Palestinos temem segundo mandato de Trump como presidente dos EUA

Palestinos sob genocídio e agressão colonial de Israel há 13 meses manifestaram temores sobre o retorno de Donald Trump à Casa Branca, após o republicano vencer as eleições à presidência dos Estados Unidos nesta terça-feira, 5 de novembro.

Em Khan Yunis, no sul de Gaza, Abu Osama, deslocado pelos ataques indiscriminados de Israel, descreveu a vitória eleitoral de Trump, contra a vice-presidente democrata Kamala Harris, como “uma nova catástrofe na história do povo palestino”.

“Apesar da destruição, da morte e do deslocamento que testemunhamos até então, o que vem a seguir será ainda pior — politicamente devastador”, comentou Osama à agência de notícias Reuters.

Em seu primeiro mandato, contra a lei internacional e determinações das Nações Unidas, Trump reconheceu Jerusalém como capital de Israel e a “soberania” do Estado ocupante sobre as colinas de Golã, território da Síria.

Seu sucessor Joe Biden, no entanto, não revogou as medidas.

Quatro anos depois, um genocídio com apoio americano segue em Gaza, junto a ataques de Israel ao Líbano e alertas de propagação da guerra a uma escala regional. No território palestino, são 43 mil mortos e cem mil feridos.

A crise impactou o governo Biden e a campanha de sua eventual sucessora, incluindo ao alienar parte considerável do eleitorado progressista, crucial à vitória democrata de 2020.

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Neste sentido, o grupo palestino Hamas, radicado em Gaza, apontou que as eleições nos Estados Unidos se tornaram uma espécie de plebiscito, sob o qual a população projetou objeção ao “apoio cego” do governo ao Estado de Israel.

Para Sami Abu Zuhri, membro político do Hamas, é imperativo agora que Trump “aprenda com os erros de Biden”. Segundo o oficial, o presidente eleito terá suas palavras postas à prova, de que poderia parar a guerra “dentro de horas”.

Seu movimento, em nota, reiterou que o relacionamento com a nova gestão “depende de suas posições e sua abordagem prática para com o povo palestino, seus direitos legítimos e sua causa por justiça”.

O presidente eleito, acrescentou o comunicado, “deve aceitar que os povos continuarão a confrontar a ocupação, sem capitular a um caminho que diminua seus direitos”.

Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, contudo, contrariou as políticas do primeiro mandato, ao expressar “confiança de que os Estados Unidos, sob sua liderança, apoiarão as aspirações legítimas do povo palestino”.

“Permanecemos comprometidos com a paz”, insistiu Abbas.

Muitos palestinos, em casa e na diáspora, no entanto, não veem diferenças entre Harris e Trump.

“Nós, árabes e palestinos, não somos ingênuos”, reiterou o comerciante Khaled Dasouso, de Khan Yunis. “Temos que lidar com ele como se fosse um inimigo. Temos que entender bem quem é nosso inimigo. E, até então, são inimigos da gente”.

Para Mohammed Barghouti, engenheiro de Gaza, resta esperanças: “Trump prometeu aos muçulmanos na América que, caso vencesse, pararia a guerra. Só podemos esperar que isso aconteça”.

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Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza, com cumplicidade de Washington, há 13 meses, deixando 43 mil mortos, cem mil feridos e dois milhões de desabrigados sob sítio absoluto — sem comida, água e medicamentos.

Apesar de pressão doméstica e crise institucional, Biden e seu governo ampliaram o envio de armas a Israel e buscaram blindar o Estado de apartheid no Conselho de Segurança e nas cortes internacionais.

Conforme analistas, é o lobby americano — sob a gestão democrata — que posterga uma decisão do Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, sobre mandados de prisão contra Netanyahu e seu ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant.

Israel, no entanto, é réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), que julga Estados, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro.

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