O rompimento de relações diplomáticas da Nicarágua com o Estado sionista

Na sexta-feira, dia 11 de outubro, o governo da Nicarágua rompeu relações com o Estado sionista de Israel. A presidência nicaraguense, em declaração, afirmou que a ruptura nas relações transcorreu devido aos “ataques de Israel aos territórios palestinos”.

Já o parlamento do país centro-americano afirmou — na mesma data — ter aprovado uma resolução solicitando que o Poder Executivo tomasse medidas para coincidir com o aniversário de um ano da guerra de Gaza. O congresso — de maioria absoluta orteguista — se pronunciou dizendo que “o conflito, agora se estende contra o Líbano e ameaça gravemente a Síria, o Iêmen e o Irã”.

No dia seguinte, 12 de outubro, a vice-presidente e primeira-dama, Rosario Murillo, proferiu seu comunicado:

Nosso presidente instruiu o Ministério das Relações Exteriores a aceitar o pedido do parlamento nacional e a começar a cortar laços diplomáticos com o governo nazista e genocida de Israel.

Na sociedade civil nicaraguense, o efeito foi bastante grande, e ainda maior no plano das relações exteriores.

A repercussão da mídia nicaraguense 

Um dos pontos-chave para o rompimento de relações, além do alinhamento de Manágua junto aos países líderes dos Brics (China e Rússia), foram os crimes de guerra do Estado sionista contra equipamentos humanitários, como hospitais e escolas.

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A Rádio Nicarágua, veículo oficioso do governo, publicou o seguinte texto em 11 de outubro, pouco antes do rompimento diplomático: “Israel atacou um hospital de campanha do Crescente Vermelho localizado na região fronteiriça entre o Líbano e a Síria. As autoridades islâmicas descreveram este ato como uma nova agressão ao sistema de saúde. O hospital improvisado, com 56 camas, equipamento médico e ambulâncias, foi completamente destruído, no que foi descrito pelo Irã como uma operação genocida.”

O hospital, que oferecia cuidados médicos e abrigo de emergência às vítimas da agressão israelense, tinha sinalização visível que o identificava como local de tratamento de saúde. Ainda assim, Israel atacou este centro humanitário, violando as leis internacionais que proíbem ataques a hospitais e centros médicos.

O ataque se deu após o envio de uma equipa médica iraniana ao Líbano, no fim de setembro, em resposta aos ataques terroristas de Israel que deixaram dezenas de mortos e mais de três mil feridos.

A televisão do país repercutiu o tema. O canal TN8, com o relevante âncora Erving Vega e boas relações junto ao orteguismo, fez um debate ao vivo e em rede nacional com o título: “Decisão de Nicarágua de romper relações com Israel é coerente com o direito internacional e não ao genocídio”. Além do já citado condutor, os convidados presentes foram: Freddy Franco (sociólogo), Adolfo Pastrán (cientista político) e Fabrizio Casari (jornalista e pesquisador italiano).

O mesmo canal TN8 transmitiu no dia 12 de outubro a seguinte notícia: “Venezuela fornece apoio humanitário à Síria e ao Líbano”:

Este sábado, o povo e o Governo da Venezuela enviaram quase 14 toneladas de ajuda humanitária à Síria e ao Líbano. A doação responde a um apelo lançado na passada segunda-feira, 7 de outubro, um ano após o início do último genocídio israelense contra as nações árabes.

Desde 7 de outubro, foi ativado um centro de coleta na sede do Ministério das Relações Exteriores da Venezuela, localizado na Casa Amarela, em frente à Praça Bolívar; onde milhares de venezuelanos depositaram suprimentos humanitários destinados ao Líbano.

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Também estiveram presentes, na despedida da aeronave da Conviasa que transportará as doações, no Aeroporto Internacional Simón Bolívar, em Maiquetía, estado de La Guaira, a vice-ministra para Ásia, Oriente Médio e Oceania da chancelaria venezuelana, Tatiana Pugh; e os embaixadores Elías Lebbos e Kenan Zaher al-Deen, do Líbano e da Síria, respectivamente.

No mesmo dia, o anúncio derradeiro, como divulgado no canal TN8: “Nicarágua condena genocídio na Palestina e rompe relações com Israel”:

Considerando a Resolução da Assembleia Nacional da República da Nicarágua, aprovada por unanimidade, hoje, sexta-feira, 11 de outubro de 2024, na qual se condena o contínuo genocídio, crueldade, ódio extremo e extermínio levado a cabo pelo governo de Israel, e a exigência reitera-se o cumprimento de todas as resoluções das Nações Unidas, pela criação do Estado da Palestina, como um Estado livre, soberano, independente e autodeterminado — Condenamos mais uma vez este genocídio, a ocupação e a agressão permanente contra a vida e a dignidade do povo da Palestina, que agora se espalha contra o povo do Líbano, e ameaça gravemente a Síria, o Iémen e o Irã, pondo em perigo a paz e a segurança na região e no mundo.

Em permanente solidariedade com o povo e o governo da Palestina, com os povos que sofrem o martírio, a destruição e a barbárie, e em estrita adesão ao direito internacional e às convenções que regem as relações civilizadas entre os Estados e os governos do mundo, o governo da República da Nicarágua rompe todas as relações diplomáticas com o governo fascista de Israel.

A projeção internacional da Nicarágua aumenta com a decisão

O controverso governo da Nicarágua, composto pelo casal Daniel Ortega e Rosario Murillo — eleitos e reeleitos em 2006, 2011, 2016 e 2021 — tem uma postura de controle interno quase absoluto. Infelizmente, boa parte de sua oposição é composta por ex-combatentes sandinistas, totalmente avessos ao seu modelo de governo.

Já na política externa, o Poder Executivo em Manágua tem um alinhamento quase absoluto com os Brics em geral, e com a China e Rússia em particular. As relações com o Irã vêm num crescendo e a posição de bloco nacional popular e anti-imperialista se reafirma com a aliança estratégica com a Venezuela e Cuba, além de governos amigos como Honduras e Bolívia. A relação mais controversa com os mandatários da Colômbia e Chile se alinham igualmente na crítica ao apartheid sionista.

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Desta forma, a Nicarágua consegue se projetar em escala mundo através da simpatia dos países de maioria islâmica. Isto considerando que o país ocupa uma posição estratégica (entre os oceanos Pacífico e Atlântico) e entra na rota de expansão das cadeias de valor e comércio marítimo para a China.

Ao romper formalmente com Tel Aviv, amplia a inimizade com os Estados Unidos, o Tesouro financiador dos genocidas. O governo em Manágua, apesar de todas as suas controvérsias, sabe perfeitamente bem o que implica em ser inimigo dos Estados Unidos e estar sob permanente bloqueio, ataques, ameaças e sanções determinadas por Washington. E este processo é sem retorno.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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