Palestina, Sudão, Sudão do Sul, Mali e Haiti foram identificados como os cinco territórios com maior probabilidade de vivenciar níveis catastróficos de fome, incluindo mortes, nos próximos meses, confirmaram agências relevantes das Nações Unidas.
Em um novo relatório publicado nesta quinta-feira (31), a Organização para Alimentação e Agricultura (FAO) e o Programa Alimentar Mundial (PAM) corroboraram que a “insegurança alimentar aguda deve aumentar tanto em magnitude quanto severidade” em ao menos 22 países e territórios.
As agências radicadas em Roma advertiram que a propagação de conflitos, sobretudo no Oriente Médio, além de crises climáticas e econômicas, está levando milhões de pessoas à margem da fome.
O relatório destacou a guerra israelense em Gaza e no Líbano, ao advertir que fenômenos climáticos devem afetar regiões já vulneráveis, até março do próximo ano.
“Sem esforços humanitários imediatos e ações internacionais para lidar com as severas restrições e reivindicar a desescalada dos conflitos, é provável maior fome e morte nessas regiões”, destacou o estudo.
Classificados como “altíssima preocupação” estão países como Nigéria, Chade, Iêmen, Moçambique, Myanmar, Síria e Líbano.
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Segundo o alerta, 2024 foi marcado como segundo ano consecutivo na queda de doações humanitárias, com 12 regiões com recursos abaixo de 75% da demanda, incluindo Iêmen, Síria, Myanmar e Etiópia.
No Sudão, centenas de milhares de pessoas deslocadas pela guerra civil, em curso desde abril de 2023, enfrentarão fome no campo de refugiados de Zamzam, em Darfur do Norte, antecipou o relatório.
No Sudão do Sul, o número de pessoas sob ameaça de morte, devido à fome, em média, dobrou nos quatro meses entre abril e julho de 2024, comparados ao ano anterior. Para o próximo mês de maio, a situação deve se agravar ainda mais.
Além disso, um milhão de pessoas foram afetadas por inundações em outubro no Sudão do Sul, país cronicamente instável, tomado por violência e estagnação econômica.
No Haiti, violência e instabilidade, além do colapso econômico e furacões que atingem a ilha, implicam em níveis críticos de fome, com previsão de piora no futuro próximo.
O mesmo se aplica ao Mali, em particular, após a retirada das tropas de paz das Nações Unidas em 2023. Grupos armados bloqueiam estradas e ruas, reiterou a nota.
Áreas em conflito vivenciam ainda “impedimentos aos meios de subsistência e formas de renda, ao restringir acesso ao mercado e gerar flutuação nos preços, além de produção e consumo erráticos de alimentos”.
Nas regiões críticas, o clima extremo — provavelmente oriundos do fenômeno La Niña —, incluindo secas, ondas de calor e tempestades, devem exacerbar a fome.
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Em Gaza, o genocídio israelense incitou apreensões de “pior cenário possível” em relação à fome, com 41% da população — mais de 875 mil pessoas — sob níveis de emergência, entre novembro e abril, segundo o relatório.
Quase 16% — ou 345 mil pessoas — estão à margem da “catástrofe”, acrescentou.
Gaza vive o genocídio israelense desde outubro de 2023, com mais de 43 mil mortos, cem mil feridos e dois milhões de desabrigados sob cerco absoluto — sem comida, água limpa ou medicamentos.
Israel age ainda em desacato de medidas cautelares por desescalada e fluxo humanitário do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, onde o Estado ocupante é réu por genocídio desde janeiro.