A Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) aprovou na segunda-feira (18), em sessão extraordinária em Paris, proteção especial, em situação de conflito armado, a 34 locais de cultura no Líbano, ao requerer recursos e assistência para implementar ações de emergência.
A medida foi ratificada um dia após trezentos intelectuais emitirem uma petição a Audrey Azoulay, diretora da Unesco, para instar sua agência a salvaguardar o patrimônio libanês, sobretudo Baalbek, sob bombardeios israelenses nos últimos dois meses.
O Líbano possui seis sítios históricos classificados como Patrimônio da Humanidade pela Unesco, incluindo as ruínas romanas de Tiro e Baalbek, alvejadas por ataques recentes — agora, sob proteção especial.
Na semana passada, por exemplo, o governador de Baalbek, Bashir Khodr, confirmou que um ataque israelense atingiu uma área dentre 500 a 700 metros de distância da cidadela romana.
A petição requereu da Unesco o estabelecimento de zonas protegidas ao redor dos sítios históricos, incluindo a presença de observadores internacionais.
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Segundo a carta: “O patrimônio cultural do Líbano está em risco, sob ataques contínuos a cidades antigas como Baalbek, Tiro e Anjar — todas Patrimônios da Humanidade —, entre outros monumentos de importância histórica”.
“Sanções e processos penais, realizados por autoridades competentes, devem se aplicar nos cenários em que indivíduos deixam de respeitar o status de proteção especial cedido às localidades de cultural”, advertiram os signatários.
O status, deferido pelo órgão, designa “alto nível de imunidade de ataques militares” aos patrimônios libaneses. O intuito é antecipar os riscos e aprimorar a gestão em condições de crise, incluindo treinamento dos profissionais.
A Unesco notou também que desrespeitar as cláusulas aprovadas equivale a “violações graves” da Convenção de Haia de 1954, dando base a processos penais nas instituições relevantes, conforme o direito internacional.
Conforme a agência, especialistas operam junto de autoridades para identificar medidas necessárias, analisar condições de conservação das áreas históricas, monitorar danos, inventariar coleções e transferir — quando possível — itens a locais seguros.
A petição, que se somou à pressão das comunidades relevantes às instituições globais, é iniciativa da ong Change Lebanon, com assinatura de curadores, escritores, museólogos, historiadores, arqueólogos e artistas, não apenas do Líbano como de países como França, Itália, Reino Unido e Estados Unidos.
Desde a intensificação de sua guerra ao Líbano, em meados de setembro, forças de Israel demoliram e explodiram aldeias inteiras, ao repetir sua política de terra arrasada realizada em Gaza, onde conduz um genocídio há um ano.
Em 1º de outubro, Tel Aviv deflagrou sua invasão por terra ao Líbano — contida, até então, por combatentes do Hezbollah.
Em Gaza, são mais de 43.900 mortos, 104 mil feridos e dois milhões de desabrigados. No Líbano, são três mil mortos, 13.700 feridos e 1.3 milhão de deslocados à força, sobretudo nos últimos 45 dias.
Por suas ações no território palestino, Israel é réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro.
Ataques israelenses a sítios arqueológicos, históricos e turísticos, incluindo Patrimônios da Humanidade, tornaram-se comuns, em meio a denúncias de memoricídio.
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