Israel vem utilizando palestinos como escudos humanos na Faixa de Gaza sitiada, relevou uma reportagem da rede CNN, divulgada nesta quinta-feira (24), ao obrigar prisioneiros a entrar em prédios e túneis, sob suposto risco de confronto ou armadilhas.
As informações são da agência de notícias Anadolu.
A reportagem se baseou em relatos de cinco ex-prisioneiros e um soldado israelense, que corroborou as denúncias.
Conforme o soldado, a prática é generalizada entre os batalhões israelenses que operam em Gaza. A fonte admitiu que sua unidade deteve dois palestinos com o único objetivo de utilizá-los como escudos humanos.
“Dissemos: Entrem no prédio antes de nós”, recordou o soldado. “Se tivesse armadilhas, eles que explodiriam e não nós”.
A prática é conhecida pelas forças israelenses pela expressão desumanizante “protocolo mosquito”. Segundo a CNN, embora a escala da doutrina seja ainda vaga, há confirmação da prática no norte de Gaza, na cidade homônima, em Khan Younis e Rafah.
O soldado notou que, mais cedo neste ano, um oficial de inteligência israelense chegou a sua unidade com dois palestinos — de 16 e 20 anos —, para orientar o batalhão a usá-los como escudos humanos, sob alegações de envolvimento com o Hamas.
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Quando o soldado questionou a diretiva, recebeu como resposta: “É melhor explodir um palestino do que um de nós”.
“É bastante chocante, mas depois de alguns meses em Gaza, você não consegue pensar com clareza”, alegou o oficial, sem mencionar as vítimas palestinas. “Você está cansado. Obviamente, prefere que vivam os seus, mas não é bem assim que o mundo funciona”.
Segundo o soldado, ele e colegas de sua unidade se queixaram ainda a um comandante, que os orientou a “não pensar na lei internacional” e, somente mais tarde, liberou ambos os reféns palestinos.
A soltura, reconheceu a fonte, provou que os rapazes “não eram terroristas”.
Um dos ex-prisioneiros palestinos que falou à CNN — ele próprio, utilizado como escudo humano pelas tropas de Israel — notou ter sido sequestrado ao tentar obter comida para sua família, após ter sua casa destruída em Jabaliya, na região norte.
O refém foi então levado a uma instalação militar, onde permaneceu por 47 dias, onde era frequentemente obrigado a realizar missões de reconhecimento para que os batalhões da ocupação evitassem os métodos de guerrilha adotados pela resistência.
“Eles nos vestiam em uniformes militares, colocavam câmeras e nos davam uma tesoura de chapa para cortar metal”, relatou a vítima. “Então diziam, ‘mova esse tapete’, como se buscassem túneis. ‘Filma debaixo da escada’. Às vezes, nos mandavam levar coisas para fora, como pertences da casa”.
Mohammad Shbeir, de apenas 17 anos, destacou ter sido abduzido por tropas israelenses de sua casa em Khan Younis; então, utilizado para “limpar” estruturas demolidas.
Outro cidadão de 59 anos observou ter sido utilizado para verificar 80 apartamentos após ser sequestrado pelo exército ocupante no Hospital al-Shifa, maior hospital de Gaza, que passou por dois violentos ataques de Israel no último ano.
Segundo o soldado israelense, o “protocolo mosquito” segue aplicado em Gaza. “Colegas que se recusaram, a princípio, a adotar a prática, estão usando de novo. Parecem não ter forças como tinham no começo”.
As denúncias de que as forças israelenses recorrem sistematicamente aos palestinos — incluindo menores de idade — como escudos humanos são uma reviravolta na narrativa e um contundente contraponto à propaganda de guerra da ocupação.
Israel insiste na alegação de que o Hamas que faz dos palestinos “escudos humanos”, ao justificar assim seus massacres contra áreas civis, incluindo hospitais, escolas e abrigos — contudo, sem jamais apresentar provas.
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A série de reportagens da CNN, que buscou “humanizar” os perpetradores dos crimes em Gaza, no entanto, apresenta confissões de violações da lei internacional, possivelmente utilizadas como provas nas cortes globais.
Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza há um ano, com 42.800 mortos e cem mil feridos, além de dois milhões de desabrigados.
Há ainda dezenas de milhares de pessoas desaparecidas — mortas sob os escombros ou abduzidas pelas forças israelenses a campos de concentração, onde enfrentam execução sumária, tortura e mesmo violência sexual.
Israel é réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro.