O presidente do Chile, Gabriel Boric, utilizou seu discurso na 19ª cúpula do G20, no Rio de Janeiro, para instar as lideranças globais a agir devidamente frente a crise humanitária na Faixa de Gaza sitiada, sob bombardeios de Israel.
As informações são da agência de notícias Anadolu.
“A gravíssima crise humanitária que testemunhamos hoje, que nos afeta profundamente, vê milhões de pessoas expostas às consequências da guerra”, disse Boric, ao reivindicar da comunidade internacional ações colaborativas por igualdade, direitos dos migrantes e segurança alimentar.
“Isso se aplica ao conflito em Gaza”, acrescentou. “Não nos omitimos de reafirmar nossa posição”.
O líder chileno — parte de um bloco progressista na América Latina, salvo o presidente da Argentina, Javier Milei — destacou avanços de seu país na redução da pobreza, ao atribuir êxito a políticas públicas inclusão social.
“Desde nossa transição à democracia [em 1990, após a ditadura de Augusto Pinochet], os esforços para desenvolver uma economia inclusiva, incluindo políticas de gênero, como ‘Chile cresce com você’, reduziram a pobreza de 40% a 6.5%”, explicou Boric.
O presidente enfatizou a importância de ações coletivas e instou que nações, sobretudo desenvolvidas, intensifiquem ações para combater a fome e a miséria.
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“Se quisermos realmente reduzir a pobreza em todas as suas dimensões, a questões que devemos abordar juntos”, observou o ex-líder estudantil. “Não tenho dúvidas de que, com determinação, podemos alcançar um mundo mais justo e menos desigual”.
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, abriu o G20 nesta segunda-feira (18), ao receber líderes globais no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro. Lula lamentou as crescentes tensões e confrontos armados que assolam a arena global.
O G20 reuniu lideranças das 19 maiores economias do mundo, além de União Europeia e União Africana, além de convidados como António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, e Kristalina Georgieva, chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI).
A inédita liderança brasileira assumiu três pilares ao bloco: combate à pobreza e à fome; desenvolvimento sustentável; e reformas nas estruturas de governança global.
O G20 carioca ocorre em um contexto de divergências Sul-Norte, em particular, em torno de reformas nos órgãos internacionais e tensões militares, com destaque para a invasão russa na Ucrânia e a agressão israelense em Gaza e no Líbano.
O Estado israelense é réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), em Haia, sob denúncia da África do Sul deferida em janeiro. Na América Latina, Brasil, Colômbia e Chile aderiram à denúncia.
A questão é particularmente importante ao Chile, país que possui a maior comunidade da diáspora palestina fora dos países árabes, com cerca de 500 mil pessoas.
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Em Gaza, as ações israelenses deixaram ao menos 43.800 mortos, sobretudo mulheres e crianças, além de 103 mil feridos e dois milhões de desabrigados, sob cerco absoluto que engendrou uma catástrofe de fome sem precedentes.
Segundo dados da Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar (IPC), 86% da população de Gaza — 1.8 milhão de pessoas — sofre fome em nível 3 (crise) ou pior. Em nível 5 (catástrofe), são ao menos 133 mil pessoas, sobretudo no norte.
No sábado (16), apesar de chuva, uma manifestação de mais de dez mil pessoas tomou a orla de Copacabana em defesa dos direitos palestinos, às vésperas do G20.
Lula mantém críticas às ações de Israel e apoio à denúncia sul-africana em Haia — que o levaram a ser declarado persona non grata pelo Estado ocupante. Contudo, a despeito da pressão da sociedade civil, ainda procrastina uma ruptura de relações.
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