Os Estados Unidos vetaram, pela quarta vez em um ano, uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas por cessar-fogo “imediato, incondicional e permanente” na Faixa de Gaza sitiada, sob ataques de Israel, reportou a agência Anadolu.
A resolução previa medidas para prevenção da fome que assola a população de Gaza.
A medida, submetida pelos dez membros eletivos do Conselho — Argélia, Equador, Malta, Guiana, Moçambique, Coreia do Sul, Serra Leoa, Eslovênia e Suíça —, recebeu 14 votos a favor, com objeção apenas dos Estados Unidos.
A resolução exigia “cessar-fogo imediato, incondicional e permanente a ser respeitado por todas as partes”, incluindo “libertação imediata e incondicional de todos os reféns”, sob a prerrogativa do fórum de “manter a paz e segurança internacional”.
O texto admitiu, porém, a piora da crise humanitária, ao demandar “acesso imediato pela população civil na Faixa de Gaza a serviços básicos e socorro humanitário indispensáveis a sua sobrevivência”.
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Em sentido mais direto, a moção rechaçaria ainda “quaisquer esforços para impor a fome aos palestinos”, incluindo “facilitação de plena, rápida, segura e desimpedida entrada de ajuda humanitária em Gaza, tanto em escala quando abrangência”.
Ao exortar as partes a aderir à lei internacional, sobretudo a proteção de civis e estruturas civis, a proposta reivindicava aderência à Resolução 2735 do Conselho de Segurança, que abrange provisões a reféns, prisioneiros palestinos e retirada das tropas de Gaza.
Sobre demandas institucionais, o texto previa 90 dias para que o secretário-geral da ONU, António Guterres, uma análise ampla das necessidades no enclave.
O veto americano, no entanto, impede que as medidas sejam aplicadas.
Antes do veto, Carolyn Rodrigues-Birkett, enviada da Guiana na ONU, caracterizou o texto como “produto de semanas de consultas entre todos os membros do fórum”.
“[A proposta] se motivou pela profunda consternação deste Conselho sobre a catástrofe humanitária em Gaza, incluindo o que está acontecendo no norte de Gaza e as demandas urgentes para responder à situação”, comentou Rodrigues-Birkett.
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Robert Wood, emissário adjunto dos Estados Unidos nas Nações Unidas, afirmou após o veto: “Deixamos claro, ao longo das negociações, que não apoiaríamos um cessar-fogo incondicional, que deixasse de libertar os reféns [sic]”
“Um cessar-fogo perdurável deve vir com a soltura dos reféns”, insistiu Wood, ao ignorar o texto. “Em suma, essa resolução seria uma mensagem perigosa ao Hamas; não devemos voltar à mesa de negociações”.
Os Estados Unidos vetaram outras três resoluções de cessar-fogo, a favor de Israel, em 13 meses, apesar de votações expressivas da comunidade internacional. O primeiro veto se deu em outubro de 2023; então dezembro e fevereiro.
Em maio, sob pressão interna em plena campanha eleitoral, a Casa Branca do presidente de Joe Biden se absteve de um dos votos, ao permitir a aprovação da medida. Todavia, nas semanas seguintes, alegou que a moção seria “não-vinculativa”.
Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde outubro de 2023, quando militantes do grupo Hamas cruzaram a fronteira e capturaram cerca de 200 colonos e soldados. Um ano depois, supostos resgates por operações militares não chegam a dois dígitos.
Segundo analistas, o premiê israelense Benjamin Netanyahu obstrui qualquer acordo em causa própria, sob receios de colapso de seu governo de extrema-direita e eventual prisão por corrupção, nos três processos em curso em seu próprio país.
Netanyahu tem ainda um mandado de prisão solicitado pela promotoria do Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, junto de seu ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant.
Em Gaza, são 43.900 mortos e 104 mil feridos, além de dois milhões de desabrigados sob cerco absoluto — sem comida, água ou medicamentos.
O Estado israelense é também réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), também em Haia, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro.
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