‘A resistência nunca morre’: Redes sociais reagem à morte de Yahya Sinwar

Yahya Sinwar — líder do movimento palestino Hamas e um dos homens mais procurados por Israel — foi morto em combate durante uma operação militar israelense em Gaza, na última quarta-feira (16).

Seu movimento confirmou a morte na sexta-feira (18).

Após as notícias, as redes sociais explodiram com um misto de simpatia, luto, admiração e críticas. A hashtag #Sinwar viralizou na plataforma X (Twitter), com mais de dois milhões de compartilhamentos à medida que os usuários discutiam seu legado e seus momentos finais. Milhares de pessoas compartilharam as imagens de um drone israelense de Sinwar em um apartamento em ruínas, lutando apesar de estar ferido.

No vídeo, o personagem, identificado como Sinwar, veste um colete militar e um keffiyeh, ou lenço tradicional palestino, e parece ter um dos braços amputados ou quase. Todavia, atira um pedaço dos escombros em direção ao drone, no que muitos usuários online têm descrito como “um último ato de resistência” e símbolo de sua dedicação à luta do povo palestino.

O Hamas é criminalizado como “organização terrorista” no Reino Unido, Estados Unidas e União Europeia, embora a designação careça de consenso internacional, por exemplo, no Conselho de Segurança. Sinwar costumava ser descrito como o arquiteto das operações transfronteiriças do Hamas ao sul de Israel, em 7 de outubro de 2023, que capturaram em torno de 250 colonos e soldados.

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“Ele morreu uma morte honrada”, declarou um usuário das redes sociais. “A morte de um guerreiro, entre seus homens, entre seu povo, em defesa de sua terra contra os invasores, ocupantes e colonizadores genocidas”.

“O episódio derradeiro da vida de Sinwar não poderia ser escrito melhor nem mesmo pelo mais talentoso dramaturgo: não em um túnel ou um bunker secreto, nem mesmo em um palácio remoto. Sinwar morreu resistindo”, disse outro usuário.

Uma postagem com 53 mil compartilhamentos, até então, reafirmou: “Israel cometeu um erro ao publicar o vídeo dos últimos instantes de Sinwar. Vestindo um keffiyeh e bastante ferido, atirou um pedaço de madeira no drone que o gravava — seu ato final de resistência … Ao morrer, se tornou uma lenda”.

Outros ecoaram o sentimento ou ainda o enalteceram como mártir.

“Yahya Sinwar substituirá Che [Guevara] para o próximo milênio. Após este vídeo, mesmo aqueles que discordam dele respeitarão sua coragem e resiliência”, insistiu outro usuário, em referência ao revolucionário argentino, que operou em Cuba e no restante da América Latina, assassinado na Bolívia em 1967.

Outros comentários notaram que o registro contradiz as narrativas oficiais do exército de Israel e seus parceiros ocidentais, de que o líder do Hamas estaria escondido em túneis, supostamente cercado por prisioneiros de guerra como “escudos humanos”.

“Quero parabenizar o governo israelense por detalhar, cena a cena, a morte de Sinwar, ao mostrar que ele estava lutando ao lado de seus homens e não escondido em um bunker. Essa não é a vitória que vocês pensam que é, seus idiotas”, comentou outro usuário.

“Divulgar o vídeo de Sinwar com um braço amputado, lutando até o último suspiro, é um tremendo tiro no pé”, acrescentou uma postagem. “Jamais vi um líder com tanta coragem e resiliência, fazendo tamanho sacrifício por seu povo. Que gigante!”

Vários outros apontaram para as violações de Israel contra civis palestinos e o fato de que o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, entre outros líderes, declarou logo de imediato que a morte de Sinwar não implicaria no fim da guerra.

Jamais se esqueçam: não é sobre Sinwar ou o Hamas, nunca foi sobre 7 de outubro e os reféns. É sobre 80 anos de limpeza étnica e roubo de terras.

Rima Hassan, jurista, ativista de direitos humanos e política franco-palestina, sumarizou no Twitter, ao recordar a Nakba, ou catástrofe, de 1948: “Sinwar nasceu em um campo de refugiados palestino, em 1962, que existe até hoje”.

Muitos usuários online, incluindo alguns radicados em Gaza, observaram que a morte de Sinwar não impedirá os palestinos de manter sua resistência orgânica contra a ocupação militar israelense.

Seguiremos todos no caminho da resistência e no caminho de Sinwar. Se hoje mataram Sinwar, outros cem surgirão em seu lugar … Se Israel pensa que matar Yahya Sinwar impedirá os palestinos de defender sua terra, está enganado.

Nem todas as reações, no entanto, foram positivas. Militantes sionistas e comentaristas ocidentais comemoraram sua morte. “Amo isso, nos dê mais”, disse um usuário. Outros alegaram se tratar da “mais importante conquista” do exército da ocupação desde o início de sua campanha militar contra Gaza.

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Para a jornalista francês Laurence Ferrari, da CNews, Sinwar seria o “rosto do terrorismo” — uma expressão que sugere racismo —, responsável pelo “massacre de 1.200 homens, mulheres e crianças”. Suas declarações foram contrapostas online. Uma postagem, por exemplo, notou que Ferrari “deu-se o direito de identificar o rosto do terrorismo”.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden comemorou a morte de Sinwar, ao descrevê-la como um “momento de justiça” — embora sem qualquer processo — e “oportunidade para buscar a paz”.

Após o assassinato de Ismail Haniyeh — então chefe político do Hamas e figura chave nas negociações por um cessar-fogo e troca de prisioneiros com Israel — em julho, na cidade de Teerã, atribuído a Israel, Sinwar foi escolhido como seu sucessor.

Nascido no campo de refugiados de Khan Younis, em 1962, Sinwar subiu, no decorrer dos anos, nas fileiras do Hamas. Tornou-se uma figura de liderança nos protestos pacíficos da Grande Marcha do Retorno, em 2018, quando milhares de palestinos se aproximaram das fronteiras nominais de Gaza para reivindicar o fim do cerco israelense e o direito legítimo de retornar a suas terras ancestrais. Apesar do caráter pacífico dos protestos, incluindo a presença de mulheres, crianças e idosos, forças israelenses responderam aos tiros, com mais de 230 mortos e milhares de feridos.

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Publicado originalmente em Middle East Eye

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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