Assessores de Trump pedem cautela de Israel sobre anexação da Cisjordânia

Dois ex-assessores do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, advertiram a ministros israelenses que não assumam que o novo governo, a ser empossado em janeiro na Casa Branca, apoiará de pronto a anexação da Cisjordânia ocupada, reportou o jornal Times of Israel.

Embora tais alertas tenham sido reiterados ao longo da campanha de Trump nas eleições americanas, com vitória sobre a vice-presidente democrata, Kamala Harris, na terça-feira passada (5), lideranças coloniais não omitiram seu entusiasmo.

O ministro das Finanças, Bezalel Smotrich — colono radicado em um assentamento ilegal e líder do partido fundamentalista Sionismo Religioso — afirmou nesta segunda-feira (11) que 2025 seria “o ano da soberania israelense sobre Judeia e Samaria”, ao adotar o termo bíblico-colonial para a Cisjordânia ocupada.

Seu colega supremacista, Itamar Ben-Gvir, da pasta de Segurança Nacional, ecoou seus sentimentos.

Neste mesmo contexto, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu indicou Yechiel Leiter — ex-chefe de um assentamento, que apoia a anexação — como novo embaixador de Israel aos Estados Unidos.

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Fontes trumpistas não descartam o apoio, mas insistem que tampouco se deve assumi-lo como certo. Para eles, aliados americanos no Golfo — sobretudo Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita — devem mostrar oposição, ao assumir prioridade na política externa do novo governo.

Um oficial israelense notou que Trump deve favorecer esses países para abordar questões amplas, desde uma retomada do isolamento do Irã, concorrência com a China e mesmo impacto sobre a guerra na Ucrânia.

Para um dos assessores, o segundo mandato de Trump não deve apoiar a soberania de Tel Aviv sobre os assentamentos “em um vácuo”, como se deu em 2020.

Em sua primeira passagem na Casa Branca, Trump deferiu diversas vitórias à empreitada colonial sionista, como ao reconhecer Jerusalém e Golã como capital e território de Israel — em violação da lei internacional — e promover os chamados Acordos de Abraão, com a normalização de laços com Emirados, Bahrein, Marrocos e Sudão.

Embora o compromisso de Washington em impedir a anexação da Cisjordânia, emitido a Abu Dhabi, expire neste ano, um ex-assessor de Trump observou que a posição não deve mudar drasticamente e “caso aconteça, será parte de um processo”.

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Jason Greenblatt, ex-assessor de Trump para o Oriente Médio, sugeriu aos ministros de Tel Aviv que tomem como foco, em vez da anexação iminente, o fortalecimento de laços com os Estados Unidos e a região e a contenção dos atuais desafios de segurança.

Segundo Greenblatt: “É importante que aqueles em Israel que estão celebrando o retorno do presidente Trump o façam porque ele é um forte apoiador de Israel, como vemos pelas ações históricas que assumiu”.

No entanto, sobre os ministros que assume como certa “a extensão da soberania a Judeia e Samaria [sic], como quase imediata à posse de Trump […] sugiro que respirem fundo. Se eu estivesse lhes assessorando, eu recomendaria aos ministros que se concentrem a agir com o premiê [Benjamin] Netanyahu para tratar das ameaças e desafios tremendos que Israel vem enfrentando”.

“Haverá um momento certo para falarmos de Judeia e Samaria [sic]”, acrescentou. “Mas o contexto e o momento são bastante importantes”.

Apesar dos alertas de cautela, Smotrich confirmou nesta segunda-feira ordenar preparos para a anexação ilegal da Cisjordânia ocupada, até janeiro.

Smotrich é um dos proponentes da ideia de “Grande Israel”, ao ostentar mapas em foros estrangeiros que representam Cisjordânia e Gaza, além de terras sírias e libanesas, como parte do Estado colonial israelense.

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No ano passado, avanços coloniais na Cisjordânia — incluindo pogroms contra cidades e aldeias palestinas — se intensificaram no contexto do genocídio em Gaza.

A Cisjordânia permanece sob ocupação de Israel desde 1967. Todos os assentamentos e colonos radicados nos territórios palestinos são ilegais sob o direito internacional, como reconheceu em julho o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), em decisão histórica.

A corte em Haia instruiu então evacuação imediata de soldados e colonos israelenses de terras palestinas, contudo, sob ataques de Israel. Dois meses depois, a consulta de Haia se converteu em resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas, por maioria absoluta dos Estados-membros, com prazo de um ano para ser realizada.

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