A catástrofe de Gaza: Pondo em xeque as elites ocidentais e israelense

Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, em Tel Aviv, em 18 de outubro de 2023 [Brendan Smialowski/AFP via Getty Images]

Israel está determinado a tomar o norte de Gaza. Somente isso explica a destruição de áreas residenciais inteiras na região. Escolas e hospitais também foram atacados. Pessoas foram forçadas a fugir de suas casas. Muitos que escolheram ou não tiveram escolha senão ficar para trás foram assassinados.

Embora alguma comida e outros bens essenciais estejam disponíveis, a situação está longe do que é adequado. É por isso que a fome ainda é algo real.

Assim como no restante de Gaza e da Palestina, vários trabalhadores de saúde perderam suas vidas. Profissionais de imprensa são outra categoria vitimizada pela agressão israelense. Muitas crianças sucumbiram para as balas e bombas. Este padrão é evidente em quase todo ataque de Israel em Gaza há muitos e muitos anos.

Embora as atrocidades de Israel no norte de Gaza se encaixem em sua agenda abrangente de limpeza étnica na Palestina, a intensidade da agressão em curso imposta à região parece sugerir que o regime na ocupação tem objetivos ainda mais específicos. Segundo alguns analistas, Israel almeja transformar a porção norte em uma zona tampão em favor da ocupação. Outros observadores alertam que Israel tem pressa em ocupar região para assegurar seu controle, o mais breve possível, sobre as reservas de gás e petróleo na placa continental.

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Qualquer que seja o motivo, é impensável que um país cuja ocupação seja considerada “ilegal” pelo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) possa sair impune com sua campanha flagrante de limpeza étnica de todo um povo e sua terra. Verdade — houve protestos. Grupos da sociedade civil têm condenado as violações israelenses não somente em Gaza, como em toda a Palestina. Segmentos da mídia alternativa têm sido críticos ao que ocorre em Gaza e na Cisjordânia ao longo do último ano.

Tanto esses segmentos da imprensa como da sociedade civil têm também criticado o Estado israelense por sua agressão em curso no Líbano, com centenas de civis assassinados. Tel Aviv, ainda assim, mantém seu comportamento bárbaro, ao preferir, com notável prepotência, ignorar vozes variadas de toda a humanidade — algo discutível até mesmo entre aqueles grupos ou indivíduos ditos mais ponderados ou pragmáticos que formam sua própria base.

Parte da razão pela qual Israel mantém suas injustiças é porque há Estados poderosos que o apoiam. A elite dos Estados Unidos continua a fazer chover dinheiro e armas sobre Israel. Mostra-se, da mesma maneira, disposta a proteger as violações israelenses no Conselho de Segurança das Nações Unidas, via seu poder de veto. A elite no Reino Unido segue a deixa, como um fiel fornecedor de armamentos à ocupação. Como se não bastasse, este Estado clandestino, que age à revelia das leis internacionais, beneficia-se também de armas e apoio da Alemanha.

Se as elites britânica e estadunidense estão de conluio com as elites em Israel nos massacres em curso, contra libaneses e palestinos, é, em boa parte, porque o regime sionista, como disseram muitos em inúmeras ocasiões, é um produto direto dos interesses coloniais de ambos os países, na primeira metade do século XX. Já o anseio alemão em deferir apoio cego a Israel tem a ver com uma distorção de sua culpa coletiva pelo Holocausto nazista. Trata-se, de fato, de uma elite que não consegue ver que sua aquiescência a Israel o encorajou a impor morte e destruição a pessoas inocentes, também vitimadas por uma ideologia racista.

É por isso que grupos da sociedade civil e da imprensa alternativa nos Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha têm uma responsabilidade especial em conscientizar o público sobre o sofrimento dos palestinos e porque eles e outros povos nativos da Ásia Ocidental se opõem tão veementemente a Israel e a sua colonização sionista. Se tamanha consciência é capaz de crescer, não é inconcebível que governos ocidentais, com o tempo, mudem de postura, ao adotar uma abordagem mais crítica sobre a questão dos direitos legítimos do povo palestino e outras vítimas das políticas supremacistas na Ásia Ocidental.

Tamanha mudança permanecerá um sonho distante, no entanto, por conta da manutenção dos interesses obscuros que preservam no poder as elites tanto em Israel como no Ocidente. Quem sabe, aqueles determinados a ver justiça em Gaza, na Palestina e na Ásia Ocidental como um todo devem ir além dos apelos direcionados às elites e às instituições internacionais, sob seu controle, como é o Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Quem sabe, aqueles que lutam por justiça devem começar a reunir alguns dos recursos que eles e outros possuem, como gás natural e petróleo, e explorá-los em seus próprios domínios, como as rotas estratégicas marítimas, no objetivo de coagir Israel, e as elites ocidentais que o apoiam, a ver uma razão para corrigir seu curso.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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