Estudantes pró-Palestina organizaram um protesto no campus do Benfica, em Fortaleza, da Universidade Federal do Ceará (UFC), contra uma palestra encabeçada pelo professor israelo-brasileiro Michel Gherman, sobre a questão palestina, nesta quarta-feira (30).
O evento foi organizado pelo curso de pós-graduação em Sociologia, realizado no Centro de Humanidades 3 (CH3), como abertura do novo semestre.
Gherman é professor associado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), além de pesquisador do chamado Centro de Estudos de Antissemitismo da Universidade Hebraica de Jerusalém ocupada.
Embora crítico do regime israelense do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, Gherman se autodenomina “sionista de esquerda” e tem vídeos nas redes sociais nos quais busca justificar a ideologia sionista que embasa a limpeza étnica na Palestina histórica.
Entre os membros da mesa, estavam também Matheus Alexandre, da associação sionista Stand With Us, e Jawdat Abu-El-Haj, palestino de Jerusalém ocupada, mas que escreve ao grupo de lobby colonial Instituto Brasil–Israel.
Após meia hora da palestra, segundo Fábio Gentile, coordenador do programa de pós em Sociologia da UFC, um grupo de estudantes entrou na sala portando cartazes e símbolos pró-Palestina. Gentile descreveu o grupo como “extrema esquerda”.
O grupo, no entanto, convocou o protesto “em defesa da vida das crianças palestinas”. A manifestação obteve êxito e, após meia hora, encerrou a palestra.
Entre as entidades organizadoras do ato, que integram a sociedade civil brasileira, estão a Frente Cearense em Defesa da Resistência Palestina, o Comitê de Solidariedade ao Povo Palestino do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e a Casa Chiquinha Gonzaga.
Segundo convocatória nas redes sociais, o evento da UFC servia como base ao genocídio do povo palestino, ao “colocar Israel como vítima” e “atacar o caráter científico que deve ter as universidades públicas”.
“O sionismo é uma ideologia racista e supremacista branca”, reafirmou a nota. “Junto do nazismo, é uma das piores e mais sanguinárias criações humanas”.
A palestra contrapõe ainda os apelos da sociedade civil palestina por boicote acadêmico, representada sobretudo pela campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) —nos moldes da luta contra o apartheid da África do Sul.
Pesquisadores sobre a questão, além da população em campo, advertem que as políticas de limpeza étnica na Palestina histórica não se referem a um problema do governo em Tel Aviv, mas sim de constituição estrutural de um Estado supremacista.
A manifestação no campus cearense se soma a protestos e acampamentos solidários ao povo palestino no Brasil e do mundo — com epicentro na Universidade de Columbia, em Nova York, incluindo núcleos crescentes de judeus antissionistas.
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O protesto sucede um ano do genocídio israelense na Faixa de Gaza, com 43 mil mortos e cem mil feridos, além de dois milhões de desabrigados sob cerco absoluto — sem água, comida ou medicamentos.
Em 1º de outubro, Israel invadiu também o território libanês, deixando milhares de mortos e feridos e até 1.3 milhão de deslocados à força. As ações beligerantes de Israel instigam ainda receios de uma propagação da guerra a uma escala regional.
Ideólogos israelenses, incluindo núcleos de pressão colonial sionista — como o Instituto Brasil–Israel e Stand With Us—, buscam justificar as agressões via propaganda de guerra, desumanização e criminalização de mobilizações pró-Palestina.
As ações seguem em desacato de resoluções por cessar-fogo do Conselho de Segurança, além de medidas cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, onde Israel é réu por genocídio sob denúncia sul-africana deferida em janeiro.
A mesma corte reconheceu em julho a ilegalidade da ocupação israelense nos territórios palestinos de 1967 — incluindo Cisjordânia e Jerusalém Oriental —, ao instar evacuação imediata de colonos e soldados e reparações aos nativos.
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