Thibaut Bruttin, diretor-geral da ong Repórteres Sem Fronteiras (RSF), expressou profunda preocupação sobre tentativas recentes do Estado israelense de retratar trabalhadores de imprensa na Faixa de Gaza como “terroristas”, a fim de legitimá-los como alvos.
“Vemos as forças israelenses tentando designar jornalistas como terroristas”, comentou Bruttin à agência de notícias Anadolu, durante viagem a Genebra. “Vemos essa tendência com bastante apreensão”.
“Não tem precedentes que um espaço como este continue fechado à mídia internacional e que toda a cobertura dependa de jornalistas locais, que são tanto civis em enorme risco como profissionais que podem ser alvejados a qualquer instante”, acrescentou.
Bruttin enfatizou que a comunidade internacional têm o dever de aplicar pressão a Israel e suas Forças Armadas para mudar suas políticas, sobretudo no que diz respeito a ataques direitos e deliberados a profissionais de imprensa.
Bruttin reconheceu indícios de que Israel não tem intenção de proteger a categoria.
“Não apenas falharam em protegê-los como nos deram boas razões para acreditar que ao menos boa parte dos cerca de 140 jornalistas mortos [em Gaza] foram atacados e mortos deliberadamente”, reiterou Bruttin, em seu comunicado.
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Sobre a narrativa israelense, observou Bruttin: “No passado, tivemos respostas pouco ou nada satisfatórias das forças israelenses, embora ainda tentassem dizer que cumpriam a lei internacional em termos de proteção da imprensa. Hoje, mentem descaradamente, ao tentar retratar as vítimas como terroristas”.
Bruttin advertiu ainda contra os esforços para silenciar a cobertura em Gaza.
Em seguida, notou a exaustão dos profissionais palestinos sob contínua ofensiva, lutando para sobreviver sob falta de água, comida e energia elétrica.
Sobre os parâmetros históricos, concluiu Bruttin: “Em tão curto tempo, penso que [a crise em Gaza] não tem precedentes. Vimos guerras no início do século XXI que também foram bastante duras e violentas. A guerra no Iraque foi um pesadelo. Estamos cientes, porém, da natureza específica do conflito em Gaza”.
Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde outubro de 2023, mediante violenta campanha de desinformação, desumanização e propaganda de guerra, com ao menos 44 mil mortos e 104 mil feridos desde então, além de dois milhões de desabrigados.
Neste entremeio, o regime israelense buscou encobrir seus crimes ao atacar diretamente jornalistas palestinos e difamar personalidades no exterior, ao ponto de declarar António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, persona non grata no Estado ocupante.
Israel age em desacato a resoluções por cessar-fogo do Conselho de Segurança, além de medidas cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, onde é réu por genocídio sob denúncia sul-africana deferida em janeiro.
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