O National Press Club — associação de imprensa radicada em Washington — laurou Wael al-Dahdouh, chefe de jornalismo da rede Al Jazeera em Gaza, com o Prêmio Internacional de Liberdade de Imprensa John Aubuchon para o ano de 2024.
Em nota, o National Press Club reiterou que a premiação, sua maior honraria, foi cedida a Dahdouh em reconhecimento de seus esforços para manter a cobertura contínua a partir da região, sob campanha militar de Israel.
“Dahdouh viveu tragédias pessoais indescritíveis, enquanto reportava de Gaza”, observou o anúncio.
“Em 28 de outubro de 2023, enquanto cobria ao vivo um ataque aéreo israelense contra o campo de refugiados de Nuseirat, soube que, entre as vítimas, estava sua família”, seguiu o relato. “Perdeu a esposa, seu filho de 15 anos e sua filha de 7 anos. Correu de seu posto ao vivo para estar com eles. Outros oito parentes morreram na ocasião”.
“Voltou a reportar no próximo dia, apesar da dor e da tristeza inimagináveis”, acrescentou, ao notar a perseverança de Dahdouh. “Seu filho Hamza foi morto por um ataque a drone israelense em 7 de janeiro de 2024. Hamza também era repórter da Al Jazeera”.
O próprio Dahdouh foi baleado por um drone de Israel em 15 de dezembro, enquanto seguia para cobrir o bombardeio de uma escola em Khan Younis. Dahdouh conseguiu caminhar até o hospital. Seu cinegrafista, Samer Abu Daqqa foi gravemente ferido e não conseguiu caminhar. Dahdouh sofreu danos extensos nos nervos. Abu Daqqa sangrou até morrer antes que as ambulâncias conseguissem alcançá-lo.
Emily Wilkins, presidente do National Press Club viajou a Berlim, onde Dahdouh está hoje asilado, para lhe entregar pessoalmente a premiação.
“Apesar de seus traumas físicos e emocionais, Dahdouh permanece resiliente”, destacou Wilkins. “Seu empenho, sua força e sua perseverança são uma inspiração a repórteres de todo o mundo”.
9/15 “Despite his physical and emotional wounds, Dahdouh remains resilient as he works to recover. His endurance, strength and perseverance are an inspiration for reporters around the world,” said Emily Wilkins, president of the National Press Club who flew to Berlin to present…
— National Press Club (@PressClubDC) November 12, 2024
“As condições em Gaza tornam difícil ao CPJ investigar tais matérias em sua totalidade — os dados portanto permanecem voláteis”, apontou a associação americana. “Dezenas de jornalistas, como Dahdouh, foram gravemente feridos ou detidos. A escala da história em Gaza é tremenda e a tragédia é ampla”.
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“O clube continua a lutar por nossos premiados muito após se encerrar nossa cerimônia”, prometeu Wilkins. “Trabalharemos até que sejam todos libertados das prisões e tenham justiça nos tribunais — não importa se levará meses, anos ou décadas. Estamos ao lado daqueles que honramos e estamos ao lado de Wael al-Dahdouh”.
Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza há 13 meses, como retaliação e punição coletiva a uma operação transfronteiriça do grupo palestino Hamas que capturou colonos e soldados. O exército colonial alega 1.200 mortos na ocasião — número questionado, no entanto, por evidências de “fogo amigo” verificadas pelo jornal israelense Haaretz.
Desde então, uma brutal campanha de desinformação, desumanização e propaganda de guerra busca justificar as violações israelenses contra a população civil, junto a ataques diretos contra profissionais de imprensa.
No total, são ao menos 43 mil mortos, cem mil feridos e dois milhões de desabrigados em Gaza, sob bombardeios e invasões militares ainda em curso.
Israel é réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro.
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