O exército israelense reivindicou uma série de ataques aéreos contra o Irã, na noite desta sexta-feira (25), após explosões serem ouvidas nos subúrbios de Teerã.
As informações são da rede Al Jazeera.
Os porta-vozes israelenses Avichay Adraee e Daniel Hagari alegaram que suas aeronaves conduziram “ataques de precisão contra alvos militares […] em resposta às agressões em curso do regime iraniano contra o Estado de Israel nos últimos meses”.
A ofensiva parece uma tréplica aos disparos iranianos contra bases israelenses em 1º de outubro — pela segunda na história; a primeira em abril —, horas após o exército colonial iniciar sua invasão por terra ao Líbano.
Hagari insistiu que “o regime no Irã e seus grupos aliados vêm atacando Israel de maneira implacável [sic] desde 7 de outubro [de 2023], em sete fronts distintos, incluindo ataques diretos de solo iraniano”.
Hagari repetiu o mantra de “direito e dever de responder” e advertiu que “as capacidades defensivas e ofensivas [de Israel] estão plenamente mobilizadas”.
Diversas explosões foram reportadas na periferia de Teerã, conforme relatos corroborados pela mídia local. Conforme um residente, que conversou com a rede Associated Press, ao menos sete explosões foram ouvidas — contudo, sem detalhes.
A agência estatal iraniana IRNA afirmou que estrondos em três áreas da capital se deram por “atividades bem-sucedidas de defesa e defesa aérea, durante o incidente”.
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Em postagem no Telegram, a mesma agência notou que não há informações até então de que os incidentes demandem socorro.
Apesar de alegações imediatas de que as operações nos aeroportos internacionais Imam Khomeini e de Mehrabad, ambos em Teerã, seguiram “normais”, os espaços aéreos foram fechados provisoriamente.
O mesmo transcorreu em Israel, após afirmações da imprensa local de que o país não se encontrava, por ora, em estado de alerta.
Conforme Foad Izadi, professor associado da Universidade de Teerã, entretanto, a cidade “está bem quieta”, de forma que a madrugada segue sem apreensões até então. “Se nós fomos atacados, não foi grande coisa”, disse o residente.
Explosões, porém, foram relatadas ainda na cidade iraniana de Karaj, além de Damasco, capital da Síria. A agência estatal síria Sana destacou, no entanto, que as defesas aéreas do país interceptaram projéteis hostis, atribuídos a Israel.
A rede libanesa Al Mayadeen mencionou também um correspondente no Iraque que disse ouvir explosões nos subúrbios de Diyala e Salah al-Din.
O Canal 12 da televisão israelense noticiou ainda uma “segunda onda” de disparos, desta vez, contra a cidade de Shiraz, no sul do Irã.
Neste entremeio, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, foram transferidos às pressas a um bunker subterrâneo, conforme o jornal em hebraico Israel Hayom.
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Segundo relatos da mídia israelense, Netanyahu deu luz verde ao ataque, após o gabinete de segurança de seu governo esboçar planos para expandir a guerra.
As ações sucedem ainda uma turnê regional, incluindo Israel, do secretário de Defesa dos Estados Unidos, Antony Blinken, ao apontar uma coordenação de bastidores com a Casa Branca, apesar da retórica oficial insistir em “diplomacia”.
Sean Savett, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional em Washington, comentou à imprensa: “Sabemos que Israel está conduzindo ataques contra alvos militares iranianos, como exercício de autodefesa [sic] e em resposta aos disparos de 1º de outubro. Pedimos do governo israelense maiores informações”.
Segundo fontes antônimas vazadas ao canal de extrema-direita Fox News, a Casa Branca foi “notificada pouco antes” dos ataques, mas negou envolvimento.
Raed Jarrar, diretor do think tank americano Dawn, no entanto, enfatizou à Al Jazeera que os avanços de Israel não poderiam ocorrer sem o apoio político e militar da administração democrata do presidente Joe Biden.
“Nas últimas semanas, vimos Washinton transferir dezenas de recursos militares a Israel, incluindo o sistema de defesa Thaad”, argumentou Jarrar. “Para mim, esta é mensagem: o apoio cego dos Estados Unidos permitiu a Israel proceder com sua beligerância em toda a região. Sem o apoio americano, este ataque não seria possível”.
A escalada sucede um ano de genocídio israelense em Gaza, com 42.847 mortos e mais de cem mil feridos, além de dois milhões de desabrigados sob cerco militar — sem água, comida, remédios ou combustível. Entre as vítimas fatais, 16.700 são crianças.
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As ações de Israel se intensificaram em franco desacato a resoluções por cessar-fogo do Conselho de Segurança das Nações Unidas e ordens cautelares do Tribunal Internacional de Justiça, em Haia, onde é réu por genocídio desde 27 de janeiro.
No fim de setembro, Tel Aviv intensificou suas agressões ao Líbano, a partir de atentados terroristas, atribuídos ao Mossad, que detonaram aparelhos de comunicação — pagers e walkie-talkies — nas ruas do país.
Israel dispara contra zonas de influência do Irã há um ano, a fim de “dissuadir” o bloco de intervir em favor do enclave palestino. Os fronts ofensivos de Tel Aviv incluem Cisjordânia e Gaza, o Hezbollah no Líbano, os houthis no Iêmen, além de Síria e Iraque.
Diante das ameaças de lideranças israelenses e declarações cada vez mais inflamatórias contra as instituições internacionais, a crise em Gaza deflagrou receios sem precedentes, desde a Segunda Guerra Mundial, de um conflito cada vez abrangente.