Palestine Book Awards de 2024 premia livro infantil pela primeira vez

Autores, acadêmicos e convidados participa, da 13ª edição do Palestine Book Awards, em Londres, Reino Unido, em 8 de novembro de 2024 [MEMO]

Os vencedores da edição deste ano do Palestine Book Awards (PBA) — prêmio tradicional do Monitor do Oriente Médio (MEMO), em Londres — foram anunciados na noite de sexta-feira, 8 de novembro, com a vitória inédita de um livro infantil: Lana Makes Purple Pizza: A Palestinian Food Tale — ou Lana faz pizza roxa: Um conto culinário palestino —, de autoria de Amanda Najib.

Os juízes escolheram a obra como “um livro perfeitamente leve para abrir caminho, junto aos pequenos, a uma conversa sobre a Palestina”. Ao receber o prêmio, Najib reiterou que “nossas histórias merecem ser trazidas à luz, não apenas como um testemunho de nossa resiliência, mas uma celebração de nossa existência”. Najib dedicou a honra “às crianças de Gaza e a todas as crianças palestinas que sonham em ser livres”, ao insistir que obras como essas, quem sabe, podem “inspirar nossas crianças a levar adiante nosso legado — mesmo sob cerco; mesmo sob todas as tentativas de aniquilá-las”.

A premiação, em sua 13ª edição, ocorreu na noite seguinte de um evento informal no qual os autores finalistas falaram ao público geral sobre seus livros, na Galeria P21, da cidade de Londres. Houve também venda das obras e autógrafos.

Neste ano, mais de 50 livros foram submetidos a um painel de jurados, com sete finalistas e seis vencedores em cinco categorias distintas.

 

Ao abrir o evento, o diretor do MEMO, dr. Daud Abdullah, destacou as dores dos palestinos em Gaza ao longo do último ano, sob os crimes de guerra e lesa-humanidade cometidos, uma e outra vez, pelas forças de Israel. “Testemunhamos exemplos do pior, mas também do melhor de nossa humanidade”, argumentou Abdullah, ao comentar dos “massacres a crianças e mulheres”, mas também dos crescentes protestos e manifestações globais por solidariedade ao povo palestino.

Abdullah reiterou que tais crimes também atingiram o MEMO e suas equipes em campo, incluindo “uma de nossas autoras, morta junto de seu marido e seus filhos” pelas forças da ocupação israelense, além de um profissional radicado no Reino Unido que perdeu “28 membros da família em um único ataque”.

Abdullah denunciou firmemente o fato de que “diversos governos ocidentais se tornaram cúmplices de tamanho crime, incluindo, é claro, o governo britânico”. “Nosso ministro de Relações Exteriores e nosso premiê [David Lammy e Keir Starmer] são ambos advogados de direitos humanos, mas se recusam a chamar pelo nome o genocídio em Gaza”.

O Palestine Book Awards e outras iniciativas do MEMO, todavia, “representam a firmeza e a determinação do povo palestino para libertar a si mesmo de tamanho empreendimento colonial”, acrescentou Abdullah.

Veja a seguir os vencedores da 13ª edição do Palestine Book Awards — 2024:

Litaratura Acadêmica — Elastic Empire: Refashioning War through Aid in Palestine (Império elástico: reformulando a guerra por meio da ajuda à Palestina), por Lisa Bhungalia.

Tradução — The Revolution of 1936–1939 in Palestine (A Revolução de 1936–1939 na Palestina), de Ghassan Kanafani, edição em inglês por Hazem Jamjoum.

Literatura Criativa — Against erasure: a photographic memory of Palestine before the Nakba (Contra o apagamento: Memórias fotográficas da Palestina antes da Nakba), por Sandra Barrilaro e Teresa Aranguren, e Out of Gaza: New Palestinian Poetry (Fora de Gaza: A Nova Poesia Palestina), por Alan Morrison e Atef Alshaer.

História Oral — Knights of Cinema: The Story of the Palestine Film Unit (Cavaleiros do Cinema: A história da Unidade de Cinema da Palestina), por Khadijeh Habashneh.

Literatura Infantil — Lana Makes Purple Pizza: A Palestinian Food Tale (Lana faz pizza roxa: Um conto culinário palestino), por Amanda Najib.

Conjunto da Obra — Ghada Karmi.

Ao subir ao palco, Ghada Karmi, professora, médica e escritora palestina, emitiu à plateia uma mensagem marcante: “Nos reunimos em um momento muito sombrio para a história da Palestina … Agradeço, porém, a todos aqueles que mantêm acesa a chama palestina”. Karmi agradeceu também o Palestine Book Awards, como um importante evento “que se soma aos esforços contra a aniquilação da Palestina e de seu povo”.

Karmi recebeu o prêmio pelo Conjunto da Obra, por sua devoção e contínuas ações para trazer à luz as dores do povo palestino. Os jurados destacaram a maneira com a qual seu trabalho atravessa diversos campos, desde artigos à imprensa, a romances e palestras, a fim de dar voz aos palestinos sem voz, que vivem sob ocupação.

Husam Zomlot, eloquente embaixador palestino no Reino Unido, observou a urgência de que se preserve a cultura e literatura da Palestina, ao indicar que “a cultura é o que reúne nosso povo, ao ponto de que uma Terceira Intifada — como acredito firmemente — será sobretudo cultural”.

Zomlot voltou a denunciar o genocídio israelense contra os palestinos, enquanto regimes ocidentais “continuam a ofertar Israel com cobertura legal, diplomática e militar”. Para o embaixador, a Palestina, no entanto, ampliou sua posição diplomática em todo o mundo, ao ponto de alcançar um movimento global de impacto inédito desde a luta antiapartheid na África do Sul.

Para Zomlot, “a maré está virando”, de modo que os esforços de solidariedade à Palestina não se aplicam apenas a justiça para os palestinos nativos, mas uma luta por justiça em todo o mundo, alicerçada sobre símbolos nacionais palestinos, como o lenço tradicional (keffiyeh), a melancia e as cores da bandeira.

Não estamos sós, somos uma multidão, somos as vozes de muitos. Emergiremos deste genocídio como um povo livre em uma Palestina livre!

A primeira premiação da noite, na categoria de Literatura Acadêmica, foi conferido a Lisa Bhungalia, por Elastic Empire: Refashioning War Through Aid in Palestine — em tradução livre, Império elástico: reformulando a guerra por meio da ajuda à Palestina.

Ibrahim Darwish, um dos jurados, descreveu a obra como “um livro único na maneira com que mostra como as superpotências, em particular no Ocidente, impõem sua dominância aos povos oprimidos globais”. Para Darwish: “Tanto a guerra quanto a ajuda humanitária expõem a hegemonia dos Estaods Unidos neste sentido. A ‘guerra ao terror’ é um exemplo fundamental disso. Bhungalia esclarece a todos nós como os Estados Unidos usaram de seus poderes de caridade e guerra no caso da Palestina, para efetivamente conceder a Tel Aviv mais uma ferramenta de opressão, além da própria ocupação militar”.

O prêmio de Melhor Tradução foi conferido a Hazem Jamjoum por sua edição ao inglês de The Revolution of 1936–1939 in Palestine (A Revolução de 1936–1939 na Palestina), escrita pelo célebre autor palestino Ghassan Kanafani. Segundo os jurados, a obra “fornece um olhar única a uma das mais importantes revoluções contra a colonização britânica e os colonos sionistas na Palestina, que se manifestou em desobediência civil, greve geral e, é claro, legítima luta armada”.

 

Sandra Barrilaro e Teresa Aranguren venceram o prêmio de Literatura Criativa por Against Erasure: A Photographic Memory of Palestine Before the Nakba — em português, Contra o apagamento: Memórias fotográficas da Palestina antes da Nakba —, junto de Atef Alshaer e Alan Morrison pela antologia Out of Gaza: New Palestinian Poetry Fora de Gaza: Nova Poesia Palestina.

A primeira obra, conforme os jurados, “confere contexto histórico à resistência palestina contemporânea frente à ocupação israelense, assim como ao espírito indomável do povo palestino contra seu apagamento”. Sua copremiada “representa uma coleção comovente que fala, com urgência, da experiência palestina de perda, mas também de perseverante esperança por libertação”.

Khadijeh Habashneh recebeu o prêmio de História Oral por sua abrangente reportagem Knights of Cinema: The Story of the Palestine Film UnitCavaleiros do Cinema: A história da Unidade de Cinema da Palestina. Contudo, não pode comparecer à cerimônia.

O Palestine Book Awards — marca registrada do MEMO em Londres — é resultado direto de meses de dedicação de nossas equipes e anos de trabalho acadêmico e literário dos autores.

As nomeações têm início em janeiro, com obras a serem encaminhadas, através de nosso site, não somente de editoras no Reino Unido, como internacionais, a serem avaliadas e consideradas à premiação do próximo ano, com calendário anunciado em breve.

LEIA: MEMO em Londres realiza evento com os autores do Palestine Book Awards

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