A Frente Cearense de Apoio à Resistência Palestina (Fcarp) divulgou nesta sexta-feira (1º) um abaixo-assinado em defesa da mobilização de estudantes e ativistas contra esforços de perseguição e criminalização após um protesto pró-Palestina impedir uma palestra de ideólogos sionistas na Universidade Federal do Ceará (UFC).
Na quarta-feira (30), estudantes convocaram um ato no campus de Benfica, em Fortaleza, contra uma palestra de abertura de semestre de figuras ligadas a grupos pró-Israel.
“Desde então”, alertou a petição, “entidades sionistas e monopólios midiáticos caluniam e difamam o ato legítimo em defesa do povo palestino e da resistência nacional palestina, inclusive ao divulgar perfis de pessoas presentes no ato”.
O evento foi organizado pelo curso de pós-graduação em Sociologia, realizado no Centro de Humanidades 3 (CH3). Após a manifestação, o programa “lamentou” o caso, ao acusar os ativistas de “desinformação e equívocos, negando-se ao diálogo democrático”.
Apesar das alegações do curso de “debate teórico-analítico [em um] espaço de liberdade de expressão, pluralismo e respeito”, a gestão não contactou professores e pesquisadores anticoloniais, especializados na causa palestina, ao favorecer o lado ocupante.
O programa, em nota, também difamou os alunos por “censura”, ao assumir uma retórica comumente empregada pela extrema-direita, afirmando se opor “à cultura do ‘cancelar’ temas ‘desagradáveis’, que infelizmente ganha espaço na universidade”.
Na mesa, estavam Michel Gherman, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisador do chamado Centro de Estudos de Antissemitismo da Universidade Hebraica de Jerusalém ocupada; Matheus Alexandre, da associação sionista Stand With Us; e Jawdat Abu-El-Haj, palestino de Jerusalém ocupada, mas que escreve ao grupo de lobby colonial Instituto Brasil–Israel.
Após meia hora da palestra, ativistas entraram no auditório com cartazes e símbolos pró-Palestina, em um protesto realizado “em defesa da vida das crianças palestinas”. A ação teve êxito e encerrou a palestra.
Entre as entidades organizadoras do ato, que integram a sociedade civil brasileira, estão a Frente Cearense em Defesa da Resistência Palestina, o Comitê de Solidariedade ao Povo Palestino do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e a Casa Chiquinha Gonzaga — somadas, agora, a entidades solidárias que assinaram a petição.
A palestra contrapôs ainda os apelos da sociedade civil palestina por boicote acadêmico, representada sobretudo pela campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) —nos moldes da luta contra o apartheid da África do Sul.
A manifestação no campus cearense se soma a protestos e acampamentos solidários ao povo palestino no Brasil e do mundo — com epicentro na Universidade de Columbia, em Nova York, incluindo núcleos crescentes de judeus antissionistas.
Estudantes, porém, são difamados como “antissemitas” e mesmo perseguidos por ações disciplinares em detrimento da sua liberdade de expressão.
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Na Universidade de São Paulo (USP), por exemplo, cinco alunos passam por um processo político para sua expulsão, após denúncia de uma professora sionista por um informe em uma assembleia de greve, incluindo apelos por fim dos convênios com Israel.
Desde novembro de 2023, os estudantes da USP sofrem um processo disciplinar movido pela pró-reitoria de graduação, a ser concluído no próximo mês.
Universidade Hebraica de Jerusalém — alma mater de Gherman, denunciado pelo ato em Fortaleza — tem dois convênios com a USP e oferece bolsas a soldados israelenses que agem nos territórios ocupados, além de parceria em programas da Divisão de Inteligência Militar em Tel Aviv, associada à opressão imposta aos palestinos.
As campanhas e suas represálias sucedem um ano do genocídio israelense na Faixa de Gaza sitiada, com 43 mil mortos, cem mil feridos e dois milhões de desabrigados.
Ideólogos israelenses, incluindo núcleos de pressão colonial sionista — como o Instituto Brasil–Israel e Stand With Us —, buscam justificar as agressões via propaganda de guerra, desumanização e criminalização de mobilizações pró-Palestina.
Apesar de pressão doméstica e ser declarado persona non grata pelo Estado israelense, o governo brasileiro de Luiz Inácio Lula da Silva ainda posterga a ruptura de relações com o regime colonial de apartheid.
As ações israelenses seguem em desacato de resoluções por cessar-fogo do Conselho de Segurança, além de ordens cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), em Haia, onde Israel é réu por genocídio sob denúncia sul-africana deferida em janeiro.
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