O Palestino Book Awards, emblemático evento do Monitor do Oriente Médio (MEMO), em Londres, realizou seu evento anual da “noite com os autores”, na noite desta quinta-feira (7), na Galeria P21 da capital britânica, reunindo escritores, tradutores e editores listados como finalistas da premiação.
O evento, mediado pela jornalista Victoria Brittain, deu aos presentes uma oportunidade única de vislumbrar os processos criativos por trás de alguns dos livros mais importantes publicados sobre a Palestina, em inglês, no último ano.
Em sua 13ª edição, o prêmio recebeu mais de 50 submissões, das quais sete obras foram selecionadas por um painel de juízes, entre poesia, literatura infantil, fotografia, cinema e pesquisa acadêmica. Os finalistas refletem a diversidade da narrativa e intelectualidade palestina, com contribuições únicas a seus respectivos campos.
Brittain abriu o evento, no entanto, com um minuto de silêncio às dezenas de milhares de palestinos assassinados em Gaza pelo genocídio israelense, no último ano.
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Brittain prestou uma homenagem especial a Khadijeh Habashneh, autora da obra Knights of Cinema: The Story of the Palestine Film Unit — em português, Cavaleiros do Cinema: A história da Unidade de Cinema da Palestina.
Habashneh não pode comparecer ao evento. Sua obra eloquente — finalista ao prêmio —fala do cinema como forma de resistência, ao relembrar a criação da Unidade de Cinema da Palestina (PFU, em inglês) e seus fundadores, desde o departamento de fotografia, nos primórdios da revolução palestina, entre 1967 e 1968, até meados da década de 1970.
De sua parte, Atef Alshaer, professor de árabe e cultura na Universidade de Westminster, cativou os presentes ao realizar uma leitura de sua antologia de poemas Out of Gaza: New Palestinian Poetry — ou Fora de Gaza: A Nova Poesia Palestina.
Brittain conduziu a seguir uma série de conversas com cada autor, sobre as inspirações e aspirações por trás de seus trabalhos.
As fotógrafas Sandra Barrilaro e Teresa Aranguren compartilharam ideias sobre o processo de documentação da Palestina pré-Nakba, em seu livro Against Erasure: A Photographic Memory of Palestine Before the Nakba — ou Contra o apagamento: Memórias fotográficas da Palestina antes da Nakba —, com enfoque na importância do prefácio de Mohammed el-Kurd.
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A discussão seguiu então com 48 Stories of Exile from Palestine — Palestina: 48 histórias de exílio —, de Deema al-Alami, obra de corajosa publicação própria. Al-Alami comentou que seu livro conseguiu angariar centenas de milhares de dólares aos órfãos e amputados de Gaza, vítimas do genocídio. O projeto reuniu 80 autores de 16 origens distintas.
Lisa Bhungalia proporcionou uma janela envolvente a sua obra acadêmica Elastic Empire: Refashioning War through Aid in Palestine — Império elástico: reformulando a guerra por meio da ajuda à Palestina —, que examina a militarização da assistência humanitária na Palestina.
Bhungalia destacou como noções de contraterrorismo dos Estados Unidos se enraizaram nos mecanismos de distribuição humanitária na Cisjordânia e Gaza, desde os primórdios da chamada “guerra ao terror”.
Ao apresentar sua tradução ao inglês de The Revolution of 1936-1939 in Palestine — ou A Revolução de 1936–1939 na Palestina, publicado no Brasil pela Editora Sundermann — de Ghassan Kanafani, Hazem Jamjoum traçou paralelos entre a resistência histórica e a luta contemporânea do povo palestino.
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Jamjoum deu ênfase a um senso premonitório da análise radical de Kanafani, sobretudo em sua perspectiva sobre as estruturas, narrativas e instituições sionistas. A observação do tradutor de que os palestinos haviam reconhecido há tempos a ameaça existencial do sionismo — tema central em Kanafani — foi particularmente marcante aos presentes no contexto do genocídio em Gaza.
A obra infantil Lana Makes Purple Pizza: A Palestinian Food Tale — Lana faz pizza roxa: Um conto culinário palestino —, de Amanda Najib, emprestou ao público maneiras simples de dar início às discussões sobre a causa palestina, sobretudo às gerações mais jovens, com protagonismo de uma menina que ajuda sua mãe a preparar o jantar.
Uma sessão empolgante de perguntas e respostas concluiu a noite, ao reiterar como cada uma das obras finalistas — desde a análise histórica ao conto infantil — servem como um ato de resistência contra os esforços coloniais para apagar a identidade, cultura e história do povo palestino.