Dois de novembro de 2017 marcou o centenário da infame Declaração Balfour, quando o Reino Unido atribuiu um país que não lhe pertencia a uma força colonial, culminando no deslocamento à força de quase um milhão de pessoas. Trata-se de um dos episódios mais cruciais na história britânica. Não obstante, qualquer menção à palavra “Balfour” encontra como resposta olhares vagos e desconfortáveis. Ninguém parece ter escutado falar deste misterioso Balfour e sua declaração. “É um poeta vitoriano?” ou “Ele estava em Harry Potter?”, são algumas das perguntas que podem surgir.
O curta-metragem 100 Balfour Road — ou Estrada Balfour, n° 100 —, de 11 minutos de duração, busca conscientizar as pessoas sobrea Declaração Balfour e o que ela implicou ao povo palestino, de maneira simples e próxima ao cotidiano.
A narrativa em si é uma alegoria, ao esboçar um paralelo moderno com os Jones, uma família comum que vive nos subúrbios de Londres, expulsa de sua casa por soldados e forçada a viver em condições terríveis em seu próprio quintal. Outra família, os Smiths, toma a residência e, com o apoio dos soldados, maltrata os Jones, ao privá-los de seus direitos básicos, como comida e medicamentos.
Ao utilizar um elenco inteiramente britânico, assim como um cenário típico de Londres, o filme é eficaz em causar identificação ao público e igualmente informá-lo da história da Declaração Balfour e suas consequências devastadoras para a população comum da Palestina histórica.
Eu mesma, sem saber muito do assunto em mãos, deixei a sala de cinema tomada por tristeza e empatia por aqueles afetados por este evento trágico. O filme apresenta a si mesmo de tal modo que o público percebe que aquilo poderia lhes acontecer, ou a sua família e seus entes queridos. Poderia ser qualquer um qual e de fato incidiu a milhões de pessoas, mas suas dores parecem apagadas da história contada.
100 Balfour Road contém um pequeno, porém incisivo soco no estômago, ao educar e entreter o público através de seu enredo perspicaz e sua linguagem bastante eficiente — sem mencionar, é claro, as interpretações de partir o coração.
Absolutamente todos — crianças, adolescentes, adultos e idosos — deveriam ver esse filme, cujo lançamento coincidiu com o centenário da Declaração Balfour. Recomendo ter em mãos algum lenço, para enxugar as lágrimas que certamente correrão. Acredite — há razão para tanto.
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