Bezalel Smotrich, ministro das Finanças de Israel, ordenou preparativos para a anexação ilegal da Cisjordânia ocupada, às vésperas da posse de Donald Trump como presidente eleito dos Estados Unidos, em janeiro de 2025.
Em nota divulgada nesta segunda-feira (11), Smotrich declarou esperanças de que a nova gestão reconheça os esforços de Israel pela “soberania” sobre o território ocupado, como fez com Golã — da Síria — e Jerusalém Oriental no primeiro governo Trump.
Além de comandar a economia, Smotrich — colono radicado em um assentamento ilegal, líder do partido fundamentalista Sionismo Religioso — detém uma posição no Ministério da Defesa que o permite administrar de facto a Cisjordânia e seus colonatos.
Em postagem na rede social X (Twitter), afirmou Smotrich “2025 [será] o ano da soberania em Judeia e Samaria”, ao adotar a terminologia bíblica para o território.
Em encontro com sua facção extremista no parlamento israelense (Knesset), na segunda, Smotrich celebrou a vitória eleitoral de Trump sobre a vice-presidente democrata Kamala Harris e confirmou ter instruído a Diretoria de Assentamentos e Administração Civil — do Ministério da Defesa — a preparar terreno para a anexação.
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“Ordenei o início do trabalho para preparar toda infraestrutura necessária para aplicarmos a soberania israelense sobre Judeia e Samaria [sic]”, destacou aos deputados. “Não tenho dúvidas de que o presidente Trump, que mostrou coragem e determinação em suas ações no primeiro mandato, apoiará esta medida do Estado de Israel”.
Smotrich descreveu a formação de um Estado palestino — sob consenso internacional — como um “perigo” e insistiu que “a única forma de remover este risco da agenda é aplicar a soberania israelense sobre todos os assentamentos em Judeia e Samaria [sic]”.
Nabil Abu Rudeineh, porta-voz do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, reiterou que os comentários de Smotrich confirmam, mais uma vez, a intenção de Israel em anexar a Cisjordânia, em violação da lei internacional.
“Responsabilizamos em absoluto as autoridades da ocupação por todas as repercussões dessas perigosas políticas”, alertou Rudeineh, ao notar cumplicidade americana.
O novo ministro de Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, comentou que a liderança dos colonos está confiante que Trump tende a acatar a tais medidas, embora não haja até então uma decisão oficial do governo.
“A última vez que discutimos [a anexação] foi no primeiro mandato do presidente Trump”, observou Saar, em coletiva de imprensa, nesta segunda-feira. “Portanto, vamos dizer que, caso seja relevante, discutiremos novamente a matéria com nossos amigos”.
Não é a primeira vez que Smotrich exorta a anexação ilegal dos territórios ocupados, a fim de impedir o estabelecimento legal de um Estado palestino independente e autônomo — conforme o direito internacional.
Smotrich é um dos proponentes da ideia de “Grande Israel”, ao ostentar mapas em foros estrangeiros que representam Cisjordânia e Gaza, além de terras sírias e libanesas, como parte do Estado colonial de Israel.
Durante seu primeiro mandato, em 2017, Trump “reconheceu” a soberania de Israel sobre a totalidade de Jerusalém ocupada, ao implodir décadas de política externa americana e consenso internacional, além de expressar apoio a planos expansionistas.
Avanços coloniais na Cisjordânia, incluindo pogroms contra cidades e aldeias palestinas, se intensificaram no contexto do genocídio em Gaza.
A Cisjordânia permanece sob ocupação de Israel desde 1967. Todos os assentamentos e colonos radicados nos territórios palestinos são ilegais sob o direito internacional, como reconheceu em julho o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), em decisão histórica.
A corte em Haia instruiu então evacuação imediata de soldados e colonos israelenses de terras palestinas, contudo, sob ataques de Israel. Dois meses depois, a consulta de Haia se converteu em resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas, por maioria absoluta dos Estados-membros, com prazo de um ano para ser realizada.
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