate, resiliente”, corroborou a nota.
Sinwar foi nomeado líder do gabinete político do Hamas no início de agosto, uma semana após Ismail Haniyeh ser assassinado por um atentado atribuído a Israel em Teerã, capital do Irã, onde estava para a posse do presidente Masoud Pezeshkian.
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Sobre os prisioneiros de guerra, Hayya condicionou seu retorno a cessar-fogo, libertação de presos políticos palestinos e retirada dos soldados ocupantes de Gaza — mantendo as prerrogativas do Hamas ao longo das negociações; contudo, sem o aval de Israel.
Israel insiste que Sinwar é a “mente por trás” das ações de 7 de outubro de 2023, quando militantes do Hamas romperam a fronteira fortificada com Israel e capturaram soldados e colonos, como resposta a 17 anos de cerco militar a Gaza e 75 anos de apartheid.
A operação, denominada “Tempestade de Al-Aqsa”, tornou-se um ponto de inflexão para a ocupação e colonização israelense na Palestina, ao deflagrar uma crise de diplomacia e relações públicas sem precedentes a Israel, além de descarrilar planos de normalização com os regimes árabes da região.
O exército israelense alegou o assassinato de cerca de 1.200 pessoas na ocasião, além de supostas atrocidades, como “estupros” e “bebês degolados”, desde então, desmentidas como uma violenta campanha de desinformação e propaganda de guerra.
Em Gaza, neste entremeio, Israel deixou ao menos 43 mil mortos e 99 mil feridos, além de dois milhões de desabrigados sob cerco total e consequente catástrofe de fome. Entre as fatalidades, 16.700 são crianças.
As ações levaram Israel, pela primeira vez, ao banco dos réus do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro.
A mesma corte, neste contexto, admitiu em julho a ilegalidade da ocupação israelense na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, ao exortar evacuação imediata de tropas e colonos e reparação aos nativos. A decisão histórica, dois meses depois, virou resolução aprovada por maioria absoluta na Assembleia Geral das Nações Unidas.
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