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Trump e Marco Rubio: aliados de Israel diante de uma América Latina fracionada

O ex-presidente dos EUA e candidato presidencial republicano Donald Trump cumprimenta o senador Marco Rubio, republicano da Flórida, durante um comício de campanha na J.S. Dorton Arena em Raleigh, Carolina do Norte, em 4 de novembro de 2024 [Ryan M. Kelly/AFP via Getty Images]

Donald Trump foi o artífice do chamado Acordo do Século ou os “Acordos de Abrãao”, impulsionando a tentativa de normalização entre o Estado Sionista, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e a maior parte dos países membros do Conselho de Cooperação do Golgo (GCC). Na América Latina, a ofensiva diplomática do presidente republicano e ex-apresentador de reality show se deu através do reconhecimento de Jerusalém (Al Quds ocupada) como capital do Apartheid. Na sequência, os governos mais à direita se somaram na profanação da Esplanada das Mesquitas e ameaçaram transferir suas embaixadas.

Se pensarmos nesta projeção de poder e chauvinismo em defesa dos invasores da Palestina, o papel do secretário de Estado do Império é sempre relevante. No primeiro governo do dono de cassinos e especulador imobiliário, alguma contenção havia pelo establishment republicano, que era mais oligarca estadunidense do que “trumpista”. Esta lição parece que foi apreendida e desta vez a administração de extrema direita vem sem travas, não tendo os pesos e contra pesos que constam nos manuais da democracia liberal. Assim, além de ter a maioria no Senado, na Câmara dos Deputados e na Suprema Corte, também contará com operadores políticos radicalizados no neofascismo.

O secretário de Estado será Marco Rubio, filho de imigrantes cubanos e ele próprio criado entre a Florida e Nevada (Las Vegas). O senador republicano é um típico gusano representando uma mescla de pregação intolerante e agressividade na política externa. Se por um lado é a posição de poder mais importante a ser ocupada por um latino em qualquer governo estadunidense, o perfil do político é ainda mais reacionário do que a média do Partido Republicano.

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De acordo com a BBC, Rubio, 53 anos, é conhecido por sua posição linha-dura a favor de Israel e contra a China, o Irã, a Venezuela, Cuba e a Nicarágua. Além disso, é presidente da Comissão de Inteligência do Senado e membro da Comissão de Relações Exteriores. O senador americano de ascendência cubana é admirado por seus eleitores na Flórida, que vêem nele um homem de fortes valores tradicionais e cristãos.

Segundo o próprio Donald Trump:

“Ele será um grande defensor do nosso país, um verdadeiro amigo dos nossos aliados e um guerreiro feroz que não recuará diante dos nossos adversários”.

Em 08 de novembro, o senador reforçou a fake news de um suposto complô contra o mandatário imperial eleito. Em seu perfil no antigo Twitter afirma que: “O Irã quer matar o presidente eleito Donald Trump porque o regime o teme.”

Em outra postagem, essa de 04 de novembro (um dia antes da vitória de Trump) o político gusano afirma que “Os Estados Unidos estão mais fracos no cenário global, e nossos aliados estão perdendo a fé em nós”. No card da mesma publicação ele traz a mensagem de que Conservadores vão “reconstruir as forças armadas e dar apoio aos aliados como Israel”.

Diante de um chanceler imperial acostumado com a política regional latino-americana, cabem duas reflexões. Uma implica em saber o posicionamento de cada um dos chefes de Estado, ao menos neste curto período entre a vitória da extrema direita dos gringos e a posse de Trump e Rubio. A outra é entender que a posição dos governos nacionais diante dos Estados Unidos é correlata com a tolerância destes mesmos mandatários e suas coalizões para com o genocídio perpetrado pelo Estado Sionista contra o povo palestino.

Um mapa político do continente e a relação com os EUA e seu aliado estratégico, o Estado Sionista

Além da vitória republicana e a indicação de Marco Rubio para secretário de Estado, outro evento, esse anterior, ajudou a definir o mapa político do continente. Depois que a delegação brasileira vetou o ingresso da Venezuela no bloco econômico dos BRICS, na conferência da Rússia (outubro de 2024) o mapa das lealdades políticas dos governos latino-americanos ficou mais fragmentado.

Em linhas gerais a distopia da extrema direita ocupa o Poder Executivo da Argentina (com Javier Milei), Equador (com Daniel Noboa) e El Salvador (com Nayib Bukele). Já os países com um perfil nacionalista com lealdades junto à Rússia e China (alegando ser esse o antiimperialismo possível) são Cuba (presidida por Miguel Díaz-Canel), Nicarágua (do ex-sandinista Daniel Ortega e a 1a dama que co-governa, Rosario Murillo) e a Venezuela (com o reeleito sob protestos Nicolás Maduro e seu gabinete militarizado). Estes países citados se somam com Honduras (comandada pela presidenta Xiomara Castro) e a Bolívia (na crise interna no partido de governo, sob o comando de Luis Arce). Para esse conjunto de países, a solidariedade com a Palestina e o Líbano e a crítica às agressões do Estado Sionista (financiado pelos EUA) são uma norma.

Já numa posição mais associada à defesa da democracia liberal com política econômica que deveria ser social-democrata, estão os seguintes países, apresentados aqui em ordem de pujança econômica e capacidade de propor políticas distributivas. Estão o México (da coalizão Morena, com a presidenta Claudia Sheinbam); na sequência a Colômbia (onde Gustavo Petro enfrenta uma tentativa de golpe institucional apoiado pelos sionistas); surpreende o Chile (com o recalcitrante Gabriel Boric, garantindo aumento de salário e retomada de políticas públicas) e por fim o Brasil (Lula 3, com índices de crescimento econômico mas sem mudança estrutural alguma). Nesta lista consta a Guatemala (com Bernardo Arévalo, que quase não consegue tomar posse). Ainda assim, México, Colômbia e Chile estão com uma posição mais firme na solidariedade com a Palestina do que Brasil e Guatemala. Já no apoio ao Líbano com os voos humanitários de repatriação, o Planalto, o Itamaraty e a pasta da Defesa estão procedendo bem.

Por fim, o grupo mais “tradicional”, onde as oligarquias governam para si alegando certa lealdade institucional estão Uruguai (com o final do mandato do herdeiro Lacalle Pou), o Paraguai (com o banqueiro Sebastián Peña) e os governos centro-americanos da Costa Rica e Panamá. A “nova tradição” peruana, é não conseguir formar governo em função do bloqueio parlamentar fujimorista e a metástase da Lava-Jato no país. Lá, Dina Boluarte (a vice do hoje preso político Pedro Castillo)  não manda nada e tampouco a derrubam. Este bloco de oligarquias e o desgoverno peruano estão muito alinhados com Washington e com Israel.

Com a vitória eleitoral de Donald Trump nos EUA (em 05 de novembro) e suas ameaças de deportação em massa de mais de 11 milhões de imigrantes ilegais (maioria absoluta de latinos), este quadro tende a se aprofundar ainda mais. Não por acaso, uma parcela importante do voto latino conservador se deu em função da influência de igrejas evangélicas e sua pregação sionista.

Apontando conclusões diante das tormentas que virão

Pela experiência latino-americana diante do primeiro mandato de Trump, podemos esperar situações muito adversas no sentido de apoio ao genocídio do povo palestino pelos governos mais alinhados com Washington. O péssimo governo Biden e Harris apoia todo o esforço militar criminoso de Netanyahu e seus asseclas. A diferença é a incidência e arregimentação no cenário doméstico de nossos países, com maior agressividade através das redes de sionismo pentecostal e neocalvinista.

O outro fator para estarmos alertas na América Latina é o papel do próximo secretário de Estado, o senador gusano da Flórida, Marco Rubio. Pelo seu perfil e agressividade, vai tentar “mostrar serviço” como um ferrenho adversário dos países que se apõem aos desmandos do Estado Sionista.Dada a capacidade de criar uma agenda a favor de Washington, toda a atenção será necessária diante das ameaças – nada discretas – que teremos de enfrentar tanto como árabes-latinoamericanos como apoiadores da libertação da Palestina.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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