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Morre Fetullah Gulen, acusado por Erdogan de orquestrar um golpe de Estado

Muhammed Fethullah Gulen [Pictures from History/Universal Images Group via Getty Images]
Muhammed Fethullah Gulen [Pictures from History/Universal Images Group via Getty Images]

Fethullah Gulen, clérigo turco que passou seus últimos anos marcado por acusações de orquestrar uma tentativa de golpe contra o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, em 2016, faleceu na noite deste domingo (20) em seu exílio nos Estados Unidos, aos 83 anos de idade.

As informações são da agência de notícias Reuters.

O Herkul, website que publica os sermões de Gulen, confirmou sua morte em sua página da rede social X (Twitter), em um hospital da Pensilvânia, onde recebia cuidados.

Gulen era aliado de Erdogan, mas se tornaram opositores contumazes. O presidente turco o responsabilizou pela suposta tentativa de golpe de 2016, quando soldados, aeronaves e tanques foram mobilizados para derrubá-lo.

Gulen fugiu aos Estados Unidos em 1999 e negava envolvimento no golpe.

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De acordo com seus apoiadores, o Hizmet — ou “serviço” em turco, movimento de Gulen, criminalizado como “terrorista” por Erdogan — representa um islamismo moderado, que promove o ensino ocidentalizado, diálogo interreligioso e livre mercado.

Desde a tentativa de golpe, seu grupo foi desmantelado sistematicamente na Turquia, por por Erdogan, que robusteceu seu poder, eleito a um terceiro mandato no ano passado. A influência internacional de Gulen também vivenciou declínio.

Conhecido por seus apoiadores como Hodjaefendi — ou “respeitado professor” — Gulen nasceu em uma aldeia na província de Erzurum, no leste da Turquia, em 1941, filho de um imã e formado em estudos corânicos desde criança.

Em 1959, Gulen se tornou imã de uma mesquita em Edirne, no noroeste da Turquia, onde conquistou proeminência. Na década de 1960, na província ocidental de Izmir, construiu dormitórios a estudantes, a quem pregava nos cafés locais.

Os dormitórios deram início a uma rede informal que ganhou as décadas, se estendendo por negócios, ensino, imprensa e mesmo instituições estatais — até mesmo para além da Turquia, nos Balcãs, Centro da Ásia, África e outros.

 

Retratos do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, e seu opositor, Fethullah Gulen, em uma loja de Gaziantep, perto da fronteira síria, 17 de janeiro de 2014 [Ozan Kose/AFP via Getty Images]

Retratos do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, e seu opositor, Fethullah Gulen, em uma loja de Gaziantep, perto da fronteira síria, 17 de janeiro de 2014 [Ozan Kose/AFP via Getty Images]

Ex-aliados

Gulen foi um aliado próximo do atual partido governista turco Justiça e Desenvolvimento (AK) até dezembro de 2013, quando investigações por corrupção chegaram a ministros e oficiais próximos de Erdogan, então primeiro-ministro.

Erdogan e aliados acusaram promotores e policiais ligados ao Hizmet de estar por trás do processo. Em 2014, um mandado de prisão foi deferido contra Gulen. Dois anos depois, seu movimento foi designado “grupo terrorista”.

Após os episódios de 2016, Erdogan passou a descrever a rede de Gulen como “traidores” e mesmo “um câncer”, ao prometer desmantelá-la onde quer que estivesse. Centenas de escolas, empresas, redações e associações civis foram fechadas.

Gulen condenou o suposto golpe “nos mais fortes termos”. “Como alguém que sofreu sob diversos golpes militares nas últimas cinco décadas, é especialmente ofensivo me acusar de qualquer ligação com este ato”, declarou em nota.

Nos anos seguintes, o establishment de Erdogan se consolidou sob “leis de emergência”, mediante mais de 77 mil prisões e exoneração de 150 mil funcionários públicos, incluindo juízes, oficiais do exército e professores.

Companhias e redes de imprensa supostamente vinculadas a Gulen foram estatizadas ou fechadas, à medida que o governo defendia suas ações pela gravidade do golpe.

Gulen então se isolou, vilificado por Erdogan e rejeitado pela oposição, sobretudo secular.

Há anos, o governo truco busca sua extradição dos Estados Unidos. Em uma entrevista de 2017, realizada em sua casa na Pensilvânia, Gulen negou planos de fugir da extradição. Já ali, parecia frágil, com um médico a seu lado.

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