Trinta organizações judaicas emitiram um comunicado conjunto em defesa de Francesca Albanese, relatora das Nações Unidas para os direitos humanos nos territórios palestinos ocupados, sob difamação coordenada de “antissemitismo” por grupos sionistas.
A manifestação de apoio, sem precedentes, reage a “ataques implacáveis de associações motivadas politicamente”, que impõem uma campanha sistemática para desacreditar e deslegitimar o trabalho de Albanese, sobretudo ao documentar as condições de direitos humanos nos territórios ocupados por Israel.
Os grupos denunciaram, entre outras, a ong genebrina UN Watch — Observatório da ONU —, responsável por “travar campanhas tóxicas e caluniosas a fim de silenciar [Albanese] e ferir seu mandato de direitos humanos”.
Para as organizações, o objetivo de tais ações é “proteger o governo israelense de críticas internacionais e responsabilidade legal”.
O comunicado destacou ainda o uso de alegações de “antissemitismo” como arma para silenciar críticas legítimas, sobretudo contra oficiais da ONU, inclusive por lideranças de governo no mundo ocidental.
“Rejeitamos tais alegações infundadas, que incitam, de forma irresponsável, perseguição contra a sra. Albanese, ao ponto de ameaçar sua segurança pessoal”, alertou a nota.
LEIA: A longa guerra de Israel contra as Nações Unidas, apoiada pelos EUA
Os grupos manifestaram alarde sobre o que veem como instrumentalização política dos conceitos de antissemitismo, sobretudo ao adotar a controversa terminologia da Aliança Internacional de Memória do Holocausto (IHRA), que busca criminalizar críticas a Tel Aviv ao vinculá-las ao racismo antijudaico.
As associações se identificaram como “judeus comprometidos com a justiça, igualdade e direitos humanos”, ao condenarem especificamente Estados Unidos e Alemanha — cujas autoridades projetam, há um ano, seu antissemitismo histórico e uma distorção da culpa nazista, conforme analistas, ao movimento pró-Palestina.
O comunicado condenou veementemente “o vergonhoso apoio diplomático e militar que muitos governos ocidentais concederam à campanha israelense em curso de extermínio em massa contra civis palestinos e a bárbara destruição de todos os elementos básicos e vitais na Faixa de Gaza”.
As organizações reiteraram ainda que, diante da conjuntura vigente, associar as ações de Israel com a identidade judaica representa ameaça aos próprios judeus.
“Resguardado pelos Estados Unidos e por governos da Europa, Israel assassinou dezenas de milhares de civis em nome de ‘proteger os judeus’”, insistiu a nota. “Tamanha violência e crueldade, no entanto, não garantirá segurança aos judeus. Pelo contrário, a vinculação de má fé entre o Estado de Israel e o povo judeu expõe este a maiores riscos”.
LEIA: ‘Israel não vai parar ‘essa loucura’ até que nós o façamos parar’, diz relatora da ONU
As organizações contrapuseram ainda as ações de associações coloniais e sionistas nos Estados Unidos, Canadá e Europa: “Lamentamos que entidades judaicas estabelecidas, que alegam representar nossas comunidades, escolheram manter seu apoio cego a Israel — apesar de seus hediondos crimes de guerra em Gaza e da escalada da violência contra os palestinos na Cisjordânia”.
O comunicado concluiu ao enfatizar que sua posição tem como base “a longeva tradição humanista judaica e as lições universais do Shoah” — termo judaico para o Holocausto, traduzido como “catástrofe”; ou sinônimo de Nakba.
Para as organizações, uma abordagem embasada nos direitos humanos e no respeito às leis internacionais — como defende Albanese — “representa o único caminho adiante, em nome da segurança, estabilidade e paz para todos”.
Dentre os signatários, diferentes organizações de judeus antissionistas de todo o mundo, incluindo em Israel, como Israelenses contra o Apartheid e Boycott from Within, além de Judeus pela Paz e Justiça, de Portugal, e Rede Internacional de Judeus Antissionistas, com ramos na Argentina, Espanha e Reino Unido.
LEIA: Israel ainda não disse uma única verdade, não apenas desde 7 de outubro, mas desde a Nakba de 1948