O ex-presidente Donald Trump ganhou as eleições dos Estados Unidos, derrotando a vice-presidente Kamala Harris de forma inquestionável. Até concluirmos esse texto (considerando a lentidão da contagem de votos impressos) o bilionário já havia recebido 72.116.275 votos contra 67.309.145 votos. Desta vez parece que vai ganhar tanto no voto popular (que não conta para tomar posse do Poder Executivo do Império) como no colégio eleitoral (cuja vitória é assegurada ao atingir 270 votos de delegados).Já na eleição de 2020, o mesmo Trump tinha recebido 74,224,319 contra 81,284,666. A virada em relação ao pleito anterior e a comparação das três corridas eleitorais de Trump são relevantes de como o voto de protesto da maioria branca sem educação superior (o grosso da classe trabalhadora do país) foi fundamental.
Já a participação eleitoral foi a segunda maior em 100 anos, chegando aos 64,5%, apenas inferior do que a de 2020. Vale sempre lembrar que o voto não é obrigatório, o dia da eleição não é feriado, os estadunidenses não tem horário eleitoral gratuito e podem ir enviando seus votos com antecedência. Enfim, todo o empenho institucional para dificultar a participação do eleitorado culmina na divisão bipartidária, mesmo havendo dezenas de partidos no país.
Uma das promessas de Donald Trump é a deportação em massa de imigrantes sem documentos (ilegais) e mais uma vez fez da xenofobia uma de suas marcas de campanha. A campanha reacionária de Trump centrou-se pelo menos tanto nos ressentimentos culturais como nas propostas políticas concretas, mas ele prometeu consistentemente tomar medidas em relação à imigração e à economia.
Linha dura em matéria de imigração desde que começou a sua primeira candidatura à Casa Branca em 2015, Trump prometeu durante a campanha deste ano realizar uma deportação em massa de mais de 13 milhões de imigrantes ilegais no país. Para realizar essa promessa distópica, Trump precisará construir campos de concentração e um corredor aéreo e outro terrestre, além de forçar o México e os países centro-americanos a receberem os deportados. Vejamos o posicionamento dos presidentes da região.
A posição dos mandatários da América Central
De todos os chefes de Estado do istmo centro-americano, o savadorenho é disparado o que tem maior identificação com Trump. Muito se deve ao estilo autoritário – autocrático – e elitista de ambos, no sentido de governar com mão de ferro sobre a população e fazer o possível para a acumulação de capital sem travas e por desorganizar a pouca proteção social existente.
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Assim, o presidente Nayib Bukele postou dois tuítes celebrando as eleições dos EUA. Em um deles publica a cobertura do canal The Onion (a “cebola”) acompanhando a decisão das eleições nos chamados “swing states”. No tuíte subsequente, o presidente que apesar de ter origem palestina celebra os aliados dos genocidas dos cananeus, postou :
“Parabéns ao Presidente Eleito dos Estados Unidos da América, @realDonaldTrump. Que Deus o abençoe e guie.”
A presidenta de Honduras, Xiomara Castro publicou um texto mais formal de reconhecimento da vitória do presidente com discurso abertamente racista:
“Parabéns ao presidente @realDonaldTrump pela sua vitória nas eleições e por ter sido eleito pelo povo dos Estados Unidos num dia pacífico e democrático. Expressamos nossos melhores votos para que sua administração fortaleça as relações com a América Latina e o Caribe.”
O presidente da Guatemala, Bernardo Arevalo de León, ele próprio alvo de uma operação de Lawfare que quase o impede de tomar posse, publicou também uma felicitação ao ex-presidente do Império reeleito prometendo deportação em massa de latinos.
“Parabenizo o presidente @realDonaldTrump pela vitória eleitoral e desejo-lhe muito sucesso nesta nova etapa na Casa Branca. Dou as minhas felicitações ao povo dos Estados Unidos da América, que se expressou democraticamente nas urnas. Continuaremos a trabalhar com os Estados Unidos para fortalecer os nossos laços nas causas e sob os princípios comuns que historicamente nos uniram como nações durante os 175 anos de relações diplomáticas e de amizade entre os nossos povos.”
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De uma maneira mais coerente o governo da Nicarágua manteve o perfil agressivo contra Trump e fez um comunicado saudando o povo estadunidense mas sem citar o ex-dono de cassino e herdeiro de especulador imobiliário.
“Saudamos o povo dos Estados Unidos da América, que liderou uma nova campanha eleitoral falando sobre as suas aspirações e necessidades na vida quotidiana, e em torno das questões candentes que os afligem e que afligem toda a comunidade humana. Unimo-nos às famílias e às pessoas que em todas as partes do nosso planeta continuam a trabalhar com esperança, fortalecendo os nossos direitos soberanos, e apelando a um mundo de justiça, respeito e consideração. Como sempre, nosso reconhecimento às pessoas que nos Estados Unidos vivem suas realidades e também conhecem as verdades das pessoas, que com a força de nossas identidades, culturas, direitos e liberdades, já caminhamos em outro mundo, que conhecemos , e fazer possível. O Governo da Nicarágua envia as suas orações por tranquilidade e harmonia para o povo dos Estados Unidos, a partir da fé e da força do nosso povo”.
Já o mandatário da Costa Rica, o economista Rodrigo Chaves, fez a seguinte postagem, através da conta oficial da Presidência do país.
“O Governo da Costa Rica felicita o 47º Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, e o seu Vice-Presidente J. D. Vance, e deseja-lhes sucesso na sua administração. A Costa Rica renova o seu compromisso de fortalecer as relações históricas e de amizade que nos unem.”
O presidente panamenho José Raúl Mulino também se manifestou com a vitória de Donald Trump e apontou para incremento das relações comerciais
“Eu parabenizo @realDonaldTrump pela vitória obtida nas eleições presidenciais dos Estados Unidos e ao povo daquele país pelo fortalecimento da democracia. Continuaremos a trabalhar juntos em questões de migração, segurança e comércio internacional.”
Já o primeiro ministro de Belize, John Briceño, não se havia manifestado em redes sociais até o momento de fechamento deste artigo.
Apontando conclusões
Além do tema da deportação em massa e de se aliar a bilionários de péssima procedência como Elon Musk, Trump representa uma ameaça ainda maior no Oriente Médio. A perspectiva é a retomada dos chamados “Acordos de Abraão” e conceder carta branca para o genocida sionista Bibi Netanyahu progredir com a escalada regional de sua guerra. Já o genocídio palestino é uma posição conjunta tanto de hipócritas do Partido Democrata como degenerados do Partido Republicano. Este e outros temas vão precisar de mais artigos de análise e aprofundamento no debate.
Para concluir, vale observar que parte da classe trabalhadora latina com direito a voto escolheu seu algoz republicano ao invés da vice-presidenta de Joe Biden. Definitivamente, as opções pragmáticas pelo voto castigo são a maior arma da extrema direita. Manipular os ressentimentos e as decepções alimentam a insanidade e as piores escolhas. O retorno de Trump para a Casa Branca materializa essa hipótese.
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