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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Apesar do genocídio, Israel amplia comércio com países árabes e islâmicos

Primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu (à esquerda), e príncipe herdeiro e governante de facto da Arábia Saudita, Mohammed Bin Salman (à direita) [Reprodução]

Apesar dos apelos na Irlanda, Espanha, Bélgica, Eslovênia e outros Estados-membros da União Europeia para reavaliar suas relações comerciais com Israel, devido à ofensiva em curso contra os palestinos de Gaza, dados do comércio exterior israelense nos primeiros nove meses de 2024 ainda apontam crescimento no que diz respeito aos países árabes e 14 outros membros da Organização de Cooperação Islâmica (OCI). As tendências vão na contramão de reivindicações populares por boicote a produtos de países que apoiam Tel Aviv. Podemos argumentar, é ainda mais crucial boicotar produtos diretamente oriundos de Israel, à medida que as importações dos 19 países árabes ou islâmicos, mencionados no relatório israelense, chegam a US$2.3 bilhões.

Alguns dos maiores partidos na Irlanda, por exemplo, têm instado do governo que proíba a importação de bens produzidos nos assentamentos ilegais de Israel, radicados em terras palestinas ocupadas. Apesar de seu posicionamento diplomático, a Irlanda ainda é, hoje, um dos principais parceiros comerciais de Israel, como oitavo na lista supracitada.

Apelos similares, contudo, não parecem emergir na paisagem política do Egito, diante do que parece ser uma expansão do comércio egípcio com Tel Aviv em paralelo ao genocídio em Gaza, incluindo envio de frutos e vegetais que acabam por compensar o impacto das hostilidades sobre a agricultura israelense, devido à falta de mão-de-obra. O Egito defere ainda remessas consideráveis de cimento, que compensam a interrupção nos insumos vindos da Turquia.

A Turquia parece, portanto, solitária dentre os países islâmicos na interrupção das trocas com a entidade sionista. Em abril, listou 54 itens, incluindo combustível de aviação, ferro, aço, mármore e cerâmica que deixariam de ser enviados a Tel Aviv, apesar de conquistar o superávit nas relações israelenses e sofrer de um déficit crônico na balança geral. Ancara seguiu a catalogação com a suspensão de facto das importações e exportações de Israel no mês de maio, após saírem os resultados das eleições municipais, com derrota parcial do governo. Por consequência, dados de comércio exterior da Turquia tiveram perceptível a ausência de bens israelenses entre junho e setembro deste ano, totalizando queda nas vendas ao Estado ocupante em torno de 65%, contra 55% nas compras, para os primeiros nove meses de 2024.

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Os resultados se confirmaram por dados israelenses do mesmo período, indicando queda de 32% nas exportações do país à Turquia, e 15% nas importações. A Turquia caiu, assim, de décimo maior comprador de Israel, nos primeiros nove meses de 2024, ao 17º lugar, e da quinta colocação, em termos de vendas, ao 13º lugar. Sua posição geral no comércio israelense caiu de quinto a 15º lugar neste ano, ainda assim, com superávit turco.

Os dados do comércio israelense incluem cinco países árabes que normalizaram os laços com a ocupação: Emirados Árabes Unidos, Egito, Jordânia, Marrocos e Bahrein. De fato, o comércio com o Bahrein decuplicou, junto a aumentos de 53% nas trocas com Marrocos, 52% com Egito e 4% com os Emirados. Em relação à Jordânia, houve uma pequena queda de 1% nas trocas, devido a uma breve redução nas importações de Israel ao país, apesar de aumento nas exportações em 45%. O valor total do comércio israelense com os cinco países citados subiu a US$3.4 bilhões, ou crescimento de 12%.

Os dados israelenses abrangem também atividades comerciais com outros 14 membros da OCI, com aumento de 11% nas trocas — exceto a Turquia. O comércio com a Albânia quintuplicou, além de aumentos de 65% com Uzbequistão, 45% com a Nigéria, 34% com Azerbaijão e 25% com a Indonésia. Em contrapartida, houve queda nas trocas comerciais com Malásia, Camarões, Senegal, Cazaquistão, Turcomenistão, Gabão, Uganda e Costa do Marfim. Na soma, ainda assim, o comércio entre Israel e os 19 principais países árabes e islâmicos continuou a subir.

Tais números, de fato, ajudaram a atenuar a crise econômica israelense, em meio a suas sucessivas guerras. Em termos globais, as exportações e importações de Israel ruíram em em torno de 6% e 5%, respectivamente, nos primeiros nove meses deste ano, em relação ao mesmo período de 2023.

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Embora o valor declarado do comércio israelense com os 19 países supracitados gire em torno de US$7 bilhões, ou 10% de todo o comércio internacional israelense, a proporção mantida por países árabes e islâmicos é ainda maior, dado que os dados anunciados não abrangem as trocas oficiais com o restante da OCI, composta por 57 Estados-membros. Além disso, há uma grande diferença entre os dados divulgados por Israel — menores — e os dados apresentados pelos países árabes — maiores —, por exemplo, no que concerne as estimativas egípcias para o comércio bilateral, muito acima daquelas corroboradas por seu parceiro.

Nos primeiros sete meses do ano corrente, os dados egípcios contabilizaram até US$1.88 bilhões nas relações com Israel, distribuídos, com notável assimetria, entre exportações estimadas em US$155 milhões contra US$1.72 bilhões em importações israelenses. Isso permitiu a Israel manter a nona posição na lista de países que vendem produtos ao Egito, com um comércio total, no entanto, de apenas US$431 milhões divulgados pelo mercado israelense, divididos em exportações ao país árabe no valor de US$242 milhões e US$189 milhões em importações.

Índices da Agência Central de Estatísticas e Mobilização Pública (Capmas), na cidade do Cairo, mostram detalhes dos bens comercializados dentre as partes para os sete meses supracitados. O Egito exportou a Israel US$30 milhões em televisores, US$29 milhões em cimento, US$16.5 milhões em fertilizantes agrícolas, US$12 milhões em frutos e vegetais, US$6 milhões em polietileno em pó, US$4 milhões em suco de laranja, US$3 milhões em roupas e US$2 milhões em barras de alumínio, além de embalagens de papel, painéis de vidro, peças de assoalho, plantas aromáticas e tabaco de narguilé.

As importações egípcias de Israel nos primeiros nove meses de 2024 chegaram a US$1.72 bilhões, como já dissemos, incluindo 96% desta soma em gás natural, com um valor total de US$1.66 bilhões. O restante se distribuiu entre US$31 milhões em óleo diesel e US$19 milhões em tecidos usados pelo Egito na confecção de roupas exportadas, em seguida, aos Estados Unidos. O protocolo das Zonas Industriais Qualificadas (ZIQ) requer que as exportações egípcias envolvam ao menos 10.5% de componentes israelenses, em troca das isenções aduaneiras concedidas pelos Estados Unidos. É assim que tecidos, tinturas, plástico e papel egípcios continuam a alimentar a máquina israelense.

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Este artigo foi publicado originalmente em árabe pela rede Arabi21, em 3 de novembro de 2024.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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