O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, demitiu seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, nesta terça-feira (5), ao repassar a pasta ao ministro de Relações Internacionais, Israel Katz, no contexto do genocídio em Gaza e da agressão ao Líbano.
“Ao longo dos últimos meses, essa confiança erodiu”, afirmou Netanyahu. “Diante disso, decidi hoje dar fim ao mandato do ministro da Defesa”.
Conforme o gabinete do premiê, as divergências entre ambos “cresceram cada vez mais”, de conhecimento público, “de forma pouco usual e, pior, notáveis a nossos inimigos, que se regozijaram delas e obtiveram benefícios substanciais”.
O comunicado pegou o país de surpresa, ao incitar protestos.
Segundo o periódico Yedioth Ahronoth, Netanyahu informou Gallant da demissão apenas dez minutos antes de divulgar seu comunicado oficial.
Pouco após ser exonerado, Gallant — ex-general das forças coloniais — insistiu no Twitter (X) que “trabalhar para garantir a segurança de Israel continuará sempre a ser a missão de minha vida”.
Netanyahu e Gallant compartilham, contudo, uma solicitação por mandado de prisão da promotoria do Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, pelo genocídio perpetrado em Gaza, além de comentários racistas e desumanizantes sobre os palestinos.
Netanyahu indicou o então chanceler, igualmente extremista, ao Ministério da Defesa, ao substituir o incumbente de política externa por Gideon Saar.
LEIA: Israel rejeita todas as propostas de cessar-fogo, lamenta premiê libanês
Katz prometeu “alcançar os objetivos militares” e reaver os colonos capturados ainda em Gaza, após 13 meses de bombardeios indiscriminados, invasão por terra e cerco absoluto ao enclave, com 43 mil mortos, cem mil feridos e dois milhões de desabrigados.
Itamar Ben-Gvir, racista condenado e ministro de Segurança Nacional de Israel, festejou a demissão do colega, ao indicar “ser impossível conquistar uma vitória absoluta [sic]” com Gallant no cargo.
O Pentágono descreveu Gallant como “parceiro confiável”, ao reiterar, entretanto, que seu apoio a Israel permanece “inabalável” e que o aparato militar trabalhará “intimamente” com o novo incumbente da pasta.
Dentro de horas, milhares de israelenses se reuniram em Tel Aviv, ao bloquear a principal rodovia e acender uma fogueira. Centenas se reuniram também em frente à residência de Netanyahu em Jerusalém ocupada, além de outras estradas e localidades no país.
O Fórum das Famílias dos Reféns e Desaparecidos condenou a demissão como “mais um esforço para torpedear um acordo sobre os reféns”, em referência a demandas por troca de prisioneiros, como solução para reaver os colonos mantidos em Gaza.
Para o fórum, em mensagem em hebraico no Twitter, “a exoneração do ministro da Defesa é uma prova infeliz da falta de prioridades do governo de Israel”, após “objetivos militares serem alcançados”, na morte dos líderes do Hamas, Ismail Haniyeh e Yahya Sinwar.
Ainda antes de deflagrar sua agressão a Gaza, Netanyahu demitiu Gallant por sua objeção à reforma judicial do governo; contudo, sob protestos, o restituiu ao cargo.
LEIA: Extermínio em Gaza: Netanyahu ‘termina o trabalho’ enquanto o mundo assiste
Há meses, Netanyahu e Gallant trocam farpas publicamente, ao denotar fraturas internas em Israel, à medida que generais e analistas advertem para a necessidade de um acordo de cessar-fogo em Gaza — e agora no Líbano — para conter a crise de relações públicas e diplomacia que assola o Estado ocupante.
Para Gallant, a guerra carecia de direção clara. Netanyahu, porém, insiste em seguir até a “eliminação” do Hamas — e agora o Hezbollah —, objetivo descrito como impossível por muitos de seus detratores e mesmo aliados.
Conforme observadores, Netanyahu obstrui um acordo em causa própria, sob temores de colapso de seu governo de extrema-direita e eventual prisão por corrupção, em seus três processos em curso na justiça israelense.
Neste entremeio, porém, receios de uma guerra regional e mesmo internacional atingiram níveis sem precedentes.
Israel segue ainda em desacato de resoluções do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e medidas cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), também em Haia, onde é réu por genocídio desde janeiro.