Nas décadas de 1980 e 1990, Israel agiu para estabelecer uma série de postos avançados coloniais na Cisjordânia ocupada, sobre a prerrogativa de “fazendas agrárias e pastoris”, com o intuito de expropriar porções de terras de propriedades palestinas, confirmou uma nova reportagem do jornal israelense Haaretz.
Conforme a publicação, tais “fazendas” receberam financiamento massivo de sucessivos governos israelenses, apesar de acolher pouquíssimos colonos — ainda assim, ilegais —, em particular jovens que abandonaram os estudos.
Para muitos desses colonos, sobretudo infratores, as “fazendas” seriam quase punitivas, como uma espécie de reformatório juvenil. No entanto, em vez de instituições corretivas, eram radicalizados por instituições coloniais e incitados a cometer atos terroristas contra os palestinos.
Segundo o Haaretz, tais “fazendas” cresceram em número entre 2017 e o final de 2021, de 23 espaços destinados a colonos para 60 postos avançados. Em 2024, chegaram a até 90 fazendas, estimadas em uma área de 650 mil dunams de terras (650 km²) — equivalente a 12% da Cisjordânia ocupada.
De acordo com Ze’ev Hever, diretor executivo do movimento colonial Amana, sua missão, por trás das “fazendas”, é “preservar áreas abertas”, calculadas em “mais que o dobro da área construída dos assentamentos”.
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“Cada fazenda pode assegurar milhares de acres”, confirmou Hever.
Todavia, em vez de uso produtivo — ainda assim ilegal —, tais fazendas foram convertidas por diferentes governos em Tel Aviv em “projetos centrais”, ao obter recursos públicos em uma escala sem precedentes.
Conforme a reportagem, “dezenas de milhões de shekels foram canalizados às ‘fazendas’, diretamente de diversos ministérios, além do orçamento destinado aos assentamentos e a respectiva autoridade”
Bezalel Smotrich, militante supremacista e ministro das Finanças de Israel, incumbido da gestão de facto da Cisjordânia ocupada, insistiu, neste contexto, trabalhar para “legalizar” os postos avançados — cuja clandestinidade excede a lei internacional, para a própria lei israelense.
As “fazendas” recebem ainda recursos do Fundo Permanente de Israel (KKL, da sigla em hebraico), via um projeto chamado Juventude em Risco, que busca “encobrir violações” sob um verniz de função social, ao financiar o roubo de terras.
Analistas alertam para esforços de Israel voltados a uma “solução final” não somente em Gaza — mediante genocídio, há 13 meses — como nas terras ocupadas da Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, a fim de expulsar os palestinos nativos e anexar terras.
O intento se evidencia por planos da chamada “Grande Israel”, conforme mapas expostos em fóruns internacionais por lideranças israelenses, como Smotrich e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, incluindo terras palestinas e mesmo Líbano, Síria e Jordânia.
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