“O Ministério da Defesa tem orgulho em anunciar as obras futuras de um luxuoso hotel”, diz, em hebraico, uma placa em um checkpoint israelense na Cisjordânia ocupada, vista por dois palestinos que assim tomam conhecimento de que sua comunidade está prestes a ser destruída. Beside the Sickle Moon: A Palestinian Story — Além da lua em foice: Uma história palestina, em tradução livre — é uma história de traição, desencanto, desespero e divisão.
Ao lidar com os conflitos de uma geração futura, conhecemos uma Palestina que se sente derrotada pelo prisma do protagonista, Laeth Awad. A história se passa em 2065, por um romance que é tanto distopia quanto mera contiguidade dos fatos presentes. Embora os relatos de resistência e martírio tragam cores à geração de seu pai, Laeth passa seus dias no terraço de uma loja, fumando com amigos e parentes. Isto é, até que Laeth e Aylul, seu primo, são surpreendidos pela aparição súbita de um novo checkpoint militar israelense em Ramallah, na Cisjordânia. Logo, descobrem que dentro de um mês, um hotel luxuoso será construído sobre suas casas, para permitir a chegada de novos colonos.
Embora reconheça o fato como má notícia, Aylul ainda crê enxergar alguma oportunidade no horizonte. “Abraçemos nossos direitos de nascença, Laeth; defender nossos direitos … Resistir à colonização”, proclama Aylul a seu primo. Aylul acredita que a nova ameaça de apagamento contra sua comunidade poderá, talvez, reacender as chamas da resistência; além disso, espera estar em campo para ver isso. Aylul recebe anuência dos movimentos nacionais e funda uma nova organização de resistência frente à ocupação, muito embora o seu entusiasmo não seja compartilhado pelo protagonista e narrador, Laeth. Este não vê um horizonte e pensa que a resistência é um ato fútil.
Por meio de pura pressão por parte de seu primo — dentre outros sentimentos —, apesar da relutância, Laeth acompanha Aylul ao movimento de guerrilha. “Não há coragem nisso aqui, e é difícil superar o medo quando se nasce no abismo”. Laeth acaba capturado por Israel e, para seu horror, é interrogado por um homem conhecido como Meir Cohen — ou ainda, o “Açougueiro de Gaza”; um homem que se infiltrou no Hamas e construiu para si uma reputação de impensável crueldade. Cohen sugere a Laeth que lhe tome as mãos e trabalha para Israel. Laeth se sente cada vez mais isolado e paranoico.
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Eventualmente, o protagonista aceita sua oferta. Laeth é parte de uma minoria dentre os jovens palestinos que vê a colonização israelense como inexorável. Outros, que sentem o mesmo, fundaram uma ong conhecida como “Os Esquecidos”, que defende uma suposta transferência pacífica à plena conquista de Israel, à qual a sociedade palestina trata com ambivalência. “A ocupação de Ayn Yassin [a aldeia de Laeth, próxima a Ramallah] parece inevitável, mas pensar que estou tão sozinho”, lamenta o personagem. A resistência varre a aldeia. O grupo criado por Aylul ganha popularidade e a crença em uma batalha final por libertação da Palestina ganha corpo entre as massas. Laeth se sente isolado — contudo, não está sozinho. Sua namorada palestina, Leila, compartilha seu desespero e se envolve em esforços para obter informações. No entanto, tentar espiar a resistência tem severas consequências.
Beside the Sickle Moon reflete a dança que ocorre entre a crença e a dúvida, esperança e desespero. Laeth é um homem pós-ideológico em seu sentido mais bruto; aderir a ideias exige acreditar no futuro e na capacidade daqueles que entendem que as ferramentas da história são aquelas que a moldam. Laeth já não enxerga mais futuro, senão piora e mais piora adiante; suspeita das grandes ideias e alimenta seu cinismo. 2065 seria mais de um século depois da Nakba de 1948, e sem nenhum horizonte para a libertação da Palestina, como pensa Laeth, mesmo falar de liberdade parece nada mais que um delírio. Passando dia após dia sem acreditar em absolutamente nada, torna este personagem incapaz de se identificar com pessoas como Aylul. Este romance explora tamanho cinismo e descrença que, paradoxalmente, movem o personagem e proporciona uma reflexão profunda sobre como deve ser viver assim. Trata-se de uma janela dolorosa — porém, importante — a um certo segmento da sociedade palestina.