As imagens dos últimos instantes de Yahya Sinwar, líder do grupo palestino Hamas, morto em combate com as forças da ocupação israelense, deflagraram uma onda de protestos, manifestações artísticas e comentários de toda sorte no mundo árabe e além.
Sinwar, uma das figuras mais procuradas por Israel, foi morto durante uma ação militar de Israel em Gaza, em 16 de outubro, pouco mais de um ano após o Estado ocupante iniciar sua campanha devastadora contra o enclave.
Muitos observadores, ativistas e cidadãos palestinos interpretaram seus minutos finais — gravados por um drone e divulgados pelo exército de Israel — como algo emblemático de sua resistência e seu sacrifício em nome de sua causa.
O registro, que viralizou online, mostra uma figura identificada como Sinwar, ferido e com um braço aparentemente amputado, sentado em um apartamento em ruínas. Ao notar o drone, Sinwar atira um pedaço de madeira contra ele, em um gesto descrito por usuários nas redes sociais como “seu último ato de resistência”.
A imagem se tornou ponto focal em protestos e reedições artísticas em todo o mundo.
O Hamas é criminalizado como “organização terrorista” no Reino Unido, Estados Unidas e União Europeia, embora a designação careça de consenso internacional, por exemplo, no Conselho de Segurança. Sinwar costumava ser descrito como o arquiteto das operações transfronteiriças do Hamas ao sul de Israel, em 7 de outubro de 2023, que capturaram em torno de 250 colonos e soldados.
“Does the world expect us to be well-behaved victims while we are getting killed? For us to be slaughtered without making a noise?”
– Yahya Sinwar. pic.twitter.com/y0136U7Uxe
— Muhammad Jalal (@MJalalAf) October 19, 2024
Uma das imagens mais difundidas após sua morte é sua silhueta vestindo um keffiyeh, ou lenço tradicional palestino, sentado em uma poltrona entre os escombros — espécie de prenúncio de seus instantes finais, como registrado pelo drone.
Think Yahya Sinwar has immortalised the reclining in a couch pose …
Surrounded by the ruins of what once was; proud, defiant in both and hauntingly composed in this last image aware that it’s his time . pic.twitter.com/F7qMQcZrYT
— Maria (@mariaa_awd) October 18, 2024
A imagem se tornou um motivo comum em manifestações, como no Marrocos, no fim de semana, onde manifestantes reencenaram a pose ao vestir máscaras de Sinwar e erguer retratos do líder palestino.
✅ الشعب المغربي يخلد مشهد العزة والشموخ والبطولة للقائد السنوا-ر
📌من مسيرة الدار البيضاء 20-10-2024 pic.twitter.com/sb9M64EqxT
— hassan bennajeh – حسن بناجح (@h_bennajeh) October 20, 2024
Muitos palestinos postaram fotos de si mesmo reproduzindo a pose. Imagens e vídeos de crianças vestidas como Sinwar, com gravetos em mãos e keffiyehs sobre a cabeça, foram também compartilhadas, incluindo ao reencenar seus instantes finais.
Algumas montagens sobrepuseram o rosto de Sinwar a ícones revolucionários como Che Guevara, que atuou em Cuba e no restante da América Latina, morto na Bolívia em 1967, enquanto comandava um novo levante.
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Diversas pessoas compararam a morte de Sinwar com a morte de Omar al-Mukhtar, líder da resistência na Líbia, executado pelos italianos por recusar-se a se render à ocupação colonial. Entre as frases citadas, está o adágio de al-Mukhtar: “Vencer ou morrer; não nos renderemos”.
Why would the Z¡onist show Al Sinwar’s last moments fighting till his last breath on the front lines?
Not even Al Sinwar dreamed of a better televised and recorded heroic end to his life & the beginning of his true legacy.
Because colonizers do not understand the concept of… pic.twitter.com/Adm51jHWkW
— السامرائي🔻Mohamed (@M_Samaraie_) October 18, 2024
Usuários das redes sociais compartilharam reproduções artísticas inspiradas na morte de Sinwar, incluindo ilustrações e imagens geradas por inteligência artificial, com frases de sua autoria, como: “Por acaso o mundo espera que sejamos vítimas bem-comportadas, enquanto somos mortos?”
‘O bastão de Sinwar’
Neste entremeio, o “bastão de Sinwar” — em referência ao pedaço de madeira que, quase morto, atirou no drone — tornou-se uma metáfora para a resistência.
Em uma das ilustrações compartilhadas online, Sinwar, em sua poltrona, lança o objeto em um soldado israelense e outros homens vestidos em túnicas tradicionais árabes, no que parece aludir às lideranças árabes que normalizaram laços com Israel.
"وَأَوْحَيْنَا إِلَى مُوسَى أَنْ أَلْقِ عَصَاكَ فَإِذَا هِيَ تَلْقَفُ مَا يَأْفِكُونَ فَوَقَعَ الْحَقُّ وَبَطَلَ مَا كَانُوا يَعْمَلُونَ فَغُلِبُوا هُنَالِكَ وَانْقَلَبُوا صَاغِرِينَ وَأُلْقِيَ السَّحَرَةُ سَاجِدِينَ قَالُوا آمَنَّا بِرَبِّ الْعَالَمِينَ رَبِّ مُوسَى… pic.twitter.com/we75rzVvQD
— د. محمد ابوعرف DrMo (@abu_orf) October 19, 2024
Para um usuário, o “bastão de Sinwar” está prestes a se tornar uma expressão em árabe, ao denotar perseverança diante de uma enorme desvantagem.
Outros comentaristas notaram semelhança entre a ação de Sinwar, com seu “bastão”, às palavras do professor e poeta palestino Refaat Alareer, que, semanas antes de seu morto por um bombardeio israelense em Gaza, prometeu lançar as canetas de sua sala de aula contra os soldados ocupantes, caso invadissem sua escola — “mesmo que seja a última coisa que eu faça”.
Holding a stick has become a symbol of resistance. Every child will be inspired by Shahid Sinwar. #Yahya_Sinwar pic.twitter.com/7U7SbmNQtf
— Sayyid Muhammad 🔻 🇵🇸 🇾🇪 🇱🇧 🇮🇷 🇮🇶 🇸🇾 (@SayidMuhammad72) October 19, 2024
Líderes israelenses, no entanto, celebraram sua morte. Avichay Adraee, porta-voz militar de Israel, descreveu Sinwar como “derrotado, isolado e perseguido” — palavras que foram repetidas então pela imprensa israelense e redes colaboracionistas com sua propaganda de guerra.
Soldados israelenses gravaram a si mesmo distribuindo doces ao saber de sua morte, ou celebrando com tambores, canções e bandeiras de Israel.
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Publicado originalmente em Middle East Eye
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