Diante do inverno, palestinos de Gaza costuram blusas com cobertores velhos

Família palestina no campo de refugiados de Bureij, no centro de Gaza, sob o clima frio e os ataques de Israel, em 26 de outubro de 2024 [Moiz Salhi/Agência Anadolu]

Gaza se prepara para enfrentar um inverno frio e úmido, enquanto seus habitantes vivem em tendas e abrigos improvisados à beira-mar, sob os ataques de Israel. Em sua tentativa desesperada para sobreviver, famílias palestinas se vêm agora forçadas a costurar roupas de cobertores velhos, reportou a agência Reuters.

Nidaa Attia, de 31 anos de idade, junto de outras mulheres deslocadas pelo genocídio em curso por Israel, mede, corta e cose roupas em uma tenda perto da praia de al-Mawasi, na região de Khan Yunis, no sul de Gaza.

Seu intenso trabalho é inteiramente manual. Sem acesso à eletricidade, as mulheres não têm opção senão gerar energia pelos pedais de uma bicicleta conectada por um cinto às suas máquinas de costura.

“O inverno está chegando pela segundo vez [desde o início da crise] e as pessoas não têm nenhuma roupa de frio”, comentou Attia.

Ao lado da mesa, outra mulher tira as medidas de uma criança pequena, para costurá-la um macacão que a proteja do inverno.

“Não têm peças de roupa entrando em Gaza, então pensamos muito em como encontrar uma solução para a falta de tecidos e tivemos a ideia de reciclar cobertores como roupas de inverno”, comentou Attia.

Sua iniciativa Agulha e Linha, lançada em setembro, conta com voluntários, que, quando muito, recebem um pequeno pagamento. As roupas são vendidas entre 70 e 120 shekels (US$18 e US$30), mas os preços são mais baixos a quem traz cobertores.

O inverno de Gaza pode ser duro, com temperaturas baixíssimas e fortes ventos vindos do mar. Em 2023, poucos meses depois de se deflagrar o genocídio, tempestades inundaram grande parte dos abrigos.

Após mais de um ano de guerra, os palestinos de Gaza não têm qualquer renda. Algumas pessoas tentaram vender suas poucas posses, incluindo roupas de segunda mão, porém muitas delas não conseguem arcar com os preços por mais baixos que sejam.

Neste entremeio, o volume de assistência internacional que entra em Gaza desabou a seu nível mais baixo de todo o ano, segundo dados das Nações Unidas, devido à escalada do cerco israelense.

Para as agências que monitoram a fome em escala global, uma catástrofe está em curso.

Deslocados à força

A enorme maioria dos 2.4 milhões de palestinos de Gaza foram expulsos de suas casas e cidades pelos implacáveis ataques de Israel.

“Fomos deslocados mais de uma vez em um ano”, reiterou Samira Tamous, da Cidade de Gaza, na parte norte do enclave, abrigada em uma tenda em al-Mawasi. “Sobrevivemos a um inverno e agora nos deparamos com outro”.

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“Não existem roupas de inverno, não existe mercado nenhum, e não tenho como vestir a minha filha”, acrescentou Samira, ao apontar para sua menina de 13 anos, com síndrome de Down, que obteve algumas roupas do projeto Agulha e Linha.

Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde 7 de outubro de 2023, com mais de 43 mil mortos, cem mil feridos e dois milhões de desabrigados. Dentre as fatalidades, ao menos 16.700 são crianças.

Ao promover as ações, Yoav Gallant, ministro da Defesa de Israel, descreveu a população como “animais humanos”, ao ressoar a retórica desumanizante de seu premiê, Benjamin Netanyahu, que proclamou uma “guerra santa contra as crianças das trevas”.

Neste entremeio, dezenas de crianças palestinas morreram de fome, sob o cerco total de Israel contra as comunidades civis — sem comida, água ou sequer medicamentos.

As ações de Tel Aviv seguem em desacato de uma resolução por cessar-fogo do Conselho de Segurança das Nações Unidas, além de medidas cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), em Haia, onde Israel é réu por genocídio desde janeiro.

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